05/06/2025 - 10:44
Método agilizou a substituição de ponte antiga sobre vale e economizou recursos, segundo a Autobahn. País quer acelerar a reforma ou a reconstrução de 5 mil pontes rodoviárias.Uma ponte de 70 metros de altura, equivalente a um edifício de vinte andares, e meio quilômetro de comprimento foi movida por vinte metros nesta quarta-feira (04/06) na Alemanha, em um feito de engenharia inédito no país.
A experiência poderá ser útil para acelerar a substituição de algumas pontes no país, que tem uma longa lista de estruturas em necessidade de reforma ou reconstrução.
A técnica dispensa a necessidade de interrupção do tráfego na substituição de pontes e tem como vantagens economia de recursos e menor tempo de construção, segundo a Autobahn, a empresa pública responsável pelas rodovias alemãs. A estrutura movimentada pesa 40 mil toneladas.
A ponte fica no município de Rinsdorf, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha e mais populoso do país, e faz parte da rodovia A45, que liga a cidade de Dortmund até Aschaffenburg, na Baviera. Apenas nessa rodovia, estão previstas a substituição de mais de 60 pontes.
Como a ponte foi movimentada
Os seis pilares da ponte foram empurrados lentamente por grandes prensas hidráulicas, deslizando sobre uma estrutura similar a um grande trilho coberto de material antiaderente Teflon e lubrificado com uma graxa especial. O processo durou cerca de vinte horas.
No final da “caminhada”, a ponte, de três faixas de rodagem e acostamento, ficou alinhada com outra ponte similar, também de três faixas de rodagem e acostamento, a apenas dez centímetros de distância. Cada ponte receberá uma direção do fluxo de tráfego.
O feito técnico foi celebrado pelo governo federal alemão, que se vê pressionado a acelerar os investimentos para melhorar a infraestrutura do país. Claudia Elif Stutz, secretária do Ministério dos Transportes, acompanhou a movimentação da estrutura e disse que a obra “era um sinal visível de que estamos tendo um bom progresso na modernização das pontes rodoviárias”.
Engenheiros do Japão interessados em aplicar a técnica também acompanharam a movimentação da ponte nesta quarta-feira.
Por que essa técnica foi escolhida
A ponte original que cruzava o vale do rio Eisernbach havia sido construída em 1967, e avaliações estruturais indicaram a necessidade de sua substituição no começo da década passada.
Interromper o fluxo da A45, porém, provocaria muitos transtornos – transitam pela rodovia cerca de 60 mil veículos por dia, inclusive caminhões de carga. Decidiu-se pela construção de duas novas pontes, uma em cada sentido, em momentos diferentes, em uma obra que durou cerca de oito anos.
Primeiro, a vinte metros de distância da ponte antiga, começou a ser construída em 2017 uma nova ponte. Assim que essa ponte foi concluída, ela assumiu todo o tráfego que passa pelo trecho e a ponte antiga foi demolida, em fevereiro de 2022 – na ocasião, foi a implosão mais alta de uma ponte rodoviária já feita no país.
No lugar da ponte demolida, foi construída a segunda nova ponte. Uma vez concluída, ela assumiu todo o tráfego do trecho para que a parte mais desafiadora do projeto acontecesse: empurrar por vinte metros a primeira das duas novas pontes, até que ela estivesse prestes a encostar na estrutura mais recente.
A Autobahn afirma que a nova técnica adotada era a mais adequada para a região montanhosa. Construir ambas as novas estruturas com 20 metros de distância entre elas, e depois mover uma das pontes por inteiro, dispensou a necessidade de construir pilares adicionais usados somente durante a fase de obras – técnica mais comum usada em outras intervenções semelhantes no país.
Ao fazer isso, foram reduzidos o tempo de construção, as emissões de poeira e de ruídos e o uso de concreto e de aço, e houve aumento da segurança do canteiro de obra, segundo a Autobahn.
Muitas reformas e reconstruções pela frente
O governo alemão estima que cerca de 5 mil das 40 mil pontes de estradas exigem reparos ou, em casos mais graves, substituição. Mais da metade delas foi construída antes de 1985, a maioria sobre os vales do oeste do país.
Projetadas para menos tráfego e veículos mais leves, elas agora estão tão sobrecarregadas que algumas mostram sinais de deterioração. Além disso houve pouco trabalho de manutenção nos últimos anos.
Um caso célebre, também na rodovia A45, ocorreu no final de 2021, quando constatou-se que a ponte Rahmede estava danificada ao ponto de ameaça de colapso e teve que ser fechada. Ela foi demolida em 2023 e uma nova construção está em andamento, mas a primeira seção não será inaugurada antes de meados de 2026. O desvio do tráfego para vias vicinais levou engarrafamos, barulho extremo e poluição a vilarejos da região, e afetou negativamente a economia local.
O atual governo alemão, formado por conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD), prometeu acelerar a reforma e reconstrução de pontes do país. Para isso, conta com um pacote financeiro que prevê 500 bilhões de euros para investimentos em infraestrutura nos próximos 12 anos – mas precisará enfrentar gargalos e demoras nos processos de licitação e obtenção de autorizações para os projetos.
Outras técnicas de movimentação de pontes são usadas em grandes projetos de infraestrutura pelo mundo para facilitar a construção e economizar recursos. Em 2019, por exemplo, a China girou em 52,4 graus uma ponte de 46 mil toneladas e 263 metros de extensão, até ela encaixar na sua outra metade. Esse método foi usado para minimizar a interferência no tráfego ferroviário abaixo da estrutura durante a fase de obras.
bl/cn (ots, AFP)