30/12/2023 - 15:17
Corporação alega risco de manifestações explícitas de antissemitismo e de glorificação à violência. Virada na capital alemã foi caótica no ano passado, e autoridades temem que cenas se repitam.A polícia de Berlim anunciou neste sábado (30/12) que vetou um ato pró-Palestina marcado para a noite de Ano Novo no distrito de Neukölln, tradicional reduto da comunidade árabe e turca da capital alemã ao lado do distrito de Friedrichshain-Kreuzberg.
A manifestação estava agendada sob o nome “Sem celebração durante o genocídio”, previa um público de 100 pessoas e incluía, em seu trajeto, a avenida Sonnenallee – onde vigora, extraordinariamente, uma proibição de fogos de artifício, uma medida imposta por autoridades para evitar que as cenas de caos da virada do ano passado voltem a se repetir.
A polícia justificou a decisão alegando risco iminente de que o agrupamento adquira proporções maiores, juntando muito mais gente do que previsto pela organização, e que culmine em “provocações, gritos antissemitas, glorificação da violência, a expressão de disposição para usar a violência e, portanto, [em] intimidação e violência”.
Chefe de polícia, Barbara Slowik diz que há receio de que pessoas estranhas à manifestação se juntem a ela e façam a situação sair do controle dos organizadores.
“É de se esperar que ocorram crimes na região ou partindo desse agrupamento”, afirmou Slowik à rádio pública alemã rbb24. “A situação é emocional. Estamos esperando um influxo de arruaceiros que poderiam usar a manifestação para cometer crimes. Nenhum organizador seria capaz de controlar tal desenvolvimento. Por isso, a polícia proibiu a manifestação.”
A decisão ainda pode ser contestada judicialmente.
Berlim como espelho das tensões no Oriente Médio
A proibição do ato pró-Palestina em Neukölln tem o aval do prefeito distrital, Martin Hikel, que afirmou à rbb24 temer que o evento fosse muito mais um ato de perturbação pública do que de expressão de solidariedade aos civis em Gaza.
A organização do ato acusa Israel de matar civis indiscriminadamente em sua guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. Israel, por sua vez, rejeita a acusação e assegura tomar todas as medidas possíveis para poupar inocentes, e que seu objetivo é destruir o grupo radical islâmico.
Berlim tem sido palco de manifestações frequentes desde o atentado terrorista cometido pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro, que resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas e no sequestro de outras 240.
No lado palestino, o saldo de vítimas da guerra deflagrada desde então deixou mais de 21,6 mil mortos, segundo números das autoridades de saúde em Gaza, que operam sob o controle do Hamas.
Outras duas manifestações em Neukölln
Na tarde de domingo, o distrito de Neukölln deve ter um ato pró-Palestina. Outro evento, de apoio a Israel, será realizado à noite. A polícia, contudo, pediu aos organizadores que, por causa do clima tenso, realizem seus eventos em outras regiões e em outros horários.
Na Alemanha, queima amadora de fogos é tradição
Autoridades temem que as cenas de violência que se viram em Berlim na última virada voltem a se repetir.
Na madrugada de 2022 para 2023, vândalos atacaram policiais, bombeiros e socorristas com fogos de artifício, cujo uso amador é liberado na data.
Apesar de o episódio ter suscitado um debate sobre a necessidade de banir a prática, a tradição acabou mantida novamente.
Trabalhadores dos serviços de emergência já são sobrecarregados na noite com uma série de chamados, e uma dose extra de caos compromete a agilidade dos agentes em atender aos que realmente precisam de ajuda.
Ministra do Interior, Nancy Faeser assegurou que a polícia atuará em contingente reforçado. Eles terão um helicóptero, cães farejadores e canhões de água à disposição. Também abordaram indivíduos que participaram da arruaça no ano anterior e eventualmente farão uso de prisões preventivas.
A corporação afirma que o número de ocorrências registradas na noite de Ano Novo pode superar o da virada anterior, mas que isso pode ser resultado de uma presença mais ostensiva da polícia, e que o sucesso da operação deve ser medido pela redução de ataques aos trabalhadores dos serviços de emergência.
ra (AFP, dpa, ots)