Com o aumento da poluição luminosa causada pelo brilho noturno das luzes artificiais, a quantidade de estrelas visíveis a olho nu reduziu-se drasticamente nos últimos anos, de acordo com um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (19/01).

Em grande parte da superfície terrestre, o céu noturno não faz mais a transição completa do pôr do sol para a luz das estrelas e da Lua. Em vez disso, o céu também brilha com um crepúsculo artificial causado pela dispersão da luz elétrica na atmosfera.

O sky glow, como é chamado esse brilho constante e difuso do céu, cresceu exponencialmente durante grande parte do século 20, como resultado do crescimento populacional, expansão demográfica e implantação de novas tecnologias de iluminação.

Para analisar como a poluição luminosa decorrente da luz artificial está afetando a visão humana do céu noturno, os pesquisadores utilizaram observações estelares feitas por mais de 51 mil “cientistas cidadãos” de diversos países, entre 2011 e 2022.

Os participantes do projeto Globe at Night, do Laboratório Nacional de Pesquisa em Astronomia Óptica e Infravermelha dos Estados Unidos, receberam mapas estelares com diferentes níveis de poluição luminosa e deveriam apontar qual deles se parecia mais com o céu noturno de sua cidade.

A conclusão é que a diminuição no número de estrelas visíveis foi causada por um aumento do brilho do céu noturno de cerca de 7% a 10%, dependendo da região.

Para exemplificar, os pesquisadores explicaram que, caso essa tendência permaneça, uma criança nascida numa determinada localidade onde atualmente 250 estrelas são visíveis, daqui a 18 anos provavelmente só conseguirá ver 100 estrelas.

Impacto das lâmpadas LED

Em princípio é possível medir o brilho do céu por meio de observações de satélite. Porém, os instrumentos que atualmente monitoram a Terra têm resolução e sensibilidade limitadas, sendo incapazes de detectar luzes com comprimento de onda abaixo de 500 nanômetros.

As lâmpadas LED de cor branca, por exemplo, muito usadas na iluminação externa, costumam ter pico de emissão entre 400 e 500 nanômetros. Assim, os cientistas optaram por usar o olhar humano como “sensor”.

O estudo coincidiu com o período de substituição de grande parte da iluminação externa por lâmpadas LED, mas o impacto no brilho do céu por causa dessa transição ainda não é claro.

“Alguns pesquisadores previram que seria benéfico, enquanto outros disseram que poderia ser prejudicial por causa de mudanças espectrais ou um efeito rebote, no qual a alta eficácia luminosa do LED leva à instalação de mais lâmpadas, mais brilhantes ou ao aumento do tempo de operação delas”, explicam os autores da pesquisa.

Segundo ela, a participação das lâmpadas LED no mercado global cresceu de menos de 1% em 2011 para 47% em 2019, e “a visibilidade das estrelas está se deteriorando rapidamente apesar (ou talvez por causa) da introdução de lâmpadas LED para iluminação externa”.

Christopher Kyba, físico do Centro Alemão de Pesquisa em Geociências e principal autor da pesquisa, explica a relevância de um estudo como esse: “É importante por dois motivos. É a primeira vez que o brilho do céu foi analisado em escala continental. Em segundo lugar, mostra que as normas e legislações existentes não estão conseguindo reduzir o sky glow, ou mesmo deter seu aumento.”

fa/av (AFP,Reuters,ots)