15/04/2019 - 13:59
Análises mostram que o gelo do mundo está desaparecendo rapidamente. O derretimento das geleiras está expondo artefatos antigos, cadáveres congelados, vírus mortos há muito tempo e cargas de gases de efeito estufa que estavam aprisionados no gelo.
Uma nova pesquisa global em andamento acrescentou um novo item a essa lista: precipitação nuclear. É o que mostra uma reportagem do site Live Science.
Em um levantamento recente de geleiras ao redor do mundo, uma equipe internacional de cientistas descobriu níveis elevados de radionuclídeos radioativos – átomos radioativos que resultam de acidentes nucleares e testes de armas – em todas as geleiras estudadas.
Segundo a pesquisadora Caroline Clason, professora da Universidade de Plymouth em geografia física, o objetivo do estudo é mostrar que esta é uma questão global e não apenas localizada perto de fontes de contaminação nuclear. As descobertas foram apresentadas na conferência da União Européia de Geociências (EGU) na quarta-feira (10).
A boa notícia é que esses contaminantes nucleares provavelmente não representam uma ameaça imediata ao meio ambiente. No entanto, Clason disse que os contaminantes na maioria dos locais foram encontrados em níveis significativamente mais altos do que o que é considerado seguro para a ingestão humana. Estes contaminantes podem entrar na cadeia alimentar, à medida que as geleiras continuam a derreter nos rios, lagos e mares, devido às alterações climáticas.
Para a pesquisa, Clason e seus colegas procuraram por contaminantes nucleares em crioconita, uma camada de sedimentos escuros encontrados na superfície de muitas geleiras ao redor do mundo.
Ao contrário dos sedimentos comuns, a crioconita é composta de material inorgânico (como minerais de rocha) e material orgânico. As partes orgânicas podem incluir o “carbono negro” ou as sobras da combustão incompleta de combustíveis fósseis, fungo, matéria vegetal e micróbios. Isso faz da crioconita uma “esponja” muito eficiente para os contaminantes transportados pelo ar que caem nas geleiras com neve e chuva. Ainda mais contaminantes acumulam-se na crioconita à medida que o clima se aquece e a água suja do derretimento atravessa as geleiras.
“Estes são alguns dos níveis mais altos que você vê fora das zonas de explosão nuclear”, disse Clason em sua apresentação na EGU.
Enquanto alguns dos radionuclídeos detectados, como o chumbo-210, ocorrem naturalmente no ambiente, dois isótopos, em particular, podem ser rastreados diretamente para atividades nucleares humanas.
O amerício-241, um isótopo radioativo que é produzido como decaimento de plutônio, foi encontrado em muitos locais de geleiras em quantidades que poderiam ser perigosas para a saúde humana se ingeridas. E o césio-137, um isótopo produzido durante explosões nucleares, foi encontrado em todos os 17 locais em quantidades de dezenas a centenas de vezes superiores aos níveis de fundo esperados.
Esses subprodutos nucleares provavelmente foram depositados pela explosão da usina nuclear de Chernobyl em 1986, disseram os pesquisadores.
De acordo com Clason, as pessoas sabiam que o césio-137 estava no ambiente depois de Chernobyl, mas não que as geleiras ainda estão liberando isso continuamente.
Onde eles estão atualmente, esses contaminantes não representam qualquer ameaça conhecida para os seres humanos ou o meio ambiente. O medo é que eles possam representar uma ameaça caso se espalhem através da água derretida para rios e lagos, onde os animais comem e bebem.
Há algum precedente histórico para essas preocupações. Veados selvagens, javalis e ursos na Europa e na Ásia exibiram níveis elevados de césio radioativo após o desastre de Chernobyl. E, recentemente, em 2016, dezenas de milhares de renas foram consideradas impróprias para se comer na Suécia, devido a preocupações semelhantes sobre a radiação de césio.
Em seguida, os pesquisadores querem descobrir se os contaminantes nucleares estão ligados a minerais em crioconita ou a componentes orgânicos, o que tornaria os radionuclídeos muito mais prontamente disponíveis para absorção na cadeia alimentar.