05/07/2023 - 7:16
Nos Museus Vaticanos, em Roma, uma das atrações é o Grupo de Laocoonte. A escultura de mais de dois metros de altura e cerca de 2 mil anos mostra o sacerdote do culto a Poseidon em Troia e seus filhos. Reza a lenda que Laocoonte aconselhou seus compatriotas a não trazerem para dentro da cidade um gigantesco cavalo de madeira deixado diante de seus portões pelos gregos, por suspeitar de um estratagema dos sitiantes.
De fato: guerreiros se escondiam no cavalo, o que selou a queda de Troia. Esse fora o plano dos deuses e, por ter interferido, Laocoonte foi condenado a ser morto por cobras, juntamente com seus filhos.
Uma história emocionante de tempos passados e uma escultura dramática e magistral, porém um detalhe peculiar também chama a atenção: o pênis de Laocoonte é extremamente curto. E ele não está sozinho: os museus estão cheios de estátuas de homens musculosos com órgãos genitais minúsculos.
De luxúria e autocontrole
Por que será que os escultores da Antiguidade representavam os homens de maneira tão modesta? “Humm, eu fui ginecologista”, diz um turista holandês com um sorriso, “não me preocupo tanto com a parte inferior dos homens.” Mas ressalva: “Embora, estatisticamente falando, se diga que os pênis dos homens do Sul são mais curtos do que os dos do Norte.”
Definitivamente não foi esse o motivo, esclarece a arqueóloga e guia de turismo Chiara Giatti. “Para os gregos e romanos antigos, órgãos genitais grandes eram considerados feios. Os escultores só modelavam órgãos genitais pequenos para deixar claro: este homem é um intelectual racional e, como tal, tem seus instintos sob controle.”
O homem da Antiguidade tinha, portanto, um alto grau de autodomínio e sabia se controlar − em contraste com os bárbaros e alguns deuses, incluindo Dionísio, o deus do vinho, do prazer e do êxtase. Em seu séquito estavam sempre os sátiros, híbridos de homem e bode que celebravam festas extravagantes e se divertiam com as ninfas nativas das florestas.
“Esses deuses e espíritos da floresta eram lascivos, então seus órgãos eram retratados de forma correspondente”, diz Giatti. O maior de todos, sem dúvida, pertencia a Príapo, filho de Dionisio com a deusa do amor, Afrodite. O bebê de falo anormalmente grande foi abandonado pela mãe nas montanhas. Lá, os pastores o encontraram, o criaram e passaram a adorá-lo como um símbolo de fertilidade, justamente por causa de seu pênis impressionante.
Michelangelo inspirou-se na Antiguidade
O pênis pequeno como ideal de beleza era, de início, uma noção grega. Cerca de 2.400 anos atrás, o dramaturgo Aristófanes registrava como deveria ser o corpo masculino ideal: “Peito lustroso, pele clara, ombros largos, língua minúscula, nádegas fortes e pênis pequeno”.
Os romanos adotaram essa ideia. E não apenas eles: artistas renascentistas como Michelangelo e Rafael ficaram entusiasmados com as obras-primas perfeitamente modeladas da Antiguidade e se orientaram por elas em suas obras.
Por isso, o Davi de Michelangelo, por exemplo, que foi esculpido num único bloco de mármore entre 1501 e 1504, mede mais de cinco metros e pesa quase seis toneladas, e pode ser admirado na Galleria dell’Accademia de Florença, é equipado com um pênis mais do que modesto.
Estudo: “ervilhas” estão ficando mais longas
Hoje em dia vê-se a genitália masculina com outros olhos. Minifalos são ridicularizados, pênis grandes simbolizam masculinidade e significam sucesso.
E, de acordo com um estudo recente da Universidade Stanford, na Califórnia, a tendência é crescente: nos últimos 30 anos, os órgãos genitais masculinos aumentaram 24% em várias regiões do mundo e em todas as faixas etárias, concluiu recentemente a equipe de pesquisadores na revista especializada World Journal of Men’s Health.
Nos tempos antigos, tal exagero teria causado horror estético. “O comprimento não importa, as mulheres já sabem disso há muito tempo”, comenta uma turista de Israel diante do Grupo de Laocoonte enquanto fotografa o venerável minifalo.
Aliás, na Itália os pênis são coloquialmente chamados de piselli, literalmente: “ervilhas”. Diz-me como te chamas, e eu te direi como és.