27/11/2025 - 8:40
Material considerado tradicional no território pode ter sido uma das causas do fogo que deixou mais de 50 mortos.O incêndio que deixou mais de 50 mortos no complexo residencial de Wang Fuk Court, o mais mortal da história de Hong Kong, trouxe à tona novamente o debate sobre o risco do uso de andaimes de bambu e materiais inflamáveis nas construções locais.
A origem do fogo ainda é incerta, mas imagens mostram a facilidade com que o fogo se espalhou pelas estruturas, derrubando treliças de bambu que caíram em chamas pelo chão. Ao menos 55 pessoas morreram. O líder de Hong Kong, John Lee, indicou uma força-tarefa para investigar as causas do incêndio. O complexo de oito edifícios de 31 andares passava por reformas na fachada.
O uso do material sustentável em obras de grande altura é uma comum na ex-colônia britânica e remonta a uma tradução antiga da China continental. Há décadas, o bambu, encontrado em abundância no território, vem sendo amplamente utilizado e é costume que os andaimes sejam amarrados com cordas de nylon e cobertos com redes de proteção na parte exterior dos edifícios de Hong Kong.
A instalação permite envolver com agilidade prédios de dezenas de andares de altura. No entanto, vêm sendo alvo de atenção por serem facilmente inflamáveis e pela dificuldade de controle de qualidade e da origem dos materiais.
Em março deste ano, o governo de Hong Kong anunciou que a metade dos novos contratos públicos deverão utilizar andaimes de metal. A medida visava melhorar a segurança dos trabalhadores, mas não levava em conta os riscos de incêndios.
Meses depois, o secretário de Trabalho de Hong Kong, Chris Sun, afirmou que o Executivo não pretendia proibir o uso de bambu nas obras.
Tradição perigosa
Símbolo de força e perseverança, o bambu vem sendo utilizado pela arquitetura asiática desde os tempos antigos, tendo sido empregado em andaimes e ferramentas inclusive durante a construção da Muralha da China.
Mesmo com a sua substituição por materiais mais modernos – atualmente, o número de andaimes de metal em Hong Kong é três vezes maior –, ainda há cerca de 2.500 estruturas de bambu no território, de acordo com dados oficiais.
Entre 2019 e 2024, pelo menos 22 mortes envolvendo andaimes de bambu foram registradas na ex-colônia britânica. Em outubro, um andaime de bambu pegou fogo na Chinachem Tower, no centro de Hong Kong. As chamas consumiram as redes de proteção e os mastros de bambu, deixando as janelas queimadas e as paredes externas gravemente chamuscadas, numa imagem similar à que ocorreu no Wang Fuk Court.
Em um post nas redes sociais, a Associação pelos Direitos das Vítimas de Acidentes Industriais de Hong Kong afirmou que houve, em 2025, ao menos outros dois incêndios envolvendo estruturas de bambu.
Redes de proteção, telas e lonas de plástico colocadas na frente dos andaimes “precisam devem ter propriedades adequadas de retardamento de fogo, em conformidade com as normas reconhecidas”, afirma o Código de Práticas para a Segurança de Andaimes de Bambu do Departamento do Trabalho de Hong Kong.
Engenheiros citados pelo jornal South China Morning Post, de Hong Kong, disseram que, mesmo se estiverem seguindo as normas técnicas, esses revestimentos não impedem que as estruturas queimem se forem expostas a uma fonte de calor intenso ou se houver materiais combustíveis nos andaimes.
Prisões e investigação
No caso de Wang Fuk Court, as autoridades consideraram “pouco usual” o avanço do fogo, que se propagou rapidamente por sete dos oito blocos do complexo, algo que vem sendo atribuído ao uso de espuma de poliestireno, ou isopor, na vedação das janelas.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, também classificou o incêndio como uma “catástrofe massiva” e disse que o governo vai revisar os projetos de construção em curso para garantir o cumprimento dos padrões de proteção contra o incêndio. Lee também informou que serão realizadas investigações administrativas e criminais para determinar possíveis falhas de supervisão.
Até agora, a polícia de Hong Kong efetuou a prisão de dois diretores e um consultor da empreiteira Prestige Construction & Engineering, sob acusação de homicídio culposo. A medida foi tomada após a descoberta de materiais inflamáveis deixados durante trabalhos de manutenção no complexo de edifícios.
Mais de 700 bombeiros estão envolvidos no combate aos incêndios, além de equipes de pronto-socorro e policiais.
Este é já o incêndio mais fatal da história do território. Em 1996, quando Hong Kong ainda era uma colônia britânica, um incêndio num edifício comercial em Jordan, na zona de Kowloon, deixou 41 mortos e 81 feridos.
flc/cn (Reuters, EFE, Lusa)
