03/06/2025 - 9:57
A perspectiva de retorno de seres humanos à Lua parece mais provável do que nunca, com missões dos Estados Unidos, União Europeia, China e Índia para explorar o satélite natural da Terra.
Entre essas missões uma das mais conhecidas é o programa Artemis liderado pela agência espacial americana Nasa, que envolve 55 colaboradores internacionais, inclusive a Agência Espacial Europeia (ESA). O programa prevê o estabelecimento de uma base permanente no polo sul da Lua e o lançamento de uma nova estação espacial, chamada Gateway, na órbita lunar.
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Enquanto isso, um projeto conjunto da China e da Rússia, envolvendo 13 parceiros internacionais, tem como objetivo construir até 2035 uma base na Lua chamada Estação Internacional de Pesquisa Lunar.
Tanto o Artemis Base Camp quanto a Estação Internacional de Pesquisa Lunar têm fins científicos. Se forem bem-sucedidas, elas receberão astronautas para estadias curtas e abrigarão equipamentos robóticos permanentes que poderão ser operados a partir da Terra.
Mas a Lua sempre teve também um valor estratégico. Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética disputaram as suas diferenças ideológicas tanto na Terra quanto na Lua. E hoje isso continua, só que há mais participantes. Os EUA, por exemplo, declararam publicamente que se consideram em uma nova corrida espacial, da qual querem sair vencedores.
No entanto, há outros motivos para esse interesse. Os recursos naturais presentes no satélite são um deles.
Rica em recursos naturais
A Lua possui recursos abundantes, que incluem ferro, silício, hidrogênio, titânio e terras raras. Embora os custos de extração e transporte sejam altos, alguns desses recursos poderiam ser trazidos de volta à Terra, onde eles estão cada vez mais escassos.
Operações de mineração na Lua podem abrir caminho para a extração da imensa riqueza mineral contida em asteroides – e a Lua será o primeiro lugar onde isso vai ser testado.
A maior parte do material extraído na Lua será usada para substituir recursos que, de outra forma, teriam que ser enviados da Terra, tornando as bases lunares praticamente autossuficientes. O solo da Lua (regolito), por exemplo, poderia ser usado como proteção contra radiação e material de construção para as bases espaciais.
A água, descoberta pela primeira vez na Lua em 2008 pela missão indiana Chandrayaan-1, será importante para beber, cultivar alimentos e resfriar equipamentos.
Missões depois da Chandrayaan-1 mostraram que há grandes concentrações de gelo nos polos lunares – motivo pelo qual as primeiras colônias lunares provavelmente serão construídas nessas regiões, principalmente no polo sul da Lua, embora seja difícil pousar lá.
Essas bases também poderiam ser utilizadas como “salas de trânsito” para astronautas a caminho de Marte.
Para energia, a radiação solar já é usada para alimentar algumas espaçonaves e satélites, mas o regolito e o gelo também poderiam ser usados para produzir combustível para foguetes.
A Lua contém ainda quantidades significativas de hélio-3, um combustível potencial para usinas de fusão nuclear. Portanto, esse é outro motivo pelo qual futuras missões em direção a Marte farão uma parada na Lua – para reabastecer.
Pesquisa científica na Lua
A pesquisa científica está no centro do Programa de Exploração Lunar da ESA, assim como para todas as agências especiais, afirma Sara Pastor, gerente do programa lunar e Gateway da agência europeia.
Os seres humanos têm uma presença contínua no espaço nos últimos 20 anos a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Mas a ISS está a apenas 400 quilômetros da Terra – cerca de quatro horas de viagem após o lançamento. A Lua, porém, está a 400 mil quilômetros – aproximadamente três dias de viagem espacial – e essa jornada é muito mais arriscada para os astronautas.
Por isso, a primeira pesquisa na Lua tem como objetivo tornar essa viagem mais segura e fácil. Além disso, há a ciência ambiental: “[Os cientistas] vão investigar a natureza dos ambientes lunares, como as suas condições únicas afetam a saúde e o desempenho humano, os sistemas de exploração robótica e como a atividade humana impacta esses ambientes”, explica Pastor.
Os pesquisadores pretendem determinar como a água, os metais e outros recursos lunares podem ser usados para sustentar as bases lunares a longo prazo e qual a melhor forma de extraí-los. “A ESA está desenvolvendo instrumentos para medir a radiação, realizar perfurações e análises de amostras in loco, além de estudos de geofísica e clima espacial lunar”, acrescenta a gerente do programa lunar da agência espacial europeia.
Tecnologia lunar beneficia a todos na Terra
Costuma-se dizer que devemos os telefones celulares às missões Apollo das décadas de 1960 e 1970. Embora esses equipamentos não sejam descendentes diretos da tecnologia espacial, aquelas missões ajudaram a miniaturizar dispositivos eletrônicos e de telecomunicações.
Dezenas de tecnologias modernas, desenvolvidas originalmente nos laboratórios das agências especiais, trazem benefícios para a população terrestre – incluindo isolamento térmico para casas, espuma de memória (usada em colchões), alimentos liofilizados, sensores e membros robóticos, além de telemedicina.
Cientistas estão desenvolvendo equipamentos médicos e métodos para monitorar a saúde dos astronautas durante longos períodos em condições extremas do espaço, especialmente para proteger o sistema imunológico humano´. Essas tecnologias também poderiam ser utilizadas na Terra. Um exemplo são os equipamentos portáteis e leves para diagnóstico, que podem ser usados por tripulações sem treinamento médico para monitorar a sua saúde..
O objetivo de longo prazo da construção de bases lunares, na superfície e na órbita, é servir como ponto de apoio para viagens espaciais mais distantes. “Uma colônia na Lua será extremamente útil e um campo de treinamento fundamental para a exploração humana da superfície de Marte”, afirma Pastor.
A Nasa planeja enviar astronautas a Marte a partir de 2030.