03/09/2025 - 15:32
Um grupo de pesquisadores apontou que os restos mortais de uma criança de três a cinco anos de idade encontrados na caverna Shkul, em Israel — onde humanos pré-históricos mortos foram enterrados há 140 mil anos — possuía características de neandertais e de Homo sapiens. O estudo foi publicado na edição de julho-agosto do periódico “L’Anthropologie”. As informações são da “CNN Science”.
+ Estudo sugere que gene deu aos humanos vantagem competitiva sobre os neandertais
+ Autismo pode ser uma herança dos neandertais, sugere novo estudo
Os seres humanos e os neandertais têm ancestrais em comum que vieram da África, mas divergiram há cerca de 500 mil anos. Os Homo neanderthalensis surgiram na Ásia e Europa 400 mil anos atrás, enquanto o Homo sapiens se originou na África 100 mil anos depois, migrando posteriormente para outros continentes.
Fora da África, as duas populações se misturaram e cruzaram até o Homo neanderthalensis ser extinto, há aproximadamente 40 mil anos. É especulado que, atualmente, a maior parte dos humanos com ancestrais que vieram da Ásia e da Europa tenham entre 1% a 4% de DNA neandertal.
Análises do genoma humano e de neandertais sugerem que as duas espécies cruzaram e tiveram descendentes entre 50,5 mil e 43,5 mil anos atrás. Entretanto, as descobertas sugeridas pelo recente estudo indicam que essa mistura genética ocorreu 100 mil anos antes.
A pesquisa analisou ossos achados na caverna Shkul, descoberta em 1928 e onde foram encontrados os restos mortais de mais de uma dúzia de indivíduos.
O sítio arqueológico é um dos exemplos mais antigos de práticas funerárias entre humanos, mas os pesquisadores do século passado ficaram intrigados porque alguns dos esqueletos apresentavam características de Homo sapiens e de neandertais.
Um dos restos mortais pertencia a uma criança que viveu há 140 mil anos, provavelmente uma menina. Com o uso equipamentos de alta resolução, cientistas analisaram o crânio e a mandíbula da garota, identificando traços de neandertais e de humanos.
A pesquisa contou com a participação de pesquisadores da França e de Israel que usaram microtomografias computadorizadas para conseguir imagens dos ossos da criança. Posteriormente, as estruturas foram modeladas digitalmente em 3D.
De acordo com o estudo, a área ao redor do crânio da menina era compatível com a de um Homo sapiens, mas estruturas do ouvido interno, rede de vasos sanguíneos e dos dentes se assemelhavam com a anatomia dos neandertais.
Segundo Israel Hershkovitz, autor do estudo e professor da Faculdade Gray de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade de Tel Aviv, a descoberta pode ser o mais antigo registro de cruzamento entre as duas espécies já encontrado e indica que neandertais e Homo sapiens coexistiram pacificamente na região do Levante há milhares de anos.
“Você poderia pensar que esses são dois grupos Homo considerados populações concorrentes. De repente, você vê que eles conseguiram viver juntos, lado a lado”, pontuou Hershkovitz.
O autor do estudo comentou que, na caverna Shkul, foram enterrados esqueletos de sete adultos e três crianças — além de ossos isolados de outros indivíduos — todos com uma combinação diferente da característica de humanos e neandertais.
Apesar das descobertas, é preciso cautela para interpretar as informações do estudo como evidências da hibridização entre Homo sapiens e Homo neanderthalensis, já que características anatômicas podem ser mais ambíguas que dados genéticos e moldadas por fatores como o histórico de vida de um indivíduo.