07/09/2025 - 12:39
No poder há menos de um ano, Shigeru Ishiba enfrentava descontentamento em seu partido após sua coalizão perder as maiorias nas duas casas do Parlamento e insatisfação popular por alta do custo de vida.O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, anunciou sua renúncia neste domingo (07/09), um dia antes de uma reunião crucial de seu partido para decidir sobre uma antecipação excepcional de eleições partidárias que o teriam deposto da chefia de governo, após resultados eleitorais decepcionantes.
“Decidi renunciar como líder do Partido Liberal Democrata (PLD), então, de acordo com os estatutos internos, a convocação de uma campanha extraordinária para escolher um novo presidente já não é necessária”, disse Ishiba em entrevista coletiva convocada às pressas após o vazamento de sua decisão.
“Eu vinha dizendo há um tempo que não tinha a intenção de me apegar ao cargo e que anunciaria minha decisão no momento certo”, declarou Ishiba, acrescentando que “esse momento é agora”, um dia após o retorno ao país do negociador japonês sobre tarifas, Ryosei Akazawa, após a assinatura da ordem executiva dos Estados Unidos para reduzir em 15% as taxas sobre veículos japoneses.
Ishiba ressaltou que tinha a intenção, há algum tempo, de assumir a responsabilidade pela derrota eleitoral do seu partido em julho, mas que estava primeiro determinado a fazer progressos nas negociações tarifárias com os Estados Unidos. Ele descreveu isso como uma questão de interesse nacional.
Fiascos eleitorais em série
No poder há menos de um ano, Ishiba enfrentava duras críticas em seu partido após sua coalizão perder as maiorias nas duas casas do Parlamento, em meio à insatisfação popular com o aumento do custo de vida. Entretanto, ele vinha resistindo a pedidos de renúncia após a derrota mais recente, em julho, nas eleições para o Senado.
Essas eleições eram tidas como um teste para o primeiro-ministro, que governava em minoria depois de ter perdido o controle da câmara baixa do Parlamento, a Câmara dos Representantes, nas eleições gerais antecipadas de outubro de 2024.
O descontentamento público com o aumento do custo de vida, que os aumentos salariais não conseguiram resolver, esteve no centro da campanha, em que Ishiba prometeu distribuir 20 mil ienes (cerca de R$ 762) a cada residente.
Ishiba, que permanecerá como primeiro-ministro até que o PLD escolha seu novo líder, assegurou que o acordo comercial alcançado com a administração do presidente americano, Donald Trump, é um “marco” para o Japão, e pediu ao seu sucessor para implementar integralmente os termos e abordar as preocupações e dúvidas que possam surgir em torno do pacto, como ocorreu durante seu governo.
Renúncia visaria evitar divisão no partido
A televisão NHK adiantou que Ishiba quis, ao renunciar, evitar divisões dentro do partido, enquanto o jornal Asahi Shimbun afirmou que o primeiro-ministro já não conseguia resistir aos crescentes pedidos de renúncia.
A sigla deveria anunciar uma decisão sobre a eleição de um novo líder partidário nesta segunda-feira. A renúncia de Ishiba como presidente do PLD também implica automaticamente sua renúncia como primeiro-ministro.
No Japão, o cargo de primeiro-ministro é ocupado pelo líder do partido mais votado nas eleições gerais, e uma mudança de presidente no partido acarreta uma mudança na chefia do governo.
Ishiba, que chegou à chefia do Executivo japonês após sua eleição como líder do PLD em setembro do ano passado, lembrou neste domingo algumas das conquistas de seu mandato, entre elas, o acordo comercial com Washington, um aumento histórico do salário mínimo interprofissional e a aprovação de um orçamento extraordinário para enfrentar o impacto da persistente inflação.
O líder japonês agradeceu o apoio daqueles que confiaram nele, pediu desculpas “por ter que renunciar” e instou seu sucessor a fortalecer a aliança com os EUA e a estreitar os laços do país também com as outras nações asiáticas, com a África e com a Europa.
“O Japão é necessário para o mundo, esse é o sentimento que tive fortemente neste ano”, disse Ishiba, que também mostrou sua preocupação com a proximidade entre a Coreia do Norte, a Rússia e a China, e assegurou que adquirir capacidades de dissuasão é “um desafio iminente”.
Quanto às preocupações em nível nacional, citou a necessidade de revitalizar as economias rurais e abordar a queda da natalidade e o envelhecimento da população.
Eleição para novo líder
O PLD agora precisa decidir quando realizará eleições internas para escolher seu novo presidente e, consequentemente, um novo primeiro-ministro para o país, uma disputa da qual Ishiba confirmou que não participará.
Entre os nomes que aparecem com mais força nas pesquisas para suceder Ishiba como líder do partido e do Executivo japonês estão a ex-ministra da Segurança Econômica, Sanae Takaichi, e o atual ministro da Agricultura, Shinjiro Koizumi, figura pública na condução da “crise do arroz” no país.
md (EFE, AP, Lusa)