Eventos de branqueamento de corais em massa estão tornando mais difícil para algumas espécies de peixes de recife identificar competidores, revela uma nova pesquisa.

Cientistas que estudam recifes em cinco regiões do Indo-Pacífico descobriram que a capacidade de peixes-borboleta (da família Chaetodontidae) de identificar espécies competidoras e responder adequadamente foi comprometida após a perda generalizada de corais causada pelo branqueamento. Essa mudança significa que eles tomam decisões ruins que os deixam menos capazes de evitar brigas desnecessárias, gastando uma preciosa e limitada energia.

Os cientistas do Reino Unido, da Austrália e dos EUA por trás do estudo, publicado na revista Proceedings of the Royal Society B, acreditam que essas mudanças podem ter implicações para a sobrevivência das espécies, pois o aquecimento global aumenta a probabilidade de perda de corais.

Decisões comprometidas

A drª Sally Keith, professora sênior de Biologia Marinha na Universidade de Lancaster (Reino Unido) e principal autora do estudo, disse: “Ao reconhecerem um competidor, peixes individuais podem tomar decisões sobre escalar ou recuar em uma competição – conservando energia valiosa e evitando lesões. (…) Essas regras de engajamento evoluíram para um campo de jogo específico, mas esse campo está mudando. Distúrbios repetidos, como eventos de branqueamento, alteram a abundância e a identidade dos corais – a fonte de alimento do peixe-borboleta. Ainda não está claro se esses peixes têm a capacidade para atualizar seu livro de regras rápido o suficiente para recalibrar suas decisões”.

Os pesquisadores fizeram mais de 3.700 observações de 38 espécies de peixes-borboleta em recifes antes e depois dos eventos de branqueamento de corais e compararam seus comportamentos.

Após a mortalidade de corais causada pelo evento de branqueamento, a sinalização entre peixes de diferentes espécies era menos comum, com encontros evoluindo para perseguições em mais de 90% dos casos – acima dos 72% antes do evento. Os pesquisadores também descobriram que a distância dessas perseguições aumentou após o branqueamento, com os peixes gastando mais energia afugentando os concorrentes em potencial do que teriam feito anteriormente.

Obrigação de mudar e diversificar dietas

Os pesquisadores acreditam que os distúrbios ambientais estão afetando o reconhecimento e as respostas dos peixes porque os eventos de branqueamento, nos quais muitos corais morrem, estão forçando as espécies de peixes a mudar e diversificar suas dietas e territórios. Portanto, essas mudanças ambientais em larga escala estão interrompendo relacionamentos de longa data e coevoluídos que permitem a coexistência de várias espécies de peixes.

A drª Keith afirmou: “Observando como o comportamento responde às mudanças da vida real no ambiente, e vendo que essas mudanças são as mesmas independentemente da localização, podemos começar a prever como as comunidades ecológicas podem mudar no futuro. Esses relativamente pequenos erros de cálculo sobre onde investir melhor a energia podem levá-los ao limite”.