11/11/2025 - 16:47
De 28 episódios em 2024, 23 aconteceram na região. América do Sul é segundo lugar mais propício do mundo a estas tempestades, que podem aumentar com mudanças climáticas.Excepcionalmente rápidos, altamente destrutivos e mais comuns do que podem parecer. Assim são os tornados que ameaçam sobretudo a região Sul, a mais propensa no país a este fenômeno meteorológico severo, tal como o que arrasou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, na sexta-feira (07/11). Pelo menos sete pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas.
Um levantamento da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) contabilizou 23 tornados no Sul em 2024, dentre 28 em todo o Brasil. Paraná e Rio Grande do Sul tiveram dez casos cada, e Santa Catarina registrou três ocorrências. Mais três casos aconteceram na Bahia, além de um em Alagoas e outro no Pará.
Os mesmos pesquisadores já estimaram que 70% dos tornados em solo brasileiro se passem no Sul — dentre 581 tornados no país estudados entre 1975 e 2018, 411 foram na região.
A suscetibilidade do Sul se explica pela sua posição geográfica, que faz dele um corredor atmosférico. Lá passam tanto ventos quentes e carregados de umidade vindos da Amazônia quanto massas polares oriundas do Sul-Sudoeste. O encontro entre as duas correntes favorece a formação de tempestades severas com movimentos giratórios, que são os tornados.
Como se formam os tornados?
O tornado em Rio Bonito do Iguaçu se originou a partir de uma supercélula, ou seja, uma tempestade severa formada num ambiente de instabilidade, com uma importante variação na velocidade dos ventos correndo em diferentes altitudes — é o que especialistas chamam de “cisalhamento vertical do vento”.
Uma corrente de ar fria descendente e outra ascendente entram em rotação e formam uma coluna de ar giratória, chamada de mesociclone. A partir daí, se forma o tornado, que se desloca de 30 a 60 km/h, com velocidade de giro que pode ultrapassar os 400 km/h.
De junho de 2018 a fevereiro de 2025, foram registrados 1.451 tornados no Brasil pela Plataforma de Registros de Tempo Severo (PRETS), base de dados mantida por uma iniciativa de meteorologistas.
O número inclui tornados que se formam sobre a água, sem a presença de tempestades, e eventualmente diversos pontos onde uma mesma tempestade provocou danos. O Sul foi, também nesta contagem, a região mais afetada.
América do Sul é foco no planeta
Os Estados Unidos são os campeões mundiais de tornados registrados — são em média 1.225 ao ano —, e pesquisas já apontaram a América do Sul como o segundo lugar do mundo mais propício à sua ocorrência. A área de maior potencial inclui Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia.
O cálculo, entretanto, é dificultado pelo fato de que, ao contrário de fenômenos meteorológicos que podem ser medidos com instrumentos fixos, os tornados precisam ser observados por seres humanos.
“A defesa civil registra os casos em que ela é chamada. Mas muitos tornados acontecem sem que ela seja acionada. Às vezes, em comunidades rurais e distantes, as pessoas resolvem os problemas que resultam dos tornados por conta própria”, explica a professora Karin Linete Hornes, do Departamento de Geociências da UEPG.
Quando eles se manifestam em lugares nada ou pouco povoados, o mais provável é que não sejam documentados. No Sul brasileiro, este é caso frequente dos tornados em zonas rurais, podendo gerar danos para plantações.
O tornado em Rio Bonito do Iguaçu foi excepcional também pela velocidade dos ventos, estimados entre 300 km/h e 330 km/h pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar). Outros dois tornados menores foram registrados no Paraná com ventos entre 200 km/h e 250 km/h.
Aumento de registros
Nas últimas décadas, o crescimento da população em áreas suscetíveis e o desenvolvimento de tecnologias e iniciativas para rastreá-los tem feito aumentar a incidência conhecida dos tornados e dos danos provocados, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Falta ainda, entretanto, um registro oficial e unificado para o Brasil.
“As pessoas costumam usar mais o termo ‘redemoinho’. Muitas acham até que é mentira que temos tornados no Brasil. Mas, infelizmente, cada vez mais nós vemos este fenômeno,” diz Hornes. “A falta de informação faz com que pessoas vão de encontro ao tornado, por exemplo, porque não sabem que não dá para passar.”
Para ela, maiores esforços de registro de tornados são importantes para moldar políticas públicas, redesenhar as normas para construções e tornar as cidades resilientes a desastres naturais.
Especialistas alertam que as mudanças climáticas poderão torná-los ainda mais frequentes. “A possibilidade de eventos extremos como esse aumenta,” afirmou Michel Mahiques, professor da Universidade de São Paulo, à Agência Brasil, sobre o tornado recente no Paraná.
Difíceis de detectar
A detecção de tornados iminentes e o aviso à população a tempo, entretanto, são um desafio para meteorologistas e órgãos de defesa civil. Em geral, só é possível emitir alertas poucos minutos antes de os tornados atingirem áreas habitadas.
O ideal para se proteger dos tornados são os porões ou ambientes de segurança, incomuns no Brasil. A recomendação para tempestades severas, portanto, inclui procurar um local com estrutura de concreto, laje e ferro — em geral, os banheiros dentro de uma casa.
Para quem se encontra em construções frágeis, é indicado se enrolar em cobertores e colchões. Devem ser evitados árvores, postes e campos abertos, bem como estruturas de vidro ou portas em interiores, que podem facilmente colapsar.
Nos Estados Unidos, o governo mantém uma contagem oficial de tornados registrados desde 1950. O ano de 2024 teve o segundo maior número, com 1.791 episódios contabilizados.
O recorde é de 2004, quando houve 1.813 casos reportados, e o tornado mais fatal aconteceu em 18 de março de 1925, quando 695 pessoas morreram nos estados de Missouri, Illinois e Indiana.
