31/03/2023 - 13:20
Pela primeira vez no mundo, pesquisadores gravaram e analisaram sons distintamente emitidos por plantas. Os sons do tipo clique, semelhantes ao estouro da pipoca, são emitidos em um volume semelhante ao da fala humana, mas em altas frequências, além do alcance da audição do ouvido humano. O estudo sobre a descoberta foi publicado na revista Cell.
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“Descobrimos que as plantas geralmente emitem sons quando estão sob estresse, e que cada planta e cada tipo de estresse está associado a um som específico identificável”, afirmaram os pesquisadores, da Universidade de Tel Aviv (Israel). “Embora imperceptíveis ao ouvido humano, os sons emitidos pelas plantas provavelmente podem ser ouvidos por vários animais, como morcegos, ratos e insetos.”
O estudo foi liderado pela profª Lilach Hadany, da Escola de Ciências Vegetais e Segurança Alimentar da Faculdade Wise de Ciências da Vida, juntamente com o prof. Yossi Yovel, diretor da Escola Sagol de Neurociência e docente da Escola de Zoologia e do Museu Steinhardt de História Natural, e os estudantes de pesquisa Itzhak Khait e Ohad Lewin-Epstein, em colaboração com pesquisadores da Escola Raymond e Beverly Sackler de Ciências Matemáticas, do Instituto de Pesquisa de Safras de Cereais e da Escola Sagol de Neurociência, todos na Universidade de Tel Aviv
Debate de vários anos
“De estudos anteriores, sabemos que os vibrômetros ligados às plantas registram vibrações”, disse a profª Hadany. “Mas essas vibrações também se tornam ondas sonoras transportadas pelo ar – ou seja, sons que podem ser registrados a distância? Nosso estudo abordou esta questão, que os pesquisadores vêm debatendo há muitos anos.”
Na primeira etapa do estudo, os pesquisadores colocaram as plantas em uma caixa acústica em um porão silencioso e isolado, sem ruído de fundo. Microfones ultrassônicos gravando sons em frequências de 20-250 kilohertz (a frequência máxima detectada por um humano adulto é de cerca de 16 kilohertz) foram colocados a uma distância de cerca de 10 centímetros de cada planta. O estudo concentrou-se principalmente nas plantas de tomate e tabaco, mas também foram registrados trigo, milho, palma forrageira e Lamium amplexicaule.
“Antes de colocar as plantas na caixa acústica, nós as submetemos a vários tratamentos: algumas plantas não eram regadas havia cinco dias, outras tinham o caule cortado e outras não eram tocadas”, contou a profª Hadany. “Nossa intenção era testar se o as plantas emitem sons e se esses sons são afetados de alguma forma pela condição da planta. Nossas gravações indicaram que as plantas em nosso experimento emitiram sons em frequências de 40 a 80 kilohertz. As plantas não estressadas emitiram menos de um som por hora, em média, enquanto as plantas estressadas – desidratadas e feridas – emitiam dezenas de sons a cada hora.”
As gravações coletadas dessa maneira foram analisadas por algoritmos de aprendizado de máquina (inteligência artificial) especialmente desenvolvidos. Os algoritmos aprenderam a distinguir entre diferentes plantas e diferentes tipos de sons e, finalmente, foram capazes de identificar a planta e determinar o tipo e o nível de estresse das gravações.
Controvérsia resolvida
Além disso, os algoritmos identificaram e classificaram os sons das plantas mesmo quando elas foram colocadas em uma estufa com muito ruído de fundo. Na estufa, os pesquisadores monitoraram plantas submetidas a um processo de desidratação ao longo do tempo e constataram que a quantidade de sons que emitiam aumentava até certo pico e depois diminuía.
A profª Hadany observou: “Neste estudo, resolvemos uma controvérsia científica muito antiga: provamos que as plantas emitem sons! Nossas descobertas sugerem que o mundo ao nosso redor está cheio de sons de plantas e que esses sons contêm informações – por exemplo, sobre a escassez de água ou ferimentos. Assumimos que na natureza os sons emitidos pelas plantas são detectados por criaturas próximas, como morcegos, roedores, vários insetos e possivelmente também outras plantas – que podem ouvir as altas frequências e obter informações relevantes. Acreditamos que os humanos podem também utilizam essas informações, com as ferramentas certas – como sensores que informam aos produtores quando as plantas precisam ser regadas. Aparentemente, um campo idílico de flores pode ser um lugar bastante barulhento. Só que não podemos ouvir os sons!”
Em estudos futuros, os pesquisadores continuarão a explorar uma série de questões intrigantes envolvendo o tema. Alguns exemplos: qual é o mecanismo por trás dos sons das plantas? Como as mariposas detectam e reagem aos sons emitidos pelas plantas? Outras plantas também ouvem esses sons? E mais…