18/09/2025 - 15:52
Jovens revoltados vem liderando protestos, por vezes violentos, em vários países asiáticos, exigindo mudanças e o fim da corrupção. Mas até que ponto essas manifestações podem resultar em transformações concretas?De invasões a palácios a fugas de chefes de Estado, vários países asiáticos vêm passando portransformações políticaslideradas por uma geração nascida na era digital.
Com amplo conhecimento digital, a chamada geração Z – termo que se refere a pessoas nascidas aproximadamente entre 1997 e 2012 – emergiu como uma força política, desafiando o autoritarismo, a corrupção e a desigualdade econômica com ativismo de rua.
No Nepal, protestos de jovens contra a proibição das redes sociais e a corrupção derrubaram o governo do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli na semana passada.
A Indonésiatestemunhou protestos em larga escala recentemente, desencadeados por benefícios generosos para os congressistas do país, entre outras queixas. O governo do presidente Prabowo Subianto mal conseguiu se manter e se esforçou para atender às demandas dos jovens, demitindo ministros e revogando as regalias.
Em Bangladesh, protestos em massa liderados por estudantes em julho e agosto de 2024 encerraram o governo de 15 anos da primeira-ministra Sheikh Hasina e a forçaram a fugir para a vizinha Índia.
Em 2022, distúrbios ocorridos no Sri Lanka em meio à turbulência econômica levaram à deposição do então presidente Gotabaya Rajapaksa.
Falha em compreender os anseios da juventude
Alguns especialistas comparam a situação na Ásia à Primavera Árabe, uma série de protestos em massa no Oriente Médio e Norte da África no início da década de 2010, impulsionados pelo descontentamento generalizado com a corrupção e as dificuldades econômicas, que derrubaram vários governos, incluindo os da Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen.
O resultado, porém, foi tudo menos triunfante. A Primavera Árabe deu lugar a anos de agitação e frágeis transições de poder.
Apesar das diferenças nos cenários políticos, especialistas afirmam que as questões que desencadearam a Primavera Árabe são semelhantes às que desencadearam a agitação em lugares como Sri Lanka, Bangladesh e Nepal. Eles citam frustração e descontentamento generalizados com a corrupção, dificuldades econômicas e má governança.
Annisa R. Beta, professora de estudos culturais na Universidade de Melbourne, também destacou o poderoso papel desempenhado pelas redes sociais na disseminação do descontentamento e na facilitação de manifestações lideradas por jovens. Essa mudança, segundo afirmou, tornou o controle centralizado sobre os jovens quase impossível.
“As gerações mais jovens, a geração Z, a geração Alfa, não estão interessadas em ser lideradas por apenas uma figura carismática”, disse Beta à DW, Os jovens, segundo a especialista, se identificam mais com um movimento descentralizado que permanece fortemente focado em seus objetivos.
Ishrat Hossain, pesquisadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga) compartilha uma visão semelhante. “Em muitos casos, as plataformas digitais sociais amplificaram o impacto dos protestos nas ruas e forneceram meios para o surgimento de líderes não tradicionais, como rappers e hackers.”
Uma mudança geracional?
O músico Rajat Das Shrestha é uma das figuras mais proeminentes do movimento da geração Z no Nepal. Ele acredita que em todos esses países, as causas da agitação são sempre as mesmas.
“Acredito que a corrupção e a mentalidade autoritária dos governos não são problemas apenas do Nepal ou de Bangladesh. Elas existem em graus variados em toda a região.”
Shrestha vê um padrão se desevolvendo em toda a Ásia. Ele disse que a mensagem de Bangladesh e Sri Lanka foi clara: “governos podem cair quando os jovens se levantam.”
Se os governantes “continuarem a ignorar os sonhos e as frustrações dos jovens”, afirmou, “eventos semelhantes acontecerão em muitos outros países desta região.”
Beta acredita que este movimento liderado por jovens não é algo passageiro, mas uma mudança geracional.
“Esperamos um processo contínuo, um despertar político contínuo, marcado pela geração Z. Mas também veremos isso muito claramente entre as gerações Alfa e Beta”, disse, se referindo aos nascidos após 2010.
Traçando seu próprio caminho
Embora as fagulhas iniciais nesses países possam parecer semelhantes, cada um deles traça seu próprio caminho.
O Sri Lanka recuperou a estabilidade política e econômica nos últimos três anos. Sua economia está crescendo novamente a um ritmo aceitável, indicando uma recuperação cada vez mais forte de sua pior crise financeira em décadas.
A Indonésia conseguiu preservar seu sistema atual, resistindo aos protestos recentes sem causar perturbações sistêmicas.
Enquanto isso, Bangladesh está em uma posição precária, com o país preso entre reformas abrangentes e eleições democráticas, correndo o risco de mergulhar em um caos ainda mais profundo.
A especialista do Giga, Hossain, permanece “cautelosamente otimista” sobre o que vem a seguir.
“Sem a institucionalização de demandas de protesto mais amplas – por meio de mecanismos legais, alocação orçamentária e estruturas de supervisão – as vitórias de hoje podem se tornar a nostalgia de amanhã.”