Em discurso, Ursula von der Leyen afirma que situação em Gaza e na Cisjordânia é inaceitável. Drones russos na Polônia, uso de redes sociais por crianças também foram temas abordados pela presidente da Comissão Europeia.A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta quarta-feira (10/09) que a União Europeia (UE) deve suspender seu apoio financeiro a Israel devido às ações na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, além de propor sanções contra ministros israelenses extremistas e colonos violentos e buscar a suspensão parcial do Acordo de Associação em matéria comercial com Israel.

“Suspenderemos nosso apoio bilateral a Israel”, destacou Von der Leyen, em seu discurso sobre o Estado da União. Todos os pagamentos da UE ao país devem ser suspensos com exceção para os destinados a iniciativas da sociedade civil israelense e ao museu do Holocausto Yad Vashem.

Segundo Von der Leyen, esse congelamento do apoio financeiro a Israel pelo poder executivo da União Europeia não exigirá a aprovação dos 27 países-membros do bloco.

A UE, no entanto, segue profundamente dividida em sua abordagem em relação a Israel e aos palestinos, e não está claro se será possível obter uma maioria para aprovar as sanções propostas por Von der Leyen.

A principal responsável pelo Executivo comunitário disse ainda que, diante do “bloqueio” que existe no bloco para reagir, Bruxelas proporá “um pacote de medidas para traçar um caminho a seguir”. Esse pacote incluiu a criação de um grupo de doadores para a Palestina, com um instrumento específico para a reconstrução de Gaza.

Von der Leyen começou seu pronunciamento dizendo que o que está acontecendo em Gaza “chocou a consciência mundial” e acrescentou que “a fome provocada pelo homem nunca pode ser uma arma de guerra” e que “isso deve parar”.

Ela destacou que a situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia é inaceitável. “Tudo isso aponta para uma clara tentativa de minar a solução de dois Estados” e de “minar a visão de um Estado palestino viável, e não devemos permitir que isso aconteça”, enfatizou.

Após o anúncio, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, classificou como “lamentáveis” as declarações de Von der Leyen.

“A presidente da Comissão erra ao ceder às pressões daqueles que buscam minar as relações entre Israel e a Europa. Esta tendência é contrária aos interesses dos próprios Estados europeus. E, acima de tudo, esta é uma conduta inaceitável entre parceiros”, escreveu Saar em uma mensagem em sua conta na rede social X.

Saar alegou, além disso, que algumas das palavras de Von der Leyen “estão manchadas pela falsa propaganda do Hamas e de seus parceiros”, e insistiu que a comunidade internacional deve apoiar Israel “nesta luta”.

Aliança de drones com a Ucrânia

A invasão do espaço aéreo polonês por drones russos também foi tema do discurso. Von der Leyen classificou como “imprudente e sem precedentes” o episódio. “Continuamos apoiando todos os esforços diplomáticos, mas já vimos o que a Rússia entende por diplomacia”, advertiu Von der Leyen.

Neste contexto de tensão, a política alemã propôs a alocação de 6 bilhões de euros do empréstimo da ERA, o mecanismo financiado com os lucros extraordinários gerados pelos ativos russos imobilizados pelas sanções, para firmar uma “aliança de drones com a Ucrânia”.

“A Ucrânia tem a engenhosidade. O que precisa agora é de escala. E juntos podemos fornecê-la: para que a Ucrânia mantenha sua vantagem e a Europa reforce a sua própria”, destacou. Von der Leyen lembrou que, antes da guerra, a Ucrânia não contava com nenhum drone e que agora o uso que faz desses aparelhos é responsável por mais de dois terços das perdas de equipamento russo.

“Podemos usar nossa força industrial para apoiar a Ucrânia a combater esta guerra de drones. Podemos ajudar a transformar a engenhosidade ucraniana em uma vantagem no campo de batalha e em uma industrialização conjunta”, enfatizou.

Democracia, redes sociais

Em seu discurso, Von der Leyen ressaltou também o compromisso da Comissão Europeia para acabar com a pobreza na UE até 2050, além de anunciar a criação de um centro europeu de combate a incêndios florestais, com sede em Chipre, e de um centro democrático.

“A nossa democracia está sob ataque, devido ao aumento da manipulação da informação e da desinformação que está dividindo as nossas sociedades. Não só está minando a confiança na verdade, como também na própria democracia e precisamos urgentemente do Escudo Europeu da Democracia e de mais capacidade para monitorizar e detectar a manipulação da informação e a desinformação”, afirmou.

Na sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo, no primeiro discurso sobre o Estado da União do segundo mandato e o quinto do seu percurso europeu, a líder do executivo comunitário foi vaiada por instantes pela extrema direita. “Claro que vocês temem este novo centro”, disse Von der Leyen após as vaias.

“Esta bancada que está gritando devia ouvir com muita atenção”, afirmou quando abordou o Estado de direito da UE. “A independência da Europa consiste em proteger as nossas liberdades: a liberdade de decidir, de nos expressarmos, de circular por todo o continente, a liberdade de votar, de amar, de rezar, de viver numa União de igualdade. A nossa democracia e o Estado de Direito são as garantias dessas liberdades”, apontou.

Von der Leyen afirmou ainda que a UE avalia uma proibição do uso de redes sociais por crianças. “Tal como nos meus tempos, quando nós, como sociedade, ensinávamos aos nossos filhos que não podiam fumar, beber e ver conteúdo adulto até uma certa idade. Acredito que é hora de considerarmos fazer o mesmo com as redes sociais.”

cn (ots, AP, EFE)