Promotoria espanhola acusa ex-dirigente de agressão sexual e coerção da jogadora da seleção feminina de futebol Jenni Hermoso. Outros três cartolas também podem pegar pena de 1,5 ano se for comprovado que houve coerção.O Ministério Público espanhol pediu pena de dois anos e meio de prisão ao ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) Luis Rubiales por agressão sexual e coerção da jogadora Jenni Hermoso, por causa do beijo não consensual que o cartola deu nela após a final da Copa do Mundo Feminina em Sydney, em agosto de 2023.

O MP pediu ainda que Rubiales seja inabilitado para trabalhar no esporte enquanto cumprir a sentença, que seja colocado em liberdade condicional por dois anos e que seja proibido de se comunicar com a jogadora e de se aproximar dela em um raio de 200 metros por quatro anos, além de pagar a ela uma indenização no valor de 50 mil euros (R$ 270 mil).

Na Espanha, sentenças de prisão de até dois anos são geralmente suspensas.

Rubiales, porém, também enfrenta outros problemas com a Justiça, e pode ser preso devido a uma investigação sobre supostas irregularidades em contratos fechados durante seu mandato na RFEF – o cartola nega as suspeitas.

O MP também pleiteia um ano e meio de prisão para outros três cartolas da RFEF pelo crime de coerção contra a atleta: o ex-técnico da seleção feminina Jorge Vilda, o diretor de marketing Rubén Rivera, e o diretor da seleção masculina, Albert Luque. O órgão quer ainda que eles arquem, juntos, com uma indenização de 50 mil euros à jogadora.

Após as manifestações da promotoria, a RFEF anunciou nesta quarta-feira (27/03) a suspensão “cautelar” de Rivera e Luque.

Ação “surpreendente e não consensual” seguida de pressão

A acusação da promotora Marta Durántez descreve a conduta de Rubiales como “surpreendente e sem consentimento ou aceitação” de Hermoso quando, durante a cerimônia de entrega de medalhas da Copa do Mundo, ele – à época presidente da RFEF – “segurou sua cabeça” com as duas mãos e “deu-lhe um beijo nos lábios”.

A ação desencadeou uma onda de protestos e, além do processo criminal, levou Rubiales a ser banido pela Fifa por três anos.

A promotoria acusa ainda Rubiales de pressionar “constantemente” e repetidamente a jogadora de futebol e sua comitiva para “justificar e aprovar” o beijo dado “contra a vontade dela”, tendo em vista “as consequências pessoais e profissionais” que ele poderia enfrentar – esse “assédio” é imputado também aos outros três acusados, “pessoas de confiança” de Rubiales que assumiram cargos “sob seu mandato” e cuja “situação privilegiada na RFEF” dependia do “destino” de Rubiales.

Segundo Durántez, as pressões começaram na saída do vestiário, ainda em plena comemoração, quando Rubiales “incitou” Hermoso a declarar publicamente que o beijo foi consensual; continuaram no ônibus, onde ela foi “forçada a descer” para assinar uma declaração redigida pela RFEF “por ordem” do cartola, cujo “conteúdo ela não compartilhou” e que foi enviada à imprensa; e no voo para a Espanha, onde o ex-presidente da federação voltou a pedir que ela fizesse uma declaração conjunta com ele, o que ela novamente se recusou a fazer.

Diante da “recusa repetida” de Hermoso, Rubiales e sua equipe teriam passado a pressionar parentes da jogadora.

Jorge Vilda teria tentado persuadir o irmão da jogadora a intervir, alertando que ela enfrentaria “consequências negativas” se não fizesse uma declaração pública.

Dias depois, durante a viagem de várias jogadoras a Ibiza, a promotoria alega que Rubén Rivera foi até lá e insistiu para que Hermoso falasse com o chefe de integridade da RFEF, órgão que havia aberto um processo para inocentar Rubiales por ordem dele próprio. Uma amiga da atleta também teria sido procurada para persuadi-la a falar com Albert Luque; este teria viajado até a ilha para pressioná-la a gravar um vídeo em favor de Rubiales.

O assédio, segundo a promotora, cessou quando Rubiales foi suspenso provisoriamente pela Fifa em 26 de agosto. Poucos dias depois, em 10 de setembro, e após ter assegurado anteriormente que não iria renunciar, ele acabou deixando o cargo.

ra (EFE, dpa)