25/06/2025 - 7:36
Regime dos aiatolás tinha uma arma que poderia impactar economia global: pelo Estreito de Ormuz passam por dia 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis.O conflito entre Israel e o Irã, com a intervenção dos Estados Unidos, deixou o mundo em suspense por alguns dias, mas agora a situação parece ter se acalmado. No Irã, o regime dos aiatolás tentou impor sua narrativa à própria população e disse que o ataque iraniano a uma base militar dos EUA no Catar contribuiu para que o cessar-fogo fosse “imposto ao inimigo sionista”.
Porém, o ataque à base catari foi, ao que tudo indica, feito na medida para manter as aparências: forte o suficiente para virar manchete e servir de propaganda interna ao regime em Teerã e fraco o suficiente para não causar danos nem ao Catar nem aos EUA – o Irã, afinal, notificou os EUA com antecedência sobre a ofensiva.
Nos mercados financeiros, em vez de causar pânico, o ataque à base dos EUA no Catar gerou alívio, e os preços do petróleo despencaram na noite de segunda-feira.
E isso apesar de o Irã ter um trunfo poderoso nas mãos: o Estreito de Ormuz, por onde são transportados cerca de 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis por dia. Se bloqueado, o impacto na economia global seria forte. Mas isso teria sido bom ou ruim para o Irã?
Se comparada à de muitos outros países no Oriente Médio, a economia iraniana é até diversificada, de acordo com a EIA, a agência de informação de energia dos EUA. Só que a indústria do país atende sobretudo o mercado interno.
Assim, as exportações de petróleo bruto e derivados de petróleo acabam sendo uma importante fonte de divisas e de receita para o governo. Elas representam mais de 17% do total das exportações (só o gás quase 12%).
Em 2023, o país era o quarto maior produtor de petróleo bruto da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e, em 2022, o terceiro maior produtor de gás natural seco (gás com apenas uma pequena proporção de gases de rápida condensação, como o hidrogênio), de acordo com a EIA.
Exportações apesar das sanções
O regime do Irã é, já há muitos anos, alvo de sanções internacionais, mas isso não o impediu de exportar petróleo. Quem mais lucrou com isso foi a China. Em 2023, quase 90% das exportações iranianas foram para o país asiático.
Em 2023, o país exportou mais de 35 bilhões de dólares em petróleo, segundo o ministro do Petróleo, Javad Owji, citado pelo jornal britânico Financial Times. Naquele ano o setor petrolífero representou mais de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano seguinte, os volumes de petróleo exportados aumentaram ainda mais, de acordo com estimativas que se baseiam em dados da empresa de análise Vortexa.
O bloqueio do Estreito de Ormuz teria, portanto, prejudicado o próprio Irã, pois sua própria receita com a venda de petróleo teria sido afetada. Além disso, o Irã teria irritado seu principal parceiro comercial, a China, que se beneficia do petróleo barato iraniano.
A emissora de TV Iran International, que tem sede em Londres, estima que o Irã vende seu petróleo com um desconto de 20% em relação ao preço de mercado, pois o comprador assume o risco de ter problemas devido às sanções americanas. “As refinarias chinesas são as principais compradoras dos embarques ilegais de petróleo do Irã, que são misturados por intermediários com fornecimentos de outros países e declarados na China como importações de Singapura ou de outros locais”, informou a emissora.
A China importa quase 11 milhões de barris de petróleo bruto por dia, e cerca de 10% vêm do Irã, de acordo com a Rystad Energy, uma empresa de pesquisas em energia com sede na Noruega.
Bloqueio teria ainda afetado países vizinhos
Um bloqueio do Estreito de Ormuz poderia ainda gerar tensões com países vizinhos. Kuwait, Iraque e Emirados Árabes Unidos também transportam seu petróleo por essa passagem. Se fechasse o estreito, Teerã “minaria as alianças que ainda restam com os Estados da região”, avalia o economista, Justin Alexander, especialista em Golfo Pérsico.
Resta ainda a questão de por quanto tempo o Irã conseguiria manter o bloqueio. Ele poderia levar a uma forte e imediata resposta militar dos EUA e de países europeus, avalia o analista Homayoun Falakshahi, da empresa de análise Kpler, em declarações ao site alemão Tagesschau. Ele diz que o Irã conseguiria manter o Estreito de Ormuz fechado por no máximo dois dias.
Sanções e inflação
Uma nova piora da situação econômica também não seria bem recebida pela população iraniana. Com as sanções, o padrão de vida voltou ao que era há 20 anos, avalia o professor de economia Djavad Salehi-Isfahani, da universidade americana Virginia Tech.
As sanções valem não só para a indústria petrolífera, mas também para os pagamentos internacionais ao Irã. Isso impulsionou a inflação. Ela teve forte alta desde o início do ano, atingindo mais de 38,7% em maio de 2025, na comparação com maio de 2024. As sanções e a desvalorização cambial estão tornando a vida cotidiana no Irã cada vez mais cara.