14/05/2023 - 11:47
Nos tempos em que dinossauros aquáticos de 25 metros nadavam nos mares e tiranossauros rex e tricerátops vagam pelo solo em que caminhamos hoje, a Terra era um lugar bem quente para se viver. Muito quente. Durante o Período Mesozoico, há entre 250 e 66 milhões de anos, a concentração de CO2 na atmosfera era cerca de 16 vezes maior do que agora, criando um “clima de efeito estufa” com temperaturas em média de seis a nove graus mais elevadas do que as atuais.
Cientistas supõem que o metano liberado em arrotos e na flatulência de dinossauros – semelhante como ocorre com o gado atualmente – tenha contribuído para o aquecimento global naquele período. Mas a principal razão para isso foi o lento início da separação do supercontinente Pangeia. Esse processo não criou apenas os continentes como existem hoje, mas também promoveu uma mudança climática.
O deslocamento de paisagens inteiras e continentes provocou enormes erupções vulcânicas que expeliram gases prejudiciais ao clima na atmosfera, aquecendo assim o planeta. Também causou chuvas ácidas, acidificação oceânica e uma mudança radical na composição química da terra e da água, provocando uma extinção em massa que preparou o caminho para o surgimento dos dinossauros.
Hoje ainda estamos longe de alcançar as temperaturas que transformaram o planeta numa estufa durante o Período Mesozoico. Mas a queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo e gás, em níveis inéditos já aqueceu a Terra em 1,1°C em comparação com os níveis pré-industriais.
Como resultado, a saúde do ecossistema está se deteriorando numa velocidade nunca vista, com impactos dramáticos para os humanos, assim como para o meio ambiente terrestre e marinho em todo o mundo.
Por exemplo: cientistas afirmam que a duração do período de seca na América Central aumentará em cinco meses com um aquecimento de 1,5°C, em oito com um aumento de 2°C e em 19 meses, se as temperaturas subirem 3°C.
Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem descontroladas, cientistas preveem que a marca de 3°C será atingida até o final deste século, levando a inundações sem precedentes, tempestades, ao aumento do nível do mar e a ondas de calor extremo. Pesquisadores alertam que a crise climática é uma ameaça existencial para os humanos.
Melhor adaptados?
O fato de que os dinossauros terem se habituado bem com as condições climáticas daquele período se deve a um fator decisivo: o tempo.
Embora a concentração de CO2 na atmosfera fosse extremamente alta no Mesozoico, ela aumentou muito devagar. No passado, o aquecimento do planeta em vários graus levou milhões de ano. Agora, com a queima de combustíveis fósseis, o clima foi mudado radicalmente em apenas dois séculos.
Segundo Georg Feulner, do Instituto de Pesquisas sobre o Impacto Climático de Potsdam (PIK), esse ritmo mais lento de aquecimento possibilitou à natureza a chance de se adaptar. “Espécies de animais que não gostavam de calor podem se mover para latitudes mais altas, em direção aos polos, por exemplo. Ou também podem se adaptar por meio de processos evolutivos”.
Feulner afirma que, desde que o aquecimento ocorra lentamente e seus impactos não atinjam uma civilização altamente tecnológica com infraestrutura existente, essa mudança não tem sido um grande problema até agora.
Mas ele acrescenta que o calor extremo pode tornar regiões inabitáveis para certas espécies “porque há limites fisiológicos para animais e humanos”. Todos os anos, centenas de milhares morrem em todo o mundo devido ao calor extremo.
Até dinossauros têm problemas se as coisas acontecem rápido
Estima-se que seria necessário um investimento global de mais de 300 bilhões de dólares (R$ 1,47 trilhão) até 2030 para os humanos se adaptarem a um planeta mais quente e às tempestades extremas, secas e ondas de calor que as temperaturas mais altas prometem trazer. Mais bilhões são necessários para a transição energética fundamental para interromper o aquecimento descontrolado contínuo.
A história mostra que as cinco grandes extinções em massa que o planeta testemunhou até agora estão ligadas a um aquecimento ou resfriamento radical da Terra, assim como a mudanças nos ciclos químicos marítimos ou terrestres.
Por exemplo, o impacto de um asteroide há 67 milhões de anos gerou uma enorme nuvem de poeira e provocou erupções vulcânicas violentas em todo o mundo, escurecendo o céu e esfriando radicalmente o clima. Esse resfriamento drástico e comparativamente rápido deixou pouco tempo para a adaptação e significou o fim da era dos dinossauros, com a extinção de 76% das espécies da época.
Em uma extinção em massa, pelo menos três quartos de todas as espécies desaparecem em cerca de 3 milhões de anos. Alguns cientistas, que observam as taxas de desaparecimento de espécies atuais, acreditam que estamos no meio da sexta extinção em massa. Somente nas próximas décadas, estima-se que pelo menos um milhão das oito milhões de espécies conhecidas correm o risco de sumir. Muitos pesquisadores acreditam que os números reais podem ser bem maiores.