27/01/2021 - 12:36
Os primeiros povos a se estabelecer nas Américas provavelmente trouxeram seus próprios companheiros caninos com eles, de acordo com uma nova pesquisa que lança mais luz sobre a origem dos cães. O estudo foi publicado na revista “Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS)”.
Uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela arqueóloga drª Angela Perri, da Universidade de Durham (Reino Unido), analisou os registros arqueológicos e genéticos de pessoas e cães antigos. Eles descobriram que as primeiras pessoas a cruzar para as Américas antes de 15 mil anos atrás, originárias do nordeste asiático, estavam acompanhadas de seus cães.
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Segundo os pesquisadores, essa descoberta sugere que a domesticação de cães provavelmente ocorreu na Sibéria antes de 23 mil anos atrás. As pessoas e seus cães posteriormente viajaram tanto para oeste, para o resto da Eurásia, quanto para leste, para as Américas.
Imagem muito mais clara
As Américas foram uma das últimas regiões do mundo a ser colonizadas pelos humanos. Nessa mesma época, os cães, originários de seus ancestrais lobos, haviam sido domesticados e provavelmente desempenhavam uma variedade de funções nas sociedades humanas.
A drª Perri, principal autora do estudo, disse: “Quando e onde são questões há muito colocadas na pesquisa sobre domesticação de cães, mas aqui também exploramos o como e o porquê, que muitas vezes foram esquecidos. A domesticação de cães que ocorre na Sibéria responde a muitas das perguntas que sempre tivemos sobre as origens da relação homem-cão. (…) Ao juntarmos as peças do quebra-cabeça da arqueologia, da genética e do tempo, vemos uma imagem muito mais clara de onde os cães estão sendo domesticados na Sibéria e depois se dispersam nas Américas e em todo o mundo”.
O geneticista e coautor Laurent Frantz, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique (Alemanha), afirmou: “A única coisa que sabíamos com certeza é que a domesticação de cães não ocorreu nas Américas. Pelas assinaturas genéticas de cães antigos, sabemos agora que eles deviam estar presentes em algum lugar da Sibéria antes de as pessoas migrarem para as Américas”.
O coautor Greger Larson, professor da Universidade de Oxford (Reino Unido), disse: “Pesquisadores já haviam sugerido que os cães foram domesticados por toda a Eurásia, da Europa à China e em muitos lugares no meio. A evidência combinada de humanos e cães antigos está ajudando a refinar nossa compreensão da história profunda dos cães e agora aponta para a Sibéria e o nordeste da Ásia como uma região provável onde a domesticação dos cães foi iniciada”.
Papel vital
Durante o Último Máximo Glacial (de cerca de 23 mil a 19 mil anos atrás), Beríngia – a área terrestre e marítima entre a América do Norte e a Rússia – e a maior parte da Sibéria eram extremamente frias, secas e praticamente sem glaciação.
As duras condições climáticas desse período podem ter servido para aproximar as populações de humanos e lobos, dada sua atração pela mesma presa.
Essa interação cada vez maior, por meio da eliminação mútua de lobos atraídos para acampamentos humanos, pode ter iniciado uma relação entre as espécies que posteriormente levou à domesticação dos cães e a um papel vital deles no povoamento das Américas.
Como o coautor e arqueólogo David Meltzer, da Southern Methodist University (EUA), observou: “Há muito tempo sabemos que os primeiros americanos devem ter possuído habilidades de caça bem aguçadas, o conhecimento geológico para encontrar pedras e outros materiais necessários e pronto para novos desafios. Os cães que os acompanharam, ao entrarem nesse mundo completamente novo, podem ter feito parte de seu repertório cultural tanto quanto as ferramentas de pedra que carregavam.”
Desde sua domesticação, os cães desempenharam uma ampla variedade de papéis nas sociedades humanas, muitos dos quais estão ligados à história das culturas em todo o mundo. Pesquisas arqueológicas e genéticas futuras revelarão como o relacionamento mútuo emergente entre pessoas e cães levou à sua dispersão bem-sucedida pelo globo.