07/03/2016 - 17:52
A maioria dos países, independentemente do seu nível de renda, agora vê a pesquisa e a inovação como chaves para promover o crescimento econômico sustentável e favorecer seu desenvolvimento. Essa é uma das conclusões do Relatório de Ciência da Unesco: rumo a 2030, lançado na sede da organização no Dia Mundial da Ciência, em 10 de novembro de 2015.
A primeira lição do relatório é que, apesar da crise econômica que atingiu os países industrializados em 2008, o investimento interno bruto em pesquisa e desenvolvimento (P&D) no mundo passou de US$ 1,132 bilhão em 2007 para US$ 1,478 bilhão em 2013, um aumento de 31%. Essa evolução foi mais rápida do que o do produto interno bruto (PIB) mundial no mesmo período (20%).
Os Estados Unidos fazem 28% do investimento global em pesquisa e desenvolvimento (P&D), seguidos por China (20%), União Europeia (19%) e Japão (10%). O resto do mundo representa 67% da população mundial, mas somente 23% do investimento em P&D. Entretanto, o investimento em pesquisa em países como Brasil, Índia e Turquia cresce rapidamente.
O aumento nos investimentos em P&D deve-se sobretudo ao setor privado, que tem compensado o congelamento ou a redução de gastos públicos em países industrializados como Itália, Reino Unido e França. Essa tendência é nítida no Canadá, onde a participação de mercado mundial em investimentos em P&D caiu de 2,1% em 2007 para 1,5% em 2013.
Para os autores do relatório, a pesquisa básica não apenas gera novos conhecimentos como contribui com a qualidade da educação superior. Em longo prazo, o equilíbrio do financiamento entre pesquisa aplicada e pesquisa básica pode também afetar a velocidade de disseminação do conhecimento.
A Revolução Verde, iniciada nos anos 1950 e que possibilitou um aumento substancial nas colheitas mundiais, atraiu quase todas as pesquisas de laboratórios do setor público e das universidades. O cenário é diferente hoje, com os avanços da genética e da biotecnologia, em grande parte gerados por empresas privadas, que protegem muito mais seus conhecimentos.
Investimentos crescentes
Os investimentos globais em P&D têm aumentado apesar da crise econômica, sobretudo por serem identificados como um fator-chave na promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento. Em consequência, muitos países, independentemente de seu tamanho ou renda, agora veem a pesquisa e a inovação como um caminho para se manter em um mundo altamente competitivo ou para encontrar seu lugar nele. O Quênia, por exemplo, dedicou 0,79% de seu PIB a P&D em 2010 comparado a 0,36% em 2007.
O contexto de aumentar o investimento em P&D e em tecnologias e promover o desenvolvimento sustentável são prioridades emergentes para vários países, que se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados pela ONU em setembro de 2015. É o caso da América Latina, onde 19 países adotaram políticas em favor da energia renovável. O Uruguai pretende usar fontes renováveis para gerar 90% de sua eletricidade ainda em 2015. O Chile e o México têm aumentado significativamente suas capacidades de produção de energia eólica e solar.
Projetos semelhantes estão sendo desenvolvidos nos países árabes. O Marrocos, por exemplo, inaugurou a maior fazenda de energia eólica da África, em 2014, e está desenvolvendo o que poderá se tornar a maior fazenda de energia solar da África. O investimento em pesquisa se traduz ainda em aumento do número de cientistas, estimado em 7,8 milhões no mundo, crescimento de mais de 20% desde 2007. O maior plantel desses profissionais está na União Europeia (22%), seguida pela China (19%) e pelos EUA (16,7%).
Os cientistas também passaram a ter mais mobilidade internacional. Apesar da internet e da multiplicação de redes online, pesquisadores com nível de doutorado ainda sentem a necessidade de viajar. A mobilidade crescente de alunos de doutorado influencia a dos pesquisadores. “Isso talvez seja uma das tendências mais importantes da atualidade”, diz um dos autores do Relatório de Ciência.
Enquanto a mulher tem atingido a paridade em nível de mestrado no mundo, sua contribuição quanto a doutorado cai 43%. A lacuna continua a crescer, já que as mulheres são apenas 28,4% dos pesquisadores do mundo. Elas também têm acesso mais restrito ao financiamento do que os homens e são menos bem representadas em universidades de prestígio. Elas continuam a ser minoria em cargos seniores, sejam eles em conselhos de faculdade ou em cargos mais altos de tomada de decisão nas universidades.