Pesquisadores apontaram que a bactéria Yersinia pestis, responsável por causar Peste Negra — que matou 25 milhões de pessoas em cinco anos na Europa medieval — se adaptou para manter seus hospedeiros vivos por mais tempo, permitindo que ela continuasse se espalhando ao longo dos séculos. O estudo foi publicado na “Science” na quinta-feira, 29.

A doença causada pela Y. pestis circula entre os seres humanos por pelo menos cinco mil anos e gerou três grandes surtos desde século I d.C.

O primeiro ocorreu entre o ano 541 ao 544, no Mediterrâneo, o segundo, o mais conhecido, atingiu a Europa de 1347 a 1352, matando de 30% a 50% da população do continente, e o terceiro foi registrado na China do século XIX. As informações são da “CNN Science”.

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No estudo, pesquisadores analisaram amostras de Y. pestis coletadas de restos humanos da Dinamarca, Europa e Rússia que datam de cerca de 100 anos depois do primeiro e do segundo surto da peste. Os genomas da bactéria foram reconstituídos e comparados com o das cepas do início das duas epidemias.

Foi possível constatar que as amostras de 100 anos depois do surto tinham menos cópias de um gene conhecido como “pla”, que foi reconhecido como um dos fatores que causava a mortalidade da peste.

A estrutura é responsável por produzir uma enzima também chamada de Pla que quebra coágulos sanguíneos e permite que a bactéria se espalhe para os gânglios linfáticos do hospedeiro, onde se multiplica para atacar o resto do corpo.

Para confirmar que as bactérias com menos cópias do gene tinham uma letalidade reduzida, os pesquisadores testaram as duas cepas de peste bubônica em roedores.

De acordo com o estudo, ratos infectados por Y. pestis com menos pla tinham uma taxa de sobrevivência de 10% a 20% maior e a doença demorava cerca de dois dias a mais para matar os hospedeiros.

No início dos surtos de peste bubônica, a doença rapidamente matava seus hospedeiros, pessoas e ratos. Com o tempo, as populações densas de roedores diminuíam e uma cepa menos letal tinha vantagem, já que deixaria os animais vivos por mais tempo, aumentando a possibilidade de transmissão.

Eventualmente, essas cepas mais brandas de Y. pestis acabaram extintas e a bactéria moderna é mais letal. Casos de peste bubônica ainda são registrados na Ásia, na América do Sul, nos Estados Unidos e na África. A doença é transmitida por picadas de pulgas que são carregadas por ratos.