Pedro Castillo e Martín Vizcarra foram sentenciados pela Justiça peruana nesta semana. O primeiro por tentativa de golpe. O segundo, por corrupção. País soma cinco ex-presidentes presos nos últimos anos.A Justiça do Peru condenou nesta semana dois ex-presidentes do país à prisão: Pedro Castillo (2021-2022) e Martín Vizcarra (2018-2020). O primeiro foi sentenciado a 14 anos de prisão por corrupção passiva. O segundo, recebeu pena de 11 anos por conspiração e rebelião.

A sentença de Castillo, que está preso desde 2022 quando dissolveu o Congresso para tentar impedir um afastamento pelos parlamentares, foi anunciada na quinta-feira (27/11). À época, a ação de Castillo foi encarada como uma tenativa de autogolpe.

Já Vizcarra foi considerado culpado um dia antes. Ele foi acusado de ter recebido cerca de 700 mil dólares (3,7 milhões de reais) em suborno de licitações na região de Moquega, entre 2011 e 2014, período nmo qual foi governador entre 2011 e 2014. Em 2020, Vizcarra havia perdido o cargo de presidente após sofrer impeachment por “incapacidade moral”.

Castillo e Vizcarra, agora se somam a três outros ex-presidentes do Peru que já foram condenados pela Justiça: Alberto Fujimori (1990-2000), Alejandro Toledo (2001-2006) e Ollanta Humala (2011-2016).

Além deles, Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), Francisco Sagasti (2020-2021) e Dina Boluarte (2022-2025) enfrentam processos. Já Alan Garcia (1985-1990 e 2006-2011) cometeu suicídio em 2019, quando estava prestes a ser preso.

Em agosto, Vizcarra chegou a se juntar a Toledo, Humala e Castillo (preso desde 2022) no presídio de Barbadillo, também conhecido pela alcunha de “Prisão Presidencial”. Vizcarra permaneceu 22 dias preso. Naquele mês, o Peru somou quatro ex-presidentes detidos ao mesmo tempo.

Desde o fim da ditadura militar no Peru, em 1980, apenas 4 dos 11 políticos que cumpriram mandatos à frente da Presidência do país não enfrentaram problemas com a Justiça após deixarem o cargo.

O caso Castillo

Ex-professor de uma escola na região rural peruana e sindicalista, Castillo, de 56 anos, chegou ao poder em 2021 se autodeclarando o primeiro “presidente dos pobres” no país. Sem conseguir maioria para formar um governo, o político de esquerda sofreu impeachment pelo Congresso, sob acusação de corrupção, apenas um ano e quatro meses após ter assumido o cargo.

Para tentar barrar a perda do mandato, Castillo dissolveu o Congresso logo em seguida, mas a medida, encarada como um autogolpe, foi impedida por membros do próprio governo dele. No julgamento nesta semana, a Suprema Corte peruana reconheceu os crimes de “conspiração por rebelião” contra “poderes do Estado e da ordem constitucional”.

Castillofoi condenado a 11 anos, cinco meses e 15 dias de prisão. A Promotoria pedia uma sentença de 34 anos. O ex-presidente foi detido, ainda no fim de 2022, a caminho da Embaixada do México, onde tentaria asilo político.

A ex-primeira-ministra de Castillo, Betssy Chavez, também foi condenada nessa quinta a 11 anos e meio de prisão. Chavez, no entanto, conseguiu asilo na Embaixada mexicana ainda durante a tramitação do processo por tentativa de golpe.

Castillo foi sucedido por sua vice, Dina Boluarte, que se manteve no cargo por menos de dois anos em um governo marcado por crises, investigações por corrupção e protestos frequentes antes de sofrer impeachment em 10 de outubro deste ano por “incapacidade moral permanente”.

Desde então, o país vem sendo governado interinamente pelo presidente do Congresso, José Jeri. As próximas eleições presidenciais do Peru estão marcadas para 12 de abril de 2026. O último presidente peruano a cumprir um mandato foi Ollanta Humala, que deixou o cargo me 2016 – ele foi condenado em abril a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro.

Vizcarra promete “vingança”

Martín Vizcarra, que em agosto chegou a ser preso preventivamente por três semanas, governou o Peru entre 2018 até 2020, quando foi afastado em meio a um processo de impeachment.

Sua condenação na quarta-feira envolve uma acusação de crime de suborno passivo que abrange o período em que Vizcarra era governador regional de Moquegua (2011-2014) e posteriormente vice-presidente do Peru (2016-2018).

Em uma audiência pública, o magistrado leu a resolução depois da argumentação do procurador Germán Juárez, que acusou Vizcarra de receber um pagamento de 2,3 milhões de sóis (US$ 611 mil) em propinas por parte de empresas contratadas para obras de irrigação, além de 1,8 milhão de sóis (US$ 510 mil) durante a ampliação de um hospital.

Antes de ser preso em agosto, Martín Vizcarra vinha tentando recorrer à Justiça para reverter três condenações que determinaram sua inelegibilidade por um período de dez anos. Ele vinha manifestando interesse em concorrer nas eleições presidenciais peruanas de 2026.

Após a condenação, Vizcarra se pronunciou nesta semana pelas redes sociais e prometeu se vingar dos seus adversários políticos. “Me condenaram por combater os mafiosos. Não é justiça, é vingança”, afirmou ele, na rede social X.

O ex-presidente peruano condenado a 14 anos de prisão também pediu votos ao seu irmão, Mario Vizcarra nas eleições de 2026. Mesmo condenado, Martín Vizcarra figura em terceiro nas pesquisas Ipsos de intenções de voto para a corrida eleitoral do ano que vem pelo partido Peru Primeiro, de orientação centro-esquerdista. No entanto, ele empata tecnicamente com Rafael López Aliaga e Keiko Fujimori – todos com menos de 10%.

“Meu irmão Mario Vizcarra continuará essa luta por vocês. O Peru vem em primeiro e nada poderá silenciá-lo”, completou o ex-presidente.

fcl (dpa, Reuters, EFE, afp)