25/01/2023 - 15:20
Em fevereiro de 2019, uma fenda abrangendo a maior parte da plataforma de gelo Brunt, na Antártida, parecia pronta para gerar um iceberg com tamanho um pouco maior que o do município de São Paulo. A questão entre os cientistas já não era se a fenda crescente terminaria de atravessar a plataforma e se romperia, mas quando. Agora, quase quatro anos depois, chegou o momento, informa o site Earth Observatory, da Nasa.
- Colapso de geleiras na Antártida cria tsunamis subaquáticos
- Megaiceberg lançou 152 bilhões de toneladas de água doce no oceano ao passar por ilha
- O lendário navio Endurance é achado na costa da Antártida
Segundo o British Antarctic Survey (BAS), a ruptura ocorreu no fim de 22 de janeiro de 2023 e produziu um novo iceberg com uma área de 1.550 quilômetros quadrados. O US National Ice Center o nomeou Iceberg A-81. O iceberg é visível na imagem acima, adquirida em 24 de janeiro de 2023, com o Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) no satélite Terra da Nasa.
O gelo glacial na plataforma flui para longe do interior do continente antártico e flutua no Mar de Weddell oriental. (Para referência, a Península Antártica e suas plataformas de gelo estão localizadas no lado oposto do Mar de Weddell.) A plataforma há muito abriga a Estação de Pesquisa Halley do BAS, onde os cientistas estudam os processos climáticos terrestres, atmosféricos e espaciais. O BAS informou que a estação, realocada mais para o interior em 2016, quando o abismo aumentou, não foi afetada pelo rompimento recente.
Tensões mal compreendidas
A ruptura ocorreu ao longo de uma fenda conhecida como Chasm 1. Esse abismo começou a crescer na década de 1970, seguido por um período de dormência e, posteriormente, retomou o crescimento em 2012. Ele continuou a se alongar por quase uma década, estendendo-se por até 4 quilômetros por ano no início de 2019. Mas mesmo esse surto de crescimento desacelerou. Isto é, até o verão antártico de 2022-2023, quando o abismo acelerou e finalmente ultrapassou o McDonald Ice Rumples – um nódulo submerso de rocha que servia como ponto de fixação para essa parte da plataforma. Vários fatores podem ter contribuído para a conclusão da quebra, incluindo a falta de gelo marinho para ajudar a resistir ou “recuar” contra as tensões na plataforma de gelo em 2023.
A segunda imagem, adquirida com o Operational Land Imager (OLI) no Landsat 8, mostra a extensão da Chasm 1 em 12 de janeiro de 2021, cerca de um ano antes do intervalo. É possível observar diversas outras rachaduras na parte nordeste da plataforma. A “nova rachadura” nessa imagem acabou se separando em fevereiro de 2021 e formou o Iceberg A-74.
“A rápida formação de fendas subsequentes – para as Chasm 1 e 2 de longa data – e o recente desprendimento para o nordeste deixam claro que essas áreas de plataforma são dinâmicas com tensões mal compreendidas”, disse Christopher Shuman, da Universidade de Maryland, Condado de Baltimore, glaciologista baseado no Centro de Voos Espaciais Goddard da Nasa.
Processo natural
A quebra (desprendimento) de icebergs das plataformas de gelo faz parte de um processo cíclico natural de crescimento e decadência nos limites das camadas de gelo da Terra. À medida que o gelo glacial flui da terra e se espalha pelo mar, as áreas de plataforma mais distantes da costa tornam-se mais finas. Essas áreas são estressadas por tempestades e marés e finas à medida que são derretidas por cima ou por baixo, tornando-as mais propensas a formar fendas e se romper.
Quanto à “nova” plataforma de gelo Brunt, resta saber como o complexo gelo glacial flutuante responde ao mais recente evento de desprendimento. “Não temos uma ideia sólida do que realmente é ‘normal’ para essa plataforma de gelo incomum”, afirmou Shuman.