Um projeto lançado em 2023 no México por uma parceria entre universidades e a Comissão de Busca de Jalisco utiliza porcos enterrados e drones para identificar sinais de como corpos humanos se decompõem para auxiliar nas buscas por desaparecidos. O país teve uma alta no número de pessoas que sumiram após o estabelecimento de um combate intenso contra os cartéis iniciado em 2006 pelo então presidente Felipe Calderón. As informações são da “Associated Press”.

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O combate ao crime organizado levou à fragmentação dos cartéis e a multiplicação da violência em disputas por controle de território. Por consequência, o número de desaparecimentos no país também aumentou. Dados oficiais de 2013 contabilizaram 26 mil pessoas que sumiram no México, mas uma contagem recente ultrapassa 130 mil, mais que qualquer nação latino-americana.

O estado de Jalisco, que serve de base para o CJNG (Cartel de Jalisco Nova Geração), tem 15,5 mil desaparecidos, o número mais alto do México. Em março, fragmentos de ossos humanos e centenas de peças de roupas foram encontradas na região, mas as autoridades negaram que se tratava de uma vala comum.

Foi pensando nos desaparecidos de Jalisco que a Universidade de Gudalajara, a Universidade Nacional Autônoma do México e a Universidade de Oxford, na Inglaterra, juntas da Comissão de Busca estadual que ajuda familiares a encontrarem pessoas que sumiram, fizeram um projeto com porcos e drones para conseguir encontrar sinais de onde uma pessoa pode ter sido enterrada.

Os porcos compartilham 98% do DNA dos seres humanos, além de também terem semelhanças físicas, como distribuição de gordura e espessura da pele, segundo a Biblioteca Nacional dos EUA.

Na pesquisa, carcaças de porcos foram vestidas com roupas, embrulhadas em fita adesiva, cortadas, queimadas, colocadas em sacos plásticos ou cobertas com cal antes de serem enterradas sozinhas ou em grupo.

Posteriormente, pesquisadores usaram um drone equipado com uma câmera hiperespectral — geralmente usadas por mineradoras e capazes de medir a luz refletida por substâncias no solo como fósforo, nitrogênio e potássio — para sobrevoar o “cemitério” de porcos, visualizando a decomposição dos animais.

Para os cientistas, as imagens observadas podem oferecer pistas sobre o que procurar na busca por locais onde corpos foram enterrados.

Drones térmicos e scanners a laser também são utilizados para registrar movimentos subterrâneos e correntes elétricas. Uma das “sepulturas” possui um painel de acrílico transparente que permite aos cientistas verem como os cadáveres de porcos se decompõem em tempo real.

A Comissão de Busca de Jalisco também observa o microecossistema — as moscas, besouros, plantas e o solo — recuperado de locais onde corpos de humanos foram encontrados e onde os porcos foram enterrados.

Algumas substâncias usadas por criminosos em corpos, como o cal, são facilmente detectáveis, mas hidrocarbonetos, ácido clorídrico e carne queimada não.

Na maior parte das vezes, desaparecidos são encontrados por entes queridos. Desde 2007, seis mil sepulturas clandestinas foram encontradas e novas descobertas são frequentes. Dezenas de milhares de restos mortais seguem sem identificação.

Apesar da pesquisa ainda não ter sido concluída, a Comissão de Busca de Jalisco já emprega drones térmicos para ajudar na busca por desaparecidos. Entretanto, é incerto se as autoridades mexicanas estarão dispostas a usar ou terão condições de arcar com os custos desses recursos de alta tecnologia.