29/04/2025 - 10:18
Freedom of Speech Award 2025 vai para ativista Tamar Kintsurashvili, que luta contra a desinformação e o discurso de ódio sob pressão crescente, numa Geórgia cada vez mais repressiva.Quando em 1991 a Geórgia proclamou sua independência, ficou claro para Tamar Kintsurashvili que ela passaria a se engajar pela democracia. “Sob a égide da União Soviética, nós não tínhamos direito a nos pronunciar e dependíamos de um sistema totalitário. Mas num Estado democrático, todos os cidadãos devem manter o governo em xeque, para preservar a sua liberdade. A mídia tem uma responsabilidade especial em garantir a separação de poderes.”
Hoje com 55 anos e tendo trabalhado como jornalista, ela é diretora executiva da ONG Fundação para Desenvolvimento dos Meios de Comunicação, na capital Tbilisi, que se empenha pelos direitos humanos e as liberdades. Lá, Kintsurashvili ministra oficinas sobre checagem de fatos e contra o discurso de ódio. Porém seu trabalho está crescentemente difícil numa Geórgia cada vez mais repressiva. Por esse engajamento, a DW lhe concede o Freedom of Speech Award de 2025.
Instituído em 2015, o prêmio se dirige a jornalistas e ativistas, com o fim de chamar a atenção à liberdade de imprensa restrita e à preocupante situação de direitos humanos de muitas regiões do mundo. Como explica o diretor geral da DW, Peter Limbourg, Tamar Kintsurashvili recebe o prêmio pelo envolvimento decisivo na luta contra a desinformação em seu país.
“Seus esforços no combate à propaganda tanto doméstica quanto internacional são indispensáveis para a liberdade de imprensa e de opinião, assim como para a confiança nas mídias livres. O país se encontra numa encruzilhada: um parlamento sem oposição ativa, um processo de filiação à União Europeia congelado, e novas leis de imprensa autoritárias, como já conhecemos da Rússia.”
Pressão contra opositores aumenta na Geórgia
De fato, hoje Kintsurashvili se sente mais ameaçada do que nunca na Geórgia, cujo governo “tenta a cada dia inventar algo novo para impedir o nosso trabalho”. Em 2024, o partido Sonho Georgiano, considerado pró-Moscou e no poder desde 2012, lançou a Lei para Transparência da Influência Estrangeira.
Segundo esta, meios de comunicação e ONGs financiadas com verbas do exterior em 20% ou mais devem se registrar oficialmente como “agentes estrangeiros”. Caso contrário, estão ameaçados de multas e até mesmo de prisão. No futuro, a lei se aplicará também a pessoas físicas.
Embora sua fundação se financie inteiramente com verbas estrangeiras, Kintsurashvili se recusa a registrá-la. Junto com outras ONGs, ela apresentou queixa contra a lei no Tribunal Europeu de Direitos Humanos: “A meta da nova legislação é minar a confiança no nosso trabalho. No entanto é necessário informações confiáveis para tomar as decisões corretas. Assim funciona a democracia.”
Milhares foram às ruas contra a lei, e em novembro de 2024 a decisão do governo de sustar até 2028 o processo de ingresso na UE, inflamou ainda mais os protestos – a Geórgia fora indicada como candidata à filiação apenas um ano antes. Até hoje ocorrem regularmente manifestações contra o curso governamental autoritário, que nos últimos meses restringiu a liberdade de opinião e de reunião, entre outras.
A pressão contra Kintsurashvili aumenta: por diversas vezes indivíduos mascarados picharam a entrada de seu escritório, insultando a ela e a seus colegas de “fascistas pseudoliberais”. “Além disso, telefonaram para nós no meio da noite, nos xingando. Eles ligaram para a minha família, meu marido e a minha filha.”
Apoio internacional mais importante do que nunca
Nascida em 1970 numa família de classe média de Tskaltubo, no oeste georgiano, Tamar Kintsurashvili atravessou tempos conturbados. Após o colapso da União Soviética, a guerra civil tomou conta da Geórgia, as regiões da Abcásia e Ossétia do Sul se declararam repúblicas autônomas. A Rússia foi um dos poucos países a reconhecerem essa autonomia, em 2008, lá estacionando milhares de soldados.
Pela época da queda do Muro de Berlim, Kintsurashvili estudou jornalismo na Universidade Estatal de Tbilisi. A partir de 1994, trabalhou como repórter para o primeiro jornal independente do país, Droni, do qual mais tarde foi diretora da editoria de política e vice-editora-chefe. Aperfeiçoou-se ainda em veículos ocidentais, como a agência de notícias Reuters e o jornal americano Deseret News.
Através dessas experiências no estrangeiro, aprendeu como se pratica jornalismo independente, recorda, “afinal não tínhamos nenhuma experiência com isso na Geórgia”. Mais tarde tornou-se diretora-geral da emissora estatal GPB. Desde 2014, contudo, dedica-se inteiramente à luta por informações confiáveis e pela liberdade de imprensa.
“No início não era preciso checagem de fatos, pois os meios de comunicação faziam o seu trabalho. Com as novas tecnologias, porém, qualquer cidadão pode divulgar informações, e cada um de nós precisa saber como distinguir fatos de fake news. Controlar as informações significa poder, e atualmente instituições poderosas, governos, autocratas e empresas procuram manipular a opinião pública.”
Mais de 300 profissionais já participaram das oficinas da georgiana sobre liberdade de imprensa, contra desinformação e discurso de ódio, inclusive no âmbito dos Myth Detector Labs, fundados em 2017 juntamente com a DW Akademie. Além disso, é docente privada de ética midiática e métodos de propaganda na Universidade Ilia, de Tbilisi.
Apoio internacional é mais importante do que nunca para Tamar Kintsurashvili, que está participando no momento de um programa de bolsas de seis meses na França, onde se encontra regularmente com ativistas dos direitos humanos de todo o mundo.
Também o Freedom of Speech Award da DW a fortalece, afirma: “Ele nos dá a sensação de que não estamos sós na luta contra esse governo repressivo. E envia o sinal de que o nosso trabalho é importante para nosso país, para uma Geórgia melhor, mais democrática.”