30/04/2025 - 16:18
Recuo foi puxado por aumento expressivo das importações das empresas, que correram para ampliar estoques antes do início das tarifas, e infla os temores de recessão ou estagflação no país.Na semana que marca os 100 dias do segundo mandato de Donald Trump, seu governo anunciou, nesta quarta-feira (30/04), que a economia americana retraiu a uma taxa anual de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, o maior recuo desde 2022.
A bolsa americana despencou, e Trump foi rápido em tentar colocar a culpa do resultado frustrante em seu antecessor, Joe Biden, fazendo pouco caso do início caótico de seu segundo mandato, com guerra tarifária, mudanças bruscas em políticas e demissões em massa no governo.
“Este é o mercado de ações de Biden, não o de Trump”, afirmou o presidente, em sua rede social. Os dados mostram, contudo, que no último trimestre de 2024 – saideira de Biden –, a economia americana apresentou um crescimento de 2,4%.
“As tarifas logo começarão a ser aplicadas, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai crescer, mas temos que nos livrar do ‘excesso’ de Biden. Isso vai demorar um pouco, não tem nada a ver com tarifas”, defendeu Trump.
Os dados do primeiro trimestre divulgados pelo BEA (sigla em inglês para Escritório de Análise Econômica), apesar de serem de fato um retrado da economia antes do tarifaço de Trump, anunciado em 2 de abril, refletem as incertezas geradas pela política econômica do republicano.
Mesmo com sinais positivos de aumento do consumo interno, os efeitos da escalada da guerra comercial, com direito a tarifas que por fim totalizam 145% sobre bens vindos da China, foram suficientes para anular esse desempenho.
Consumidores correram para comprar bens, como carros, antes das tarifas de Trump entrarem em vigor. As empresas fizeram o mesmo, estocando equipamentos, peças e matérias-primas vindas de fora.
Assim, as importações cresceram 41,3%, enquanto as exportações expandiram 1,8% no primeiro quarto do ano. Esse descompasso comercial foi uma das principais razões para o resultado negativo do PIB americano, pois as importações são subtraídas do cálculo da atividade econômica.
Recessão à vista?
O anúncio desta quarta deu aos democratas munição para afirmar que as políticas de Trump podem empurrar a economia americana para uma recessão.
“Trump está no cargo há apenas 100 dias, e os custos, o caos e a corrupção já estão aumentando”, disse o senador democrata Jeff Merkley.
“A economia está desacelerando, os preços estão subindo e as famílias de classe média estão se sentindo prejudicadas.”
Peter Navarro, conselheiro comercial da Casa Branca e arquiteto da política comercial do governo, afirmou que a queda do PIB foi um “negócio único” devido ao aumento das importações, e disse que os cortes no imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas planejados por Trump ajudariam o crescimento nos próximos meses.
“Tudo o que estamos vendo são notícias boas e fortes”, disse Navarro. “Portanto, a ideia de que há uma recessão chegando deve ser fortemente descartada.”
Riscos de estagflação
O Departamento de Comércio informou recentemente que a inflação subiu 2,3% em março, abaixo dos 2,7% de fevereiro, mas ainda acima da meta de 2% do Federal Reserve.
“Isso coloca o Fed em uma posição desconfortável: os riscos de inflação estão aumentando mesmo com a desaceleração do crescimento, receita perfeita para estagflação”, disse Christopher Boucher, diretor de investimentos da ABN AMRO Investment Solutions.
Estagflação é um jargão econômico que descreve a combinação de três problemas: crescimento econômico nulo (estagnação), alta inflação (preços subindo) e alto desemprego.
A situação é desafiadora porque os remédios para um problema agravam os outros. Por exemplo, para conter a inflação, normalmente se aumentam os juros, o que desestimula o consumo e o investimento, a=ravando a estagnação e o desemprego.
sf (AP, AFP, ots)