21/09/2022 - 13:00
Passamos um terço de nossas vidas dormindo. E um quarto do nosso tempo dormindo é gasto sonhando. Assim, para a pessoa média viva em 2022, com uma expectativa de vida de cerca de 73 anos, isso equivale a pouco mais de seis anos de sonhos.
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No entanto, dado o papel central que o sonho desempenha em nossas vidas, ainda sabemos muito pouco sobre por que sonhamos, como o cérebro cria sonhos e, mais importante, qual o significado de nossos sonhos para nossa saúde – especialmente a saúde de nossos cérebros. .
Meu último estudo, publicado na revista eClinicalMedicine do The Lancet, mostra que nossos sonhos podem revelar uma quantidade surpreendente de informações sobre nossa saúde cerebral. Mais especificamente, mostra que ter sonhos ruins e pesadelos (sonhos ruins que fazem você acordar) frequentes durante a meia-idade ou a velhice pode estar associado a um risco aumentado de desenvolver demência.
Declínio cognitivo
No estudo, analisei dados de três grandes pesquisas americanas sobre saúde e envelhecimento. Estes incluíram mais de 600 pessoas com idades entre 35 e 64 anos e 2.600 pessoas com 79 anos ou mais.
Todos os participantes não apresentavam demência no início do estudo e foram acompanhados por uma média de nove anos para o grupo de meia-idade e cinco anos para os participantes mais velhos.
No início do estudo (2002-12), os participantes preencheram uma série de questionários, incluindo um que perguntou com que frequência eles tiveram sonhos ruins e pesadelos.
Analisei os dados para descobrir se os participantes com maior frequência de pesadelos no início do estudo eram mais propensos a sofrer declínio cognitivo (um declínio rápido na memória e nas habilidades de pensamento ao longo do tempo) e serem diagnosticados com demência.
Pesadelos semanais
Descobri que os participantes de meia-idade que experimentavam pesadelos todas as semanas tinham quatro vezes mais chances de sofrer declínio cognitivo (um precursor da demência) na década seguinte, enquanto os participantes mais velhos tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticados com demência.
Curiosamente, a conexão entre pesadelos e demência futura era muito mais forte para os homens do que para as mulheres. Por exemplo, homens mais velhos que tinham pesadelos toda semana eram cinco vezes mais propensos a desenvolver demência em comparação com homens mais velhos que não relataram pesadelos. Nas mulheres, no entanto, o aumento do risco foi de apenas 41%. Encontrei um padrão muito semelhante no grupo de meia-idade.
No geral, esses resultados sugerem que pesadelos frequentes podem ser um dos primeiros sinais de demência, que podem preceder o desenvolvimento de problemas de memória e pensamento em vários anos ou até décadas – especialmente em homens.
Alternativamente, também é possível que ter sonhos ruins e pesadelos regulares possa até ser uma causa de demência.
Dada a natureza desse estudo, não é possível ter certeza de qual dessas teorias está correta (embora eu suspeite que seja a primeira). No entanto – independentemente de qual teoria seja verdadeira –, a principal implicação do estudo permanece a mesma, ou seja, ter sonhos ruins e pesadelos regulares durante a meia-idade e a velhice pode estar associado a um risco aumentado de desenvolver demência mais tarde na vida.
Problema tratável
A boa notícia é que pesadelos recorrentes são tratáveis. E o tratamento médico de primeira linha para pesadelos já demonstrou diminuir o acúmulo de proteínas anormais ligadas à doença de Alzheimer. Também houve relatos de casos mostrando melhorias nas habilidades de memória e pensamento após o tratamento de pesadelos.
Essas descobertas sugerem que o tratamento de pesadelos pode ajudar a retardar o declínio cognitivo e prevenir o desenvolvimento de demência em algumas pessoas. Este será um importante caminho a ser explorado em pesquisas futuras.
Os próximos passos da minha pesquisa incluirão investigar se os pesadelos em jovens também podem estar ligados ao aumento do risco de demência. Isso pode ajudar a determinar se os pesadelos causam demência ou se são simplesmente um sinal precoce em algumas pessoas. Pretendo ainda investigar se outras características dos sonhos, como a frequência com que nos lembramos de nossos sonhos e quão vívidos eles são, também podem ajudar a determinar a probabilidade de as pessoas desenvolverem demência no futuro.
Esta pesquisa pode não apenas ajudar a esclarecer a relação entre demência e sonhar, e fornecer novas oportunidades para diagnósticos precoces – e possivelmente intervenções precoces –, mas também pode lançar nova luz sobre a natureza e a função do fenômeno misterioso que chamamos de sonho.
* Abidemi Otaiku é pesquisador do National Institute for Reproductive Health na Universidade de Birmingham (Reino Unido).
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.