Uma pesquisa conduzida na Suécia e publicada no periódico “Science” em 10 de abril indicou que o desenvolvimento dos salmões estaria sendo afetado pela poluição da água de rios com medicamentos ansiolíticos. Conforme o estudo, os peixes se tornam mais “destemidos” quando expostos ao clobazam — que tem o nome comercial de Frisium e Urbanil — o que alterou o processo de migração dos animais.

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Conforme os pesquisadores, animais que foram expostos ao clobazam tiveram maior probabilidade de completar sua migração dos rios de água doce para o mar, além de passar por barreiras artificiais, como represas, mais rápido do que os peixes sem contato com o ansiolítico.

“Embora um aumento no sucesso da migração possa inicialmente parecer algo positivo, qualquer disrupção nos comportamentos naturais pode ter consequências negativas que se alastram pelos ecossistemas”, ponderou o principal autor do estudo, Jack Brand, da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas em Uppsala.

Pesquisas em rios do mundo inteiro encontraram contaminação por fármacos em cursos d’água de todos os continentes da Terra – até mesmo na Antártida. Quase mil medicamentos ativos distintos foram detectados no meio ambiente, prejudicando desde a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas até a saúde pública.

Para estudar os efeitos do clobazam no comportamento do salmão, os pesquisadores conduziram amplos estudos de campo e experimentos controlados em laboratório.

Em experimentos de campo, os pesquisadores implantaram um dispositivo de rastreamento telemétrico em 279 salmões selvagens, juntamente com um implante que liberava lentamente pequenas quantidades de clobazam.

Os salmões tiveram seu trajeto rastreado enquanto migravam pelo Rio Dal, na Suécia, passando por duas represas hidrelétricas e, em seguida, para o Mar Báltico.

Os pesquisadores descobriram que um grupo de controle, que não havia sido exposto ao clobazam, atravessou as barragens hidrelétricas mais lentamente do que os peixes expostos à droga.

Experimentos de laboratório também descobriram que o clobazam alterou a maneira como o salmão se movimentava em cardumes: eles criaram cardumes menos compactos, principalmente na presença de predadores, o que poderia aumentar os riscos que eles enfrentavam na natureza.

“Alterações no ritmo da migração podem fazer com que os peixes cheguem ao mar em condições abaixo do ideal ou aumentar sua exposição a predadores e outros perigos. Com o tempo, essas mudanças sutis podem alterar a dinâmica populacional e até mesmo perturbar o equilíbrio do ecossistema”, alerta Brand.

Poluição de rios por medicamentos

Os fármacos entram no meio ambiente por meio de águas residuais tratadas ou não tratadas e de efluentes de gado ou veterinários. Dessa forma, acabam se acumulando nos corpos e cérebros de animais selvagens.

Em 2006, experimentos realizados no Canadá revelaram que populações de peixes estavam sendo expostas a um estrogênio sintético comum, usado em pílulas anticoncepcionais. O acúmulo do hormônio em peixes selvagens levou à “feminização” dos machos e ao quase colapso das populações locais de peixes.

Dada a ampla presença de substâncias farmacêuticas em cursos d’água em todo o mundo, Brand suspeita que muitas espécies diferentes possam estar vulneráveis ​​aos seus efeitos. Estudos mostram que os fármacos podem circular por toda a cadeia alimentar.

“Isso pode afetar não apenas a vida aquática, mas também os animais terrestres que se alimentam de insetos ou peixes de cursos d’água contaminados, mostrando o quão abrangente esses efeitos podem ser”, disse Brand.