Deutsche Welle foi classificada como “organização indesejável”. Designação reforça restrições à emissora na Rússia, estendendo punições também a quem apoia ou compartilha conteúdo da organização.Políticos alemães criticaram a Rússia nesta terça-feira (16/12), após o Ministério da Justiça russo adicionar formalmente a emissora pública alemã Deutsche Welle (DW) à sua crescente lista de “organizações indesejáveis” .

O ministro alemão de Cultura e Mídia, Wolfram Weimer, disse à DW que as autoridades russas em Moscou “temem que as pessoas ouçam e vejam a verdade”.

“Eles não querem que a verdade sobre sua guerra de agressão na Ucrânia seja revelada. E temem que sejam divulgadas reportagens sobre a repressão dentro da Rússia”, disse Weimer. “É por isso que estão tentando de tudo para suprimir vozes da liberdade como a Deutsche Welle.”

Martin Rabanus, político social-democrata, membro da comissão de cultura do Bundestag (parlamento alemão) e do conselho de supervisão da DW, classificou a medida russa como “o próximo passo para restringir a liberdade de opinião e de imprensa”.

Ele afirmou que restrições semelhantes a grupos como Repórteres Sem Fronteiras e Rádio Europa Livre apontam para um “corte e restrição sistemáticos de organizações e instituições que fornecem informações objetivas” dentro da Rússia.

Preocupação com funcionários e familiares

Claudia Roth, do Partido Verde, ambientalista e ex-ministra de Cultura e Mídia durante a última legislatura, de 2021 a 2025, expressou preocupação com os funcionários e contatos da DW na região. “Estou muito preocupada com os jornalistas e suas famílias”, disse ela. “Porque na Rússia, é perigoso fazer reportagens independentes contra o ditador, o governante autoritário.”

David Schliesing, do partido A Esquerda (socialista), afirmou que “jornalismo independente nunca é crime”, mas também disse acreditar que a Rússia poderia estar respondendo às restrições impostas à emissora estatal russa RT (antigamente Russia Today) dentro da União Europeia.

“Na verdade, é uma consequência lógica da guerra, por assim dizer, que se a Comissão Europeia proíbe a Russia Today de transmitir em nosso território, os russos naturalmente retaliem. Acho isso lógico”, disse Schliesing, argumentando que isso demonstra a urgência de se negociar o fim dos combates e o retorno a uma atmosfera menos hostil.

A DW solicitou um comentário do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem a segunda maior bancada no parlamento, mas não obteve resposta. O partido já foi criticado anteriormente por seus laços com Moscou.

De “agente estrangeiro” a “organização indesejável”

O Ministério da Justiça da Rússia publicou na terça-feira uma lista atualizada de “organizações indesejáveis”, incluindo agora a Deutsche Welle, confirmando uma informação divulgada pela mídia russa no fim de semana.

A Duma, parlamento russo, havia solicitado a alteração da designação em agosto de 2024.

Uma declaração do governo russo publicada no Telegram no fim de semana, em meio às primeiras notícias sobre a iminente mudança, afirmou que a Procuradoria-Geral russa considera a DW como estando “na vanguarda da propaganda hostil anti-Rússia”.

A nova designação reforça ainda mais as restrições não apenas às atividades da DW na Rússia, que Moscou efetivamente encerrou há anos, mas também à cooperação ou ao trabalho para a organização.

Pessoas que apoiarem ou trabalharem para “organizações indesejáveis” podem enfrentar multas ou até mesmo prisão na Rússia. Até mesmo compartilhar conteúdo desses grupos pode ser passível de punição.

Designação “não nos deterá”

A diretora-geral da DW, Barbara Massing, afirmou que a nova designação afetaria particularmente os funcionários do serviço em russo da DW, muitos dos quais têm fortes laços com o país.

Mas ela também disse que as tentativas de Moscou de marginalizar a DW e outros veículos de mídia críticos estão se mostrando contraproducentes. “Apesar da censura e do bloqueio de nossos serviços pelo governo russo, o serviço em russo da DW agora alcança mais pessoas do que nunca”, disse Massing.

“Continuaremos a reportar de forma independente – sobre a guerra de agressão contra a Ucrânia e outros tópicos sobre os quais há pouca informação disponível na Rússia. Para que as pessoas possam formar suas próprias opiniões”, disse ela.

Sucursal de Moscou fechada antes da invasão da Ucrânia

A Rússia já havia designado a DW como “agente estrangeiro” no início de 2022, logo após a invasão em larga escala da Ucrânia.

Apenas algumas semanas antes da invasão de 24 de fevereiro, a licença da DW no país foi retirada, levando ao fechamento da sucursal de Moscou. A Rússia alegou que a medida foi uma resposta às restrições impostas na Alemanha à emissora estatal RT Deutsch.

A sucursal da DW em Moscou foi posteriormente transferida para Riga, na Letônia, e o site da DW foi banido em todos os idiomas na Rússia – pelo menos para aqueles que não conseguiram contornar as restrições.

Apesar disso, o serviço russo da DW alcançou cerca de 10 milhões de usuários semanais em 2025, principalmente com conteúdo em vídeo, tornando-se um dos 10 idiomas da DW mais acessados.

Fundada em 1953, a DW é uma emissora independente financiada pelo governo alemão, que produz reportagens em todo o mundo em 32 idiomas.

A lista russa de “organizações indesejáveis” inclui mais de 275 entidades, entre elas, veículos de notícias como a Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade, think tanks como a Chatham House, a ONG anticorrupção Transparência Internacional e a organização ambientalista WWF.

A lista também inclui diversos importantes think tanks políticos alemães: a Fundação Heinrich Böll, a Fundação Friedrich Ebert e a Fundação Konrad Adenauer, bem como o Conselho Alemão de Relações Exteriores.