12/03/2025 - 14:19
O presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu acabar com programas de inclusão e encontra ressonância em parte da sociedade. Cultura woke almeja conscientização política e social sobre discriminações e desigualdades.”A [cultura] woke é um problema, é ruim”, disparou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu primeiro pronunciamento ao Congresso americano. Woke, segundo o dicionário alemão Duden, é uma conscientização elevada sobre discriminação racista e sexista, desigualdade social e temas semelhantes, ocasionalmente associada ao ativismo militante.
Para Trump, woke é uma irritação. O americano determinou a eliminação de termos como sexualidade, transgênero, não binário, crise climática ou racismo de documentos oficiais do governo.
Durante a campanha eleitoral, Trump já havia deixado claro que para ele havia apenas dois gêneros: masculino e feminino. Segundo ele, qualquer coisa além disso eram “ideias malucas supérfluas”. Não há mais espaço para a diversidade de gênero em escolas, em locais de trabalho e nas Forças Armadas.
Dessa maneira, Trump se opõe principalmente aos programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), voltados à promoção de uma sociedade mais plural. Conservadores não veem esse tipo de iniciativa com bons olhos, principalmente o presidente americano, que deseja acabar com o que chama de “tirania da diversidade”.
Com suas exigências, Trump aparentemente pressionou diversas empresas americanas, incluindo a cadeia de fast-food McDonald’s, a rede de supermercados Walmart, a montadora Ford e a fabricante de aviões Boeing, que estão reduzindo seus programas DEI.
No mesmo discurso, Trump afirmou que havia removido o “veneno da teoria racial crítica” das escolas públicas. Também descrito como woke, esse campo acadêmico analisa preconceitos racistas existentes na sociedade ocidental. Ele estuda, por exemplo, como a origem, cor da pele, gênero ou orientação sexual influenciam na procura de um emprego ou moradia, nas notas em escolas ou universidades e, até mesmo, em abordagens policiais. Em muitos estados americanos, o ensino dessa teoria já havia sido proibido com a alegação de que ela colocaria todos os brancos sob suspeita de serem racistas.
“Crítica até que compreensível”
Por mais barulhenta e radical que seja a crítica à cultura woke nos EUA, ela também seria compreensível do ponto de vista racional e científico, afirma a psicóloga Esther Bockwyt, autora de Woke. Psychologie eines Kulturkampfs (Woke: Psicologia de uma luta cultural, em tradução livre).
No livro, Bockwyt analisa criticamente a cultura woke, abordando também seus lados negativos. “Por trás disso, não há apenas o medo clássico de mudança, mas também há uma certa dose de razão, pois sob o pretexto do woke ocorrem excessos que não são saudáveis”, argumenta.
Como exemplo, a psicóloga cita a discussão sobre homens biológicos que se identificam como mulheres em esportes ou prisões femininas. “As circunstâncias biológicas se chocam com uma ideologia que diz simplesmente que os sentimentos estão acima de tudo.”
Na opinião de Bockwyt, a rejeição a essa cultura woke extrema, mesmo no centro da sociedade, é justificável. “Não se trata somente de querer estar atento contra discriminação, quase todo mundo concordaria com isso, mas [a cultura woke] é realmente bem mais radical”, afirma. “E, por isso, foi aberta nos EUA a caixa de Pandora, porque é relevante e perceptível e está separando as pessoas em vez de uni-las.”
Ameaça à democracia?
Com frequência, temas como transgênero, veganismo, proteção climática, feminismo, cancelamento são percebidos como da cultura woke. A raiva contra o woke é direcionada, principalmente, a quem tem uma posição política de esquerda ou verde e se considera progressista.
Os conservadores costumam acusar uma “minoria moralista” de querer educar e tratar como criança quem supostamente pensa diferente. Eles se irritam com a linguagem neutra, ou por não poderem mais usar palavras como “índio” por soarem depreciativa a minorias.
Nos últimos anos, livros que criticam a cultura woke e que a classificam como um suposto “perigo para a democracia” se tornaram best-sellers na Alemanha. A etnóloga Susanne Schröter, por exemplo, chamou o movimento de “terror da opinião” e “construção gradual de um novo Estado de vigilância”.
Bockwyt argumenta que esse tipo de livro alimenta a imagem inimiga da “esquerda woke”, e seus atores encontram ressonância em uma grande parte da sociedade. “Acho que é uma atitude genuína de rejeição. Claro que a crítica pode ser exagerada e formulada de maneira bem radical. Mas também não é difícil encontrar inimigos, porque gera em muitos uma rejeição muito além da direita.”
Críticos da cultura woke gostam de citar exemplos que praticamente distorcem essas ideias. Um desses é um vídeo reproduzido pelo psiquiatra e neurocientista austríaco Raphael Bonelli em seu canal no YouTube. O vídeo, cuja origem ele diz desconhecer, mostra um jovem woke exagerado que acusa o homem com quem conversa de ser intolerante e nazista por ser relacionar com uma mulher que não é negra nem trans. O jovem então prega que seu interlocutor deveria se relacionar também com homens. Com esse exemplo, Bonelli deseja mostrar que os wokes é que são os verdadeiros intolerantes.
Mais tolerância
As discussões sobre esse tema continuarão a ocupar as sociedades ocidentais por muito tempo. Apesar de todas as críticas de conservadores, a conscientização sobre uma abordagem mais sensível às minorias existe e não será eliminada por meio de proibições. A psicóloga Esther Bockwyt defende um meio-termo.
“Acho que é útil não se envolver nessa imagem em preto e branco, não fazer declarações generalizadas de que tudo que é anti-woke é de direita e tudo que é woke é bom, mas tentar fazer uma diferenciação”, acrescenta Bockwyt.