Incidentes em uma escola em Brandemburgo, no leste alemão, trouxeram à tona temores sobre o radicalismo de direita em sala de aula. Autoridades e políticos expressam consternação e preocupação.Max Teske não tem permissão para contar quais foram exatamente os incidentes extremistas de direita que denunciou, ocorridos na escola em que ele dava aulas na pequena cidade alemã de Burg im Spreewald. À DW ele explica que as autoridades escolares proibiram sua colega Laura Nickel e ele de falarem sobre isso, sob a alegação de se tratar de “processos internos de trabalho”.

No entanto, Teske relata à DW a experiência de colegas que lecionam em outras escolas no estado de Brandemburgo, no leste da Alemanha, região onde o partido de ultradireita Alternativa para Alemanha (AfD) está em ascenção. Segundo o professor, são “incidentes muito semelhantes aos que ocorreram em Burg”. Isso inclui, de acordo com Teske, “saudações a Hitler, pichações, sexismo e homofobia”.

“Essas são questões que afetam todas as escolas”, conta o professor, a partir de relatos que ouviu de colegas.

Teske e Nickel vão deixando a escola em Burg. Há cerca de três meses, os dois professores denunciaram incidentes extremistas de direita em sua escola em Burg im Spreewald, a cerca de 80 quilômetros de Berlim. Mesmo tendo feito isso por um e-mail anônimo, desde então os dois enfrentam hostilidades e ameaças pessoais, relata Teske.

De acordo com a emissora pública alemã ARD, adesivos com fotos dos dois pedindo que eles deixassem a escola foram espalhados nas proximidades da instituição de ensino.

O crescimento da AfD

Burg im Spreewald: para muitos alemães, a cidade representa um local de férias idílico, com natureza.

Politicamente, porém, a região não é nada calma. Nas últimas eleições estaduais em Brandemburgo, em 2019, a AfD foi o partido mais votado em Burg, com 28%. A região registrou significativamente mais votos para a AfD do que a média nacional.

Nas eleições federais de 2021, em Burg, 32,2% da primeira lista de votos (que se aplica a candidatos específicos) e 30,4% da segunda lista de votos (que se aplica aos partidos) foram para a AfD. Resultados de pesquisas recentes também apontam para essa direção.

O Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV na sigla em alemão) classifica partes da AfD como “extremistas de direita” e todo o partido como um “caso suspeito”. No leste da Alemanha, onde a AfD está acima da média de votos, estudos recentes mostram racismo generalizado.

Consternação na política

Esses casos de crimes de extremismo de direita causam consternação na política. Não apenas no estado de Brandemburgo, mas também em Berlim, palco da política nacional.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse estar preocupado com os acontecimentos na escola em Burg.

“Devemos fazer tudo por aqueles que se opõem ao populismo e ao extremismo e defendem a tolerância e a democracia nesta sociedade”, afirmou, garantindo que sempre lutará para que a democracia na Alemanha “não perca”.

O apoio também vem de Brandemburgo, onde o governador Dietmar Woidke (SPD) afirmou: “não deve haver lugar onde a direita incite medos e queira expulsar aqueles que pensam diferente”,

Em entrevista ao alemão Süddeutsche Zeitung, o secretário da Educação de Brandemburgo, Steffen Freiberg, expressou solidariedade aos professores, mas também fez críticas. Ele rejeitou a reclamação de que seus superiores não lhes deram apoio suficiente.

Mudança de emprego

Teske se conteve na entrevista à DW quando questionado sobre o comportamento das autoridades escolares responsáveis, mas listou o que na sua opinião precisa mudar.

“A sociedade civil deve encontrar um consenso comum sobre como lidar com o tema”, alertou.

Para ele, projetos que promovem a democracia deveriam estar mais no foco das escolas.

“A democracia deve ser promovida na escola. As pessoas que defendem os valores democráticos devem ser fortalecidas na escola”, disse o professor.

Após as férias de verão, Teske e Nickel darão aulas em outro lugar. Em parte por “autoproteção”, afirmou Teske, referindo-se às ameaças diárias perto da escola e de casa.

“Acho que os alunos e professores também precisam de um pouco mais de sossego para poder processar algumas situações em parte”, destacou,

AfD celebra decisão

A AfD comemorou a decisão dos dois de trocarem de escola. Um “informante de esquerda radical” e sua “camarada” se foram, escreveu o presidente da AfD no distrito de Cottbus, Jean-Pascal Hohm.

“Não há problema de extremismo de direita nas escolas de Brandemburgo”, disse o político.

As férias de verão já começaram nas escolas de Brandemburgo e as aulas devem voltar apenas no final de agosto. Eleições estaduais em Brandemburgo estão marcadas para setembro de 2024.