17/07/2021 - 9:49
Entre as grandes incógnitas que cercam a pandemia de covid-19, estão os casos assintomáticos. O que impede que certos indivíduos desenvolvam patologias após se contagiarem com o novo coronavírus? Seus casos contêm conclusões que possam ser úteis aos demais pacientes?
Contudo ser assintomático talvez não seja sempre uma bênção. O estudo Gutenberg Covid-19 da Universidade de Medicina de Mainz, Alemanha, se ocupa não só dos efeitos diretos da pandemia, mas seu impacto maior sobre a saúde pública.
Uma de suas constatações é que o número de casos não identificados seria bem maior de que se pensava. E estes também podem estar sujeitos a complicações tardias e duradouras da infecção original, em parte graves – a assim chamada “covid longa”.
A DW entrevistou o chefe do projeto Gutenberg Covid-19, o professor de epidemiologia clínica da Universidade de Mainz Philipp Wild, sobre essa nova vertente de investigação sobre a pandemia:
“Voltamos a ter grandes eventos públicos, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. Estamos nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de covid longa.”
DW: Como o senhor e sua equipe determinaram que mais de 40% da população da Alemanha não se dá conta de que tem covid-19?
Philipp Wild: Selecionamos uma amostra de voluntários proporcional à população alemã e lhes perguntamos se haviam tido uma infecção com o novo coronavírus com distância de dois, quatro meses. Fizemos com eles um teste de PCR, e medimos seus anticorpos, os quais indicam se houve uma infecção, independente de a pessoa ter sido vacinada.
E vocês acompanharam mais de 10 mil voluntários por um período de seis meses.
Exato. A maioria dos casos não conhecidos era entre os os mais idosos: 63%, ou quase dois terços, dos participantes maiores de 75 anos. Entre os de 25 a 30 anos, só um terço tivera infecções não detectadas.
Então está na hora de difundir os autotestes, não só para cada um ver se está infectado, mas também para saber se teve covid-19 no passado?
Sem dúvida, é uma boa ideia passar a testar melhor a população, sobretudo agora, que estamos relaxando as medidas preventivas. Voltamos a ter grandes eventos públicos, como a recente Eurocopa do futebol, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. E os vacinados também devem ser testados, porque podem contagiar quem ainda não foi inoculado.
Mas também constatamos que ainda precisamos determinar quais anticorpos precisamos medir nos indivíduos. A maioria só apresenta certos tipos, então temos que aprender quais deles procurarmos, pois só aí será possível fazer uma triagem de longo prazo da covid-19.
Quantos desses casos não detectados podem ser “covid longa”?
É uma questão debatida. Ainda a estamos investigando no nosso estudo, e vai ser preciso um pouco mais de tempo, pois a definição de “covid longa” é seis meses após a infecção original. Mas o que sabemos é que, dos casos conhecidos, 10% desenvolvem covid-19 de longo prazo, e que em 10% destes – ou 1% do total – se trata de uma forma severa. Agora precisamos entender quantos dos casos assintomáticos são capazes de desenvolver a forma longa.
Há razão para se temer que, em jovens que tiveram covid-19 sem saber, os órgãos foram danificados, mas isso só vá ser constatado anos depois?
De fato, é o que tememos. Estamos nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de covid longa. Mas ainda é uma questão de pesquisa, tudo o que estamos fazendo agora ainda é especulativo. Precisamos compilar mais dados para estarmos seguros de como abordar esses casos e identificá-los.
Mas, sim, o nosso temor é que, mesmo após infecções assintomáticas ou brandas, alguns pacientes estejam arriscados de desenvolver covid de longo prazo.