16/02/2023 - 11:57
Uma pegada de quase um metro de comprimento feita por um dinossauro terópode carnívoro gigante do período Jurássico foi descoberta no condado de Yorkshire, no norte da Inglaterra, por pesquisadores britânicos, que descreveram o caso em artigo publicado na revista Proceedings of the Yorkshire Geological Society. O achado representa a maior pegada de seu tipo já encontrada em Yorkshire. Curiosamente, a pegada incomum parece capturar o momento em que o dinossauro descansou ou se agachou há cerca de 166 milhões de anos.
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A costa de Yorkshire é conhecida por produzir alguns fósseis incríveis do ponto de vista visual e científico, incluindo milhares de pegadas de dinossauros. A região é um destino popular para paleontólogos profissionais e fãs de fósseis. As pessoas vêm de longe para ver o que podem encontrar; porém, não é todo dia que se descobre uma pegada de 80 centímetros de comprimento.
Descoberta acidental
Essa pegada recorde foi encontrada pela arqueóloga local Marie Woods em abril de 2021. Andando ao longo da costa, ela encontrou esse fóssil completamente por acaso. Em sua empolgação e descrença, Marie fez contato com especialistas locais em fósseis, mas nenhum deles conhecia a trilha que ela descrevia. Em seguida, ela contatou o dr. Dean Lomax, paleontólogo afiliado à Universidade de Manchester e autor do livro Dinosaurs of the British Isles (Dinossauros das Ilhas Britânicas).
Marie, coautora do estudo, disse: “Não pude acreditar no que estava vendo, tive de olhar duas vezes. Vi algumas pegadas menores quando saí com amigos, mas nada como isso. Não posso mais dizer que ‘arqueólogos não fazem dinossauros’. Na época da descoberta, ela gerou muito interesse público e fiquei impressionada com as mensagens nas redes sociais de pessoas de todo o mundo”.
A última pegada cientificamente significativa encontrada ao longo da costa de Yorkshire é uma das seis pegadas semelhantes registradas na área, a primeira das quais foi encontrada em 1934. A pegada tridáctila (três dedos) é a maior já registrada. A impressão anterior, em exibição no Museu Rotunda, em Scarborough, foi descoberta em 2006, por John Hudson, o principal autor do novo estudo que descreve a descoberta gigante.
Geólogo local e líder da pesquisa, John Hudson disse: “Essa importante descoberta acrescenta mais evidências de que gigantes carnívoros já percorreram esta área durante o Jurássico. O tipo de pegada, combinado com sua idade, sugere que foi feito por um feroz dinossauro semelhante ao megalossauro, com uma possível altura de quadril entre 2,5 e 3 metros”. O megalossauro foi o primeiro dinossauro a ser formalmente descrito, em 1824.
Ação imediata
Após inúmeras conversas e troca de imagens, que mostraram grande fragilidade no local, ficou claro que uma ação imediata era necessária para recuperar o importante espécime da orla. Deixá-lo ali o exporia a mais erosão e danos causados pela maré ou perda total por deslizamentos de terra.
Trabalhando em conjunto, a equipe teve de agir rapidamente e providenciar para que o espécime fosse coletado com segurança e responsabilidade. O espécime foi recuperado por experientes colecionadores de fósseis, Mark, Aaron e Shae Smith, da Redcar.
À medida que a missão de resgate avançava, veio à tona que a trilha havia sido localizada cinco meses antes, pelo caçador de fósseis local e coautor do novo estudo, Rob Taylor. No entanto, no momento da descoberta inicial, a trilha não estava totalmente exposta e, portanto, toda a extensão e importância da pegada não haviam sido totalmente percebidas.
O dr. Lomax, coautor do novo estudo, disse: “Estamos incrivelmente gratos a Mark, Aaron e Shae por resgatar esse importante espécime e garantir que ele fosse salvo para a ciência. Agora que o espécime foi estudado, os planos são em movimento para que seja exibido ao público, para estimular a imaginação da próxima geração de caçadores de fósseis”.
Milhares de pegadas
Marie e Rob doaram o espécime para o Scarborough Museum and Galleries. Ele já foi examinado por John Hudson e pelo dr. Dean Lomax, com informações adicionais do dr. Mike Romano, da Universidade de Sheffield. O dr. Romano conduziu mais de 20 anos de pesquisa na costa de Yorkshire, especialmente coletando e estudando centenas de rastros de dinossauros. A equipe comparou o novo espécime com pegadas semelhantes coletadas em todo o mundo, especialmente na Europa e na América do Norte.
“A costa leste de Yorkshire é conhecida como a Costa dos Dinossauros por boas razões”, disse o dr. Romano. Um grande número de pegadas de dinossauros, variando na casa dos milhares, foi descoberto. Por isso, esse trecho do litoral é considerado um dos melhores lugares do mundo para encontrar pegadas de dinossauros. Embora documentado pela primeira vez em 1907, não foi até a década de 1980 que as descobertas começaram a ser relatadas regularmente (por amadores e geólogos profissionais). Até hoje, aproximadamente 25 tipos diferentes de pegadas foram reconhecidos.
O dr. Romano acrescentou: “Embora esses tipos diferentes não representem necessariamente o mesmo número de dinossauros diferentes, eles indicam um ecossistema diversificado de animais, incluindo carnívoros e herbívoros que percorriam a planície costeira jurássica e o complexo fluvial há cerca de 160-175 milhões de anos. As pegadas também nos permitem interpretar seu comportamento. Assim, temos registros de dinossauros andando, correndo e nadando”.
Informações sobre o comportamento
“Esta é uma descoberta maravilhosa”, afirmou o dr. Lomax. “Esse espécime não apenas representa a maior pegada de terópode encontrada em Yorkshire, mas ao estudar o ângulo da pegada, sua forma e as impressões das garras, o fóssil fornece informações sobre o comportamento desse indivíduo de cerca de 166 milhões de anos atrás. Na verdade, as características da pegada podem até sugerir que esse grande predador estava agachado antes de se levantar. É divertido pensar que esse dinossauro poderia muito bem estar passeando por uma planície costeira lamacenta numa preguiçosa tarde de domingo no Jurássico.”
A pegada agora está sob a guarda do Scarborough Museum and Galleries, e espera-se que seja exibida ao público com as outras pegadas fósseis do Rotunda Museum, assim que a conservação for concluída.