Levantamento da ONU feito em 14 países contradiz narrativa de que mulheres não querem mais ter filhos – e atribui queda da fecundidade a motivos econômicos e incertezas.Milhões de pessoas em todo o mundo não conseguem ter o número de filhos que gostariam de ter, segundo um levantamento do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), e os principais motivos para isso são sobretudo econômicos, mas também problemas de saúde, medo em relação ao futuro e a falta de um parceiro ou parceira adequado.

Quase um em cada cinco adultos com menos de 50 anos, ou 18%, diz acreditar que não terá o número de filhos que deseja (11% acham que terão menos filhos e 7%, mais filhos do que gostariam).

Entre os maiores de 50 anos, bem menos da metade (38%) afirma ter tido o número de filhos que desejava. Outros 31% dizem que tiveram menos do que esperavam e apenas 12%, que tiveram mais do que o número desejado.

Os dados são do relatório de 2025 sobre a situação da população mundial, A Real Crise da Fecundidade: Alcançando a Liberdade Reprodutiva em um Mundo em Transformação, elaborado pelo UNFPA e apresentado nesta terça-feira (10/06) em diversas capitais europeias.

O relatório da agência da ONU para a saúde sexual e reprodutiva observa que há ainda o problema das altas taxas de gravidez não planejadas, com uma em cada três pessoas relatando ter passado por isso.

O levantamento, que ouviu mais de 14 mil homens e mulheres adultos de 14 países que representam mais de 37% da população mundial, incluindo o Brasil, mostrou que uma percentagem muito alta de homens e mulheres em todo o mundo “não consegue atingir suas aspirações de fecundidade”.

A humanidade enfrenta uma “situação sem precedentes” em sua história, pois atingiu um pico populacional, mas começa a se observar um “contexto global de baixa fecundidade”, comentou o representante do UNFPA na Colômbia, Luis Mora.

Faltam condições, e não vontade

Diante desses números, o UNFPA afirmou que muitas pessoas não estão tendo o número de filhos que gostariam de ter por falta de opção e não de vontade.

“A verdadeira crise [da fecundidade] é que as pessoas se sentem incapazes de criar as famílias que desejam”, disse Ian McFarlane, diretor de Relações Externas do UNFPA, em Berlim. “Essa crise afeta o Norte Global tanto quanto o Sul Global.”

A especialista Alanna Armitage, do UNFPA, enfatizou a importância de mudar a narrativa que sugere que as mulheres não querem mais ter filhos. “A pesquisa que realizamos mostra [que há] desejo de ter filhos. O que não ajuda são as condições”, declarou a especialista à agência de notícias Efe.

Em todo o mundo, governos tentam influenciar as taxas de natalidade com medidas políticas, muitas vezes com efeitos apenas de curto prazo ou até mesmo opostos, quando na verdade deveriam adotar políticas que criem um ambiente favorável para quem quer ter filhos, o que inclui estabilidade no emprego, licença-maternidade e licença-paternidade, acesso à moradia, e também políticas universais de saúde sexual e reprodutiva, afirmou o UNFPA.

as/bl (Efe, AFP, DPA, ots)