07/10/2019 - 17:30
No Brasil, 25% da população é analfabeta ou analfabeta funcional. Além disso, 19% dos brasileiros têm alguma deficiência na visão e 30% apresentam presbiopia, também conhecida como vista cansada.
Atenta a essa realidade brasileira, a desenhista industrial Paula Pedroza, 39 anos, teve a ideia de criar um programa que transformasse textos de internet para áudio.
Tudo começou com o próprio incômodo de Paula, que sentia os olhos arderem ao ler textos longos na tela do computador ou do celular. “Comecei a pensar nas pessoas que realmente têm dificuldades em ler ou são cegas. Nós não costumamos pensar nisso quando não somos atingidos pelo problema”, diz.
Em setembro de 2016, Paula aprovou seu projeto de startup em um programa da aceleradora GSV Labs. Pelo programa, recebeu R$ 250 mil em investimentos e em créditos de tecnologias e serviços de empresas como Amazon, IBM, Google e Facebook. A empreendedora passou seis meses no Vale do Silício desenvolvendo e aperfeiçoando seu produto e, no início de 2017, a primeira versão do Audima foi lançada.
Desde então, o programa que transforma textos em áudio já está em sites de outros três países, além do Brasil: EUA, Portugal e Espanha, e já teve quatro mil instalações em 30 diferentes idiomas. “Estamos em negociações com China, Canadá e Reino Unido”, diz Paula, que tem o irmão, Luiz Eduardo Pedroza, 27, como sócio na empreitada.
Segundo Paula, a empresa quer mostrar que a inclusão não é apenas socialmente responsável, mas pode ser comercialmente interessante para os sites. “Ela traz mais audiência e mais engajamento, é um negócio de impacto”, diz.
A Audima oferece planos a partir de R$ 59,90 e tem uma versão gratuita para sites pequenos. Já clientes da desenvolvedora de software empresas e instituições como Nestlé, Confederação Nacional da Indústria, Arquivo Nacional Brasileiro e sites de notícias, como a revista PLANETA (para ouvir essa matéria, clique no botão de play na caixinha no início do texto).
Além de ajudar cegos e analfabetos, o software também auxilia pessoas com diferentes graus de analfabetismo funcional, ou seja, que são capazes de ler, mas têm dificuldade em interpretar textos. Um dos depoimentos mais marcantes recebidos pela Audima foi de um estudante que disse que o programa o ajudou a estudar para o vestibular, pois ler e escutar ao mesmo tempo o auxiliou a fixar e interpretar o conteúdo.
Agora, a Audima está fazendo uma pesquisa com mulheres da Rocinha, no Rio de Janeiro, que estão se alfabetizando usando o Audima. “No momento estamos fazendo uma pesquisa informal, depois podemos investir em um estudo formal”, afirma Paula.
A meta da empresa é alcançar pelo menos mais 10 países nos próximos seis meses e estar presente em cada vez mais sites, espalhando conteúdo para cada vez mais pessoas. Para Paula, a tecnologia deve ser usada para consertar problemas que são facilmente resolvidos com ela, e essa tecnologia, aplicada à acessibilidade de conteúdos, é simples demais para os sites não terem. “É como ter um restaurante e não ter uma rampa de acesso para cadeirantes”, diz a empreendedora, lembrando que, segundo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, é obrigatória a acessibilidade nos sites mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País e por órgãos de governo.
Veja um vídeo que mostra o impacto do software na vida de pessoas analfabetas ou semianalfabetas: