13/04/2016 - 22:01
Falar sobre a importância da água para o homem parece algo redundante, mas é extremamente pertinente. Mudanças climáticas e a projeção de crescimento exponencial da população do planeta nas próximas décadas impõem a urgência de se priorizar a pauta da gestão hídrica. Hoje em dia, cerca de 2,6 bilhões de pessoas não possuem acesso à água limpa e a saneamento básico. O fornecimento de água potável está sob ameaça para 60% da população global. Eventos climáticos extremos ameaçam centenas de milhares de cidades. Mas ainda existem saídas.
CINCO DESAFIOS
1- Mais da metade da população mundial vive uma situação de grave escassez de água um mês por ano
Ao revelar que a falta de água atinge mais de 4 bilhões de pessoas por no mínimo um mês no ano, um grande estudo internacional divulgado em fevereiro na revista Science Advances mostrou que o problema é bem pior do que se pensava antes. A pesquisa apontou ainda que 500 milhões de pessoas vivem em áreas onde o volume do consumo de água anual é o dobro das chuvas registradas no período, o que torna esses habitantes extremamente vulneráveis à medida que os aquíferos subterrâneos se esgotam. A maioria dessas regiões está na Índia e na China, mas também é preocupante a situação do sudoeste dos Estados Unidos e da Austrália. No Brasil, o cenário mais grave está no interior do Nordeste.
2- Em 2050, haverá mais plástico do que peixes nos oceanos
Um estudo realizado pela Fundação Ellen MacArthur, da Inglaterra, estimou que em 2050 a massa de plástico será maior que a de peixes nos oceanos. O material é extremamente nocivo para a fauna e a flora marinhas. Quando chega ao mar, o plástico se decompõe em partículas pequenas, tornando a limpeza da água uma tarefa muito complicada. A solução recomendada pelos pesquisadores é diminuir o consumo, buscar opções ao petróleo na fabricação de embalagens e reciclar.
3- A demanda por água vai superar a oferta em 40% até 2030
O aumento progressivo da população mundial levará a uma crise da oferta de água em 2030. Até esse ano, a classe média global vai saltar de 2 bilhões de pessoas para 5 bilhões. Esse cenário é bem preocupante, uma vez que, atualmente, 70% da água disponível é utilizada para a produção de alimentos e, mesmo assim, 870 milhões passam fome. Além disso, a água é fundamental para processos industriais e para a geração de energia – e, em ambos os casos, a quantidade disponível também está deficitária.
4- A maior parte da água residual é descartada na natureza sem nenhum tratamento
De acordo com dados reunidos pelo World Water Council, mais de 80% da água utilizada pelo homem acaba descartada no meio ambiente sem tratamento, causando prejuízos ao homem e à natureza. Todo ano, 3,5 milhões de pessoas morrem de doenças relacionadas à má qualidade da água.
5- Ainda desperdiçamos e consumimos demais
A demanda por água só tende a aumentar, os hábitos de consumo são altos e, ainda por cima, as perdas nos sistemas de distribuição mundo afora são elevadas. Em um estudo publicado em 2015 relativo a 43 países, a International Benchmarking Network for Water and Sanitation Utilities mostrou números preocupantes. Até mesmo países desenvolvidos como a Noruega tinham índices de 44% de desperdício de água. No Brasil, esse volume é – oficialmente – da ordem de 39%.
CINCO BOAS NOVAS
1- É possível salvar os rios salvando florestas
De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, na Bacia do Cantareira, que abastece São Paulo, restam 21,5% da vegetação nativa. Mas recuperar apenas 3% dessa mata, segundo a organização The Nature Conservancy, pode reduzir o assoreamento nos cursos d’água em até 50%. Entre ambientalistas, recuperar as matas ciliares é viável e muito mais vantajoso, tanto ambientalmente, quanto financeiramente – obras de captação podem custar bilhões.
2- A água do esgoto pode ser potável
A Janicki Bioenergy, com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, criou o OmniProcessor, uma planta com tecnologia de baixo custo capaz de converter esgoto em água potável, eliminar os resíduos sólidos e gerar energia. A falta de saneamento básico é um problema sério que afeta duas a cada cinco pessoas no mundo. O próximo módulo do processador produzirá 86 mil litros de água e 250 quilowatts de eletricidade por dia, com os efluentes de 100 mil pessoas.
3- A dessalinização será mais viável
Cerca de 71% da superfície da Terra está coberta de água, mas, desse total, 97% é salgada. Dessalinizar, porém, não é uma opção em conta na maioria dos casos por ter um custo energético elevado – até dez vezes mais do que a captação direta. O desenvolvimento de novos materiais, como o grafeno (forma ultrafina e extremamente resistente do carbono), pode tornar o processo mais barato no futuro. Já existem empresas e instituições de pesquisa de vanguarda, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), trabalhando com a tecnologia.
4- O ar é potável
Usar a umidade do ar para a obtenção de água potável não é novidade. Existem registros de que os incas captavam o orvalho para o consumo, uma espécie de reserva. Novas tecnologias têm tornado possível a captação de água da atmosfera em maiores escalas, com velocidade e custos energéticos cada vez mais baixos. Uma das tecnologias mais recentes promete gerar até 800 litros por dia, dependendo do clima, a custos acessíveis.
5- Existe água em Marte
É cedo para tirar conclusões sobre o significado da descoberta de água corrente em Marte, anunciada no ano passado. Mas a notícia é mais uma evidência importante da existência recorrente desse recurso natural pelo espaço afora. Na última década, foram encontrados registros hídricos em luas, em cometas e até em Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol. O que não quer dizer que nesses lugares haja vida como a que conhecemos, menos ainda que isso nos sirva. Se não é tanto um alento, serve como lembrete da singularidade do nosso planeta.