Nas montanhas do sul do Brasil, um pontinho laranja de pouco mais de um centímetro, o Brachycephalus lula, foi descrito por pesquisadores brasileiros. O novo sapinho-abóbora foi encontrado na Serra do Quiriri, em Santa Catarina, a mais de 750 metros de altitude.

A identificação ocorreu após sete anos de expedições voltadas ao mapeamento de espécies do gênero Brachycephalus na região. Apesar da coloração vibrante, encontrar a espécie não é uma tarefa simples.

+ Pesquisadores encontram fóssil de jovem que sobreviveu a ferimentos de leão há 6 mil anos

O que guiou os pesquisadores até o anfíbio não foi a cor, mas o canto. Os machos, raramente visíveis, foram encontrados pelo coaxar rápido e quase metálico emitido ao longo do dia e perceptível apenas a curta distância.

No laboratório, uma comparação da genética, osteologia e bioacústica permitiu separar B. lulai, restrito a uma área de apenas 8 km² na encosta sudeste da Serra do Quiriri, de suas espécies-irmãs: B. auroguttatus e B. quiririensis, que também habitam a região.

A nova espécie recebeu o nome em homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Com esta homenagem, buscamos incentivar a expansão de iniciativas de conservação voltadas para a Mata Atlântica como um todo e, em particular, para as rãs-miniaturizadas altamente endêmicas do Brasil”, escrevem Marcos Bornschein, pesquisador da Universidade Estadual Paulista, e seus colegas em seu artigo publicado.

O que o sapinho revela sobre a Mata Atlântica

Embora viva em uma área incrivelmente pequena, o B. lulai não apresenta, por ora, sinais de ameaça. O habitat onde vive está relativamente preservado e, por isso, sua situação foi classificada como “pouco preocupante” pelos autores. Mas, ao redor dele, o cenário é outro: Santa Catarina detém várias espécies de anfíbios ameaçadas.

A região sofre com forte pressão humana: queimadas, gado, turismo desordenado, extração mineral e avanço de espécies invasoras. Fatores que fazem com que outras espécies de rãs estejam criticamente ameaçadas de extinção na região.

A preservação ambiental 

Diante da concentração de espécies ameaçadas, os pesquisadores defendem a criação do RSF (Refúgio de Vida Silvestre) Serra do Quiriri, uma unidade de conservação que protegeria B. lulai e seus parentes, além de espécies como Melanophryniscus biancae. Por ser um RSV, sua implementação não exigiria a desapropriação imediata de terras privadas.

O desafio, porém, é duplo: falta financiamento para pesquisas de campo e o acesso às montanhas exige abrir quilômetros de trilhas em florestas fechadas. “Espera-se que uma amostragem adicional de espécies de Brachycephalus melhore significativamente nossa compreensão da variação intraespecífica, além de contribuir para a revisão dos limites das espécies”, explicam os autores.