Bombardeios recentes a Kiev, alvo de centenas de drones e mísseis nas últimas semanas, têm sido os piores em mais de três anos de conflito. Qual é a meta de Vladimir Putin e o que pode detê-lo?Na madrugada do último sábado (12/07), a Rússia atacou a Ucrânia com mais de 620 drones e mísseis de longo alcance, matando ao menos quatro pessoas.

“Vinte e seis mísseis de cruzeiro e 597 drones de ataque foram lançados, dos quais mais da metade eram ‘Shaheds'”, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, referindo-se aos drones fabricados no Irã.

Na manhã do dia anterior, a Rússia havia atacado Odessa com drones, atingindo o prédio do centro de recrutamento territorial do Exército ucraniano e edifícios residenciais.

Um dia antes, pelo menos duas pessoas haviam sido mortas em Kiev em um grande ataque noturno. O prefeito Vitali Klitschko relatou a destruição de uma estação de ambulâncias.

Os ataques russos das últimas semanas têm quebrado recorde atrás de recorde. O que aconteceu em Kiev na noite de 4 de julho, por exemplo, foi descrito na mídia ucraniana como uma “noite do inferno”. O Exército russo havia mobilizado mais de 500 drones, além de mísseis Kinshal e Iskander.

Como resultado, até mesmo o presidente dos EUA, Donald Trump, que antes se via como um mediador no conflito, declarou que estava decepcionado com a Rússia. O americano endureceu sua retórica em relação ao Kremlin, afirmando que Vladimir Putin diz “muitas bobagens” para manter a invasão da Ucrânia e que, embora “sempre” tenha sido “muito simpático”, isso acaba não fazendo sentido no final das contas.

Pouco depois desses comentários, os EUA retomaram o fornecimento de alguns tipos de armas à Ucrânia. De acordo com a agência de notícias Reuters, trata-se de projéteis de artilharia e artilharias autopropulsadas. Concretamente, Trump também voltar a reabastecer Kiev com mísseis Patriot.

Produção de milhares de drones por mês

Graças à expansão de sua produção de drones, a Rússia agora está em condições de realizar ataques em massa. Moscou não depende mais do Irã para isso, como acontecia em 2022.

“A Rússia tem usado drones desde 2022, mas a escala mudou”, diz o especialista em tecnologia militar David Hambling. “Eles agora estão produzindo milhares de drones por mês, talvez até dezenas de milhares. Isso é suficiente para sobrecarregar a maioria dos sistemas de defesa projetados para interceptar mísseis”, explica.

O coronel Markus Reisner, das Forças Armadas austríacas, ressalta que a Rússia não seria capaz de realizar ataques tão maciços contra a Ucrânia sem a ajuda de outros países. A China fornece à Rússia peças que o Kremlin usa para construir drones, e a Coreia do Norte fornece a Moscou mísseis balísticos. “É possível ver que aqui a Rússia está contando com apoiadores”, diz Reisner.

Terror contra a população

Após um ataque recente a Kiev, Zelenski expressou sua opinião sobre o motivo pelo qual a Rússia está intensificando o bombardeio da capital. Segundo ele, Putin quer que “as pessoas sofram e fujam da Ucrânia, que casas, escolas – a própria vida – sejam destruídas em todos os lugares, não apenas na linha de frente”.

Citando fontes próximas ao Kremlin, o jornal americano The New York Times afirma que é dessa forma que a Rússia pretende romper as defesas da Ucrânia nos próximos meses.

O coronel Reisner acredita que Putin está tentando atingir dois objetivos estratégicos com seus últimos ataques combinados. Primeiro, ele quer destruir o complexo militar-industrial da Ucrânia e, segundo, influenciar o público ucraniano, atacando simultaneamente a população civil. “Os ataques direcionados à população, que deve ser ainda mais enfraquecida pelo terror, são, portanto, uma tentativa indireta de exercer pressão sobre o governo ucraniano”, avalia Reisner.

Nova ofensiva russa?

Especialistas militares alertam que a Rússia pode lançar uma nova ofensiva neste verão do Hemisfério Norte. Para o cientista político alemão Andreas Heinemann-Grüder, o número crescente de ataques combinados aos quais a Ucrânia foi submetida recentemente é parte dessa campanha.

Segundo ele, o objetivo da Rússia é desativar as defesas aéreas ucranianas a tal ponto que as perdas não possam ser compensadas por suprimentos dos países ocidentais. Isso também poderia ser um indicativo de que a Rússia está se preparando para uma “batalha decisiva”. Heinemann-Grüder não descarta a possibilidade de que a Rússia consiga encurralar a Ucrânia até o final deste ano ou início do próximo e subordiná-la às exigências do Kremlin.

Como o Ocidente deve reagir?

Os especialistas ouvidos pela DW afirmam que o Ocidente precisa tomar medidas mais decisivas se quiserem que a Ucrânia reassuma o controle do campo de batalha. Ao participar na semana passada de uma conferência em Roma que discutiu a reconstrução da Ucrânia, Zelenski disse que seu país encontrou uma solução para evitar os ataques russos: drones interceptadores. Ao mesmo tempo, ele enfatizou a necessidade urgente de investimentos significativos no setor nacional de defesa.

O coronel Reisner confirma que a Ucrânia está obtendo bons resultados na produção própria de drones, mas frisa que o país não pode ficar sem o apoio do Ocidente, “especialmente para sistemas de armas especiais, como os mísseis antiaéreos Patriot”.

O chanceler federal alemão, Friedrich Merz, havia declarado anteriormente que a Alemanha estava preparada para comprar sistemas Patriot dos EUA para a Ucrânia.

Se quiser fornecer uma ajuda realmente eficaz, o Ocidente tem que superar seus temores de que as armas fornecidas à Ucrânia possam cair nas mãos dos russos, afirma Andreas Heinemann-Grüder. Segundo ele, algumas empresas de defesa ocidentais temem perder sua vantagem tecnológica caso isso ocorra. Outra preocupação do setor é que estabelecimento de joint ventures com a Ucrânia possa reduzir os preços de seus produtos. “Esse tipo de pensamento precisa ser superado”, diz o cientista político.