27/08/2025 - 17:28
Um estudo recente publicado no Journal of Immunology revelou que uma proteína secretada por parasitas intestinais é capaz de bloquear a dor em humanos ao inibir a atividade de neurônios sensoriais que expressam o receptor TRPV1+. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de novos analgésicos não-opioides.
Um dos parasitas em questão, Heligmosomoides polygyrus, produz uma molécula chamada HpARI. Esta proteína se liga à interleucina-33 (IL-33), um mediador inflamatório importante na ativação de terminações nervosas responsáveis por transmitir sinais de dor. Ao neutralizar o mediador, a HpARI impede a sensibilização dos neurônios TRPV1+, que são fundamentais na detecção de estímulos dolorosos como calor e inflamação.
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O receptor TRPV1+ (receptor potencial transitório vaniloide 1) já é bem conhecido por sua função na dor aguda e crônica, especialmente em condições inflamatórias. A novidade do estudo está em demonstrar que a diminuição desse canal por uma proteína de parasita pode ser feita de forma natural e eficaz – sem os efeitos colaterais comuns de analgésicos tradicionais.
Nos testes com camundongos, a aplicação da proteína HpARI reduziu significativamente respostas dolorosas induzidas por alérgenos e agentes inflamatórios. Isso ocorreu especificamente nos neurônios TRPV1+, sugerindo que essa via poderia ser explorada de forma direcionada para tratar dores crônicas sem afetar outras funções neurológicas.
Além da relevância para o alívio da dor, o achado reforça o potencial terapêutico de moléculas derivadas de parasitas, tradicionalmente vistos apenas como patógenos.
“Parasitas evoluíram por milhões de anos para manipular o sistema imunológico do hospedeiro. Podemos aprender com essas estratégias para desenvolver novos medicamentos”, apontam os autores.
A pesquisa ainda está em estágio pré-clínico, mas já desperta interesse na indústria farmacêutica por oferecer uma alternativa promissora ao uso de opioides, cujos riscos de dependência e efeitos colaterais vêm sendo amplamente debatidos.