10/05/2025 - 9:07
Após ataque da Índia, Paquistão lança resposta com mísseis. G7 pede “máxima contenção”. Além de possuírem dois dos maiores exércitos do mundo, países são potências nucleares.As tensões aumentaram na fronteira entre a Índia e o Paquistão. As Forças Armadas paquistanesas anunciaram neste sábado (10/05) ataques com mísseis contra várias posições na Índia, além de outras reivindicações de bombardeios bem-sucedidos contra instalações militares importantes no país vizinho.
Esta foi a primeira resposta do Paquistão desde o ataque realizado em seu território na quarta-feira pela Índia. O governo indiano afirmou que respondeu aos ataques e a maioria dos bombardeios foi neutralizado, além de acusar o exército paquistanês de atacar instalações civis dentro das bases, como um centro médico e uma escola.
Segundo o Paquistão, até 50 soldados indianos foram mortos na fronteira. Já os bombardeios indianos na região da Caxemira administrada pelo governo paquistanês, teriam deixado cinco civis mortos, incluindo uma menina de dois anos.
O aumento das tensões entre as duas potências nucleares gerou temores em todo o mundo sobre seu potencial de escalada. Os ministros do Exterior dos países do G7, grupo formado por Itália, Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido, Estados Unidos, além da União Europeia, pediram que a Índia e o Paquistão a exercerem “a máxima contenção”.
“Uma nova escalada militar coloca a estabilidade regional em sério risco. Estamos profundamente preocupados com a segurança dos civis de ambos os lados”, diz um comunicado conjunto. O grupo de países mais industrializados do mundo apelou ainda para “o diálogo direto” entre as duas potências nucleares, “com vista a uma saída pacífica”.
Dois dos maiores exércitos do mundo
Com quase 1,5 milhão de soldados ativos, as forças armadas da Índia são a segunda maior da Ásia, atrás apenas da China. Além disso, o país possui ainda 1,1 milhão de reservistas que poderiam ser recrutados em caso de emergência, e cerca de 2,5 milhões de pessoas que poderiam serem organizadas em unidades paramilitares. No total, isso significa que até 5 milhões de pessoas poderiam ser mobilizadas para uma guerra.
Já o Paquistão, possuiu 650 mil soldados – o quinto maior exército do continente. O país tem ainda cerca 550 mil reservistas e um número semelhante de paramilitares, totalizando cerca de 1,7 milhão de combatentes armados.
Nenhum dos dois países fornece números exatos sobre quantos militares e paramilitares estão alocados na Caxemira. Estima-se que a Índia mantenha mais de 750 mil soldados em Jamu e Caxemira, concentrados principalmente no Vale da Caxemira, de maioria muçulmana. O Paquistão, por sua vez, conta com 150 mil militares na região, além de vários grupos militares – considerados organizações terroristas pela Índia.
Ambos os lados acusam o outro de exagerar nas provisões militares, e nenhum deles publica números precisos. Entretanto, analistas avaliam que a densidade militar da região, especialmente em relação à população civil, é semelhante à da península coreana.
Ao contrário da Índia, as forças armadas sempre tiveram um papel de destaque na política e sociedade do Paquistão. Desde a fundação do Estado em 1947, houve vários golpes militares. Até hoje, a liderança militar exerce influência indireta na política externa e de segurança, bem como em mudanças do governo. As forças armadas também estão envolvidas na economia, com participações em várias empresas.
Peso pesado militar
A Índia é um peso pesado absoluto quando se trata de gastos militares. De acordo com o último relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), Nova Déli gastou cerca de 86 bilhões de dólares em defesa no ano passado – o maior volume da história do país.
Nos últimos anos, o orçamento militar da Índia tem crescido continuamente e, hoje, é cerca de oito vezes maior do que o do Paquistão, com 10,2 bilhões de dólares de gastos militares.
Em 2024, a Índia foi o segundo país do mundo que mais importou armas, atrás apenas da Ucrânia. A maior parte desse equipamento vem da Rússia. Além disso, empresas de defesa indianas e russas trabalham juntas há anos em pesquisa, desenvolvimento e produção de sistemas de armas. Entre os fornecedores de armas para o país estão ainda França, Estados Unidos e Israel.
Dependente da China
De acordo com o Sipri, o Paquistão é o quinto maior importador de armas do mundo. Nos últimos anos, Islamabad tem investido em suas forças aérea e marinha. O principal fornecedor é a China – 81% do equipamento militar paquistanês foi comprado de lá.
As relações entre China e Índia são tensas, principalmente devido a conflitos fronteiriços, também na Caxemira. Mas Pequim mantém relações econômicas estreitas com o Paquistão. Produtos chineses têm acesso ao Oceano Índico através do Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC). O porto de Gwadar, usado pela marinha chinesa, fica no fim dessa rota.
Arsenais nucleares equilibrados
Em termos de números e tecnologia, as forças armadas da Índia são claramente superiores as do Paquistão. Mas o que torna o conflito na Caxemira e qualquer escalada perigosos é o fato de Índia e Paquistão possuírem arsenais nucleares. Segundo estimativas do Sipri, cada um dos países possui cerca de 170 ogivas nucleares.
Ambos os países estão comprometidos em manter um arsenal que seja suficiente para garantir um meio de intimidação confiável. Embora a Índia tenha em 1999 se comprometido unilateralmente de se abster de um primeiro ataque nuclear, o Paquistão não fez nenhuma declaração semelhante tendo em vista sua inferioridade militar em relação ao país vizinho. Caso Islamabad seja forçada a ficar na defensiva durante uma guerra, é mantido em aberto a opção de ser o primeiro a usar o arsenal atômico.
A história moderna do conflito remonta a 1947, quando a Índia Britânica foi dividida em Índia, de maioria hindu, e Paquistão, de maioria muçulmana. O que hoje constitui o território indiano de Jamu e Caxemira – parte da região mais ampla da Caxemira – era, na época, governado pelo marajá hindu Hari Singh, que inicialmente se recusou a se juntar a qualquer um dos países.
Desde então, Índia e Paquistão travam guerras entre em si, a última em 1971. Como jovens potências nucleares, os dois países se enfrentaram no Conflito de Cargil, em 1999, mas conseguiram evitar uma escalada maior após alguns meses. Ambas as nações vêm então expandindo seus arsenais nucleares.