04/01/2023 - 6:49
Eventos de branqueamento de corais em massa estão tornando mais difícil para algumas espécies de peixes de recife identificar competidores, revela uma nova pesquisa.
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Cientistas que estudam recifes em cinco regiões do Indo-Pacífico descobriram que a capacidade de peixes-borboleta (da família Chaetodontidae) de identificar espécies competidoras e responder adequadamente foi comprometida após a perda generalizada de corais causada pelo branqueamento. Essa mudança significa que eles tomam decisões ruins que os deixam menos capazes de evitar brigas desnecessárias, gastando uma preciosa e limitada energia.
Os cientistas do Reino Unido, da Austrália e dos EUA por trás do estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, acreditam que essas mudanças podem ter implicações para a sobrevivência das espécies, pois o aquecimento global aumenta a probabilidade de perda de corais.
Decisões comprometidas
A drª Sally Keith, professora sênior de Biologia Marinha na Universidade de Lancaster (Reino Unido) e principal autora do estudo, disse: “Ao reconhecerem um competidor, peixes individuais podem tomar decisões sobre escalar ou recuar em uma competição – conservando energia valiosa e evitando lesões. (…) Essas regras de engajamento evoluíram para um campo de jogo específico, mas esse campo está mudando. Distúrbios repetidos, como eventos de branqueamento, alteram a abundância e a identidade dos corais – a fonte de alimento do peixe-borboleta. Ainda não está claro se esses peixes têm a capacidade para atualizar seu livro de regras rápido o suficiente para recalibrar suas decisões”.
Os pesquisadores fizeram mais de 3.700 observações de 38 espécies de peixes-borboleta em recifes antes e depois dos eventos de branqueamento de corais e compararam seus comportamentos.
Após a mortalidade de corais causada pelo evento de branqueamento, a sinalização entre peixes de diferentes espécies era menos comum, com encontros evoluindo para perseguições em mais de 90% dos casos – acima dos 72% antes do evento. Os pesquisadores também descobriram que a distância dessas perseguições aumentou após o branqueamento, com os peixes gastando mais energia afugentando os concorrentes em potencial do que teriam feito anteriormente.
Obrigação de mudar e diversificar dietas
Os pesquisadores acreditam que os distúrbios ambientais estão afetando o reconhecimento e as respostas dos peixes porque os eventos de branqueamento, nos quais muitos corais morrem, estão forçando as espécies de peixes a mudar e diversificar suas dietas e territórios. Portanto, essas mudanças ambientais em larga escala estão interrompendo relacionamentos de longa data e coevoluídos que permitem a coexistência de várias espécies de peixes.
A drª Keith afirmou: “Observando como o comportamento responde às mudanças da vida real no ambiente, e vendo que essas mudanças são as mesmas independentemente da localização, podemos começar a prever como as comunidades ecológicas podem mudar no futuro. Esses relativamente pequenos erros de cálculo sobre onde investir melhor a energia podem levá-los ao limite”.