14/10/2021 - 19:02
Contágio com o coronavírus apesar de esquema vacinal completo é estatisticamente previsível e depende de fatores individuais. Vacinas são eficazes, e a proteção contra quadros clínicos graves permanece alta.”Infecção pós-vacina em lar de idosos: 15 contagiados, dois mortos”: manchetes como essa deixam muita gente insegura e acirram medos. Será que as vacinas contra a covid-19 não são tão eficazes como se acreditava?
Os pacientes de infecções pós-vacina desenvolvem a doença apesar do ciclo vacinal completo e apresentam sintomas – os casos assintomáticos não se encaixam na categoria. No entanto isso não é prova do fracasso ou da baixa eficácia do imunizante, como se tem afirmado nas redes sociais.
Certo é que nenhuma das vacinas existentes proporciona 100% de proteção contra o novo coronavírus. Segundo cálculos do Instituto Robert Koch (RKI), de controle e prevenção de doenças na Alemanha, nos últimos nove meses comprovou-se uma eficácia de 83% entre os indivíduos de 18 a 59 anos, reduzindo em 95% a necessidade de tratamento intensivo. Acima dos 60 anos, essas taxas são de 82% e 93%, respectivamente.
Há outros fatores determinantes para a proteção vacinal?
O tempo também é um fator. “Como não há aqui ninguém que esteja vacinado há mais de um ano, não podemos dizer quanto tempo a imunização dura”, observa Christine Falk, presidente da Sociedade Alemã de Imunologia (DGfI).
Por outro lado, sabe-se que após seis a nove meses o número de anticorpos se reduz. “Isso não me preocuparia se não tivéssemos a variante delta do coronavírus, pois ela é consideravelmente mais contagiosa do que as anteriores.”
“Quando a defesa imunológica dos anticorpos contra o antígeno spike, criada pela vacinação, não é mais perfeita, o vírus pode atravessar essa linha de defesa, entrar numa célula e lá desencadear uma infecção na área do nariz e garganta”, explica a cientista, que ensina no Instituto de Imunologia de Transplantes da Escola Superior de Medicina de Hanover. “Isso, então, é uma infecção pós-vacina.”
Mas mesmo que a defesa contra contágios retroceda com o tempo, permanece a proteção contra quadros clínicos graves. Segundo relatório do RKI de 7 de outubro de 2021, teve que ser tratado em UTIs apenas 0,56% dos 67.661 casos de infecção pós-vacinação identificados no país desde 1º de fevereiro.
A mortalidade desses pacientes foi de 1,06%. Em comparação: o órgão sanitário alemão estima que na primeira onda de covid-19 na Alemanha, quando ainda não havia vacinas, a letalidade era de 6,2%. Além disso, “entre os 722 pacientes de covid-19 que morreram, 75% tinham mais de 80 anos”, o que corresponderia ao risco de morte, em geral mais alto, nessa faixa etária, “independente da eficácia dos imunizantes”.
O número das infecções pós-vacinais aumentou?
Sim. O RKI registra 8.224 novos contágios entre inoculados de 18 a 59 anos, de 27 de setembro a 3 de outubro. Assim, subiu para 7,2% a parcela de prováveis infecções pós-vacinais sintomáticas nesse grupo etário, considerando todo o período desde o início da campanha de vacinação na Alemanha.
Em relação apenas às quatro semanas até 3 de outubro, a proporção é bem mais alta, 28,4%. A percentagem dos pacientes dessas idades, já inoculados, internados em UTIs desde o começo de 2021 está em 2,2%, contra 7,7% na média de quatro semanas.
Entre os maiores de 60 anos, observam-se igualmente incrementos. Desde o começo da campanha, a parcela de infecções pós-vacina sintomáticas é de 10,1%. Nas quatro semanas até 3 de outubro, houve 7.015 contágios, correspondendo a 52,6% dos casos sintomáticos. A porcentagem dos inoculados nas UTIs é de 6% desde o início do ano ou 24,1% nas quatro semanas.
Entretanto, de acordo com o RKI, essa tendência era “previsível, já que cada vez mais indivíduos estão vacinados, e o Sars-Cov-2 atualmente se propaga com mais força”. Desse modo, também aumenta a probabilidade de alguém com esquema vacinal completo entrar em contato com o virus.
Os não vacinados são responsáveis pelas infecções pós-vacinação?
Não. Mas seu comportamento tem efeitos graves para o transcurso da pandemia e a carga sobre os sistemas de saúde nacionais. “Segundo o relatório semanal do RKI, atualmente o aumento da hospitalização ocorre quase exclusivamente entre não vacinados acima de 60 anos”, diz Christine Falk.
“Os pouquíssimos vacinados que têm que ser internados também pertencem principalmente ao grupo maior de 60 anos.” Se no outono europeu (setembro a dezembro) as cifras de contágio crescerem, serão em primeira linha não inoculados, prossegue a imunologista. Mas também para os vacinados aumenta a probabilidade de infecção “porque mais vírus circulam entre a população”.
Até que ponto a proteção vacinal decai com o tempo?
A proteção não se modifica de forma igual em todos os inoculados, pois há fatores importantes, como idade, doenças pregressas, os intervalos entre as doses e a própria vacina. Ela decai mais rapidamente entre idosos e pacientes portadores de câncer ou submetidos a transplantes, em comparação com outros grupos.
Por isso, em 7 de outubro a Comissão Permanente de Vacinação (Stiko) da Alemanha recomendou reforçar-se a proteção dos maiores de 70 com uma terceira dose. O mesmo se aplica aos funcionários de lares de cuidados especiais e de hospitais. Em Israel, mais de 1 milhão de cidadãos já receberam uma terceira dose.
A eficácia também depende do intervalo entre as doses. “A segunda dose é muito importante para criar uma memória imunológica, a função protetora se baseia nesse efeito”, explica a imunologista Falk. Assim, “o efeito-memória da vacina BioNTech/Pfizer é mais forte depois de 42 dias do que de 21”. No caso do produto da AstraZeneca, também é melhor espaçar as injeções em 12 semanas, em vez de seis.
Por isso, em retrospectiva ela critica a liberação da vacina Janssen, que só prevê uma dose. “Os estudos para licenciamento foram todos feitos com o vírus na forma original. Mas aí veio a mutação alfa, seguida pela delta. Por isso, nem todos os anticorpos criados são capazes de reconhecer tão bem assim a variante delta.”