27/10/2025 - 15:53
Líder russo formalizou retirada do seu país de acordo assinado nos anos 2000 com os EUA que previa impedir reaproveitamento de plutônio para uso em armas nucleares.O presidente da Rússia, Vladimir Putin, promulgou nesta segunda-feira (27/10) uma lei que retira formalmente seu país de um acordo com os Estados Unidos sobre reprocessamento de plutônio, cujo objetivo era impedir que ambas as partes fabricassem mais armas nucleares.
A decisão marca a extinção de mais um acordo firmado no período pós-Guerra Fria entre as duas potências nucleares, um movimento que tem se expandindo nos últimos anos em meio à deterioração das relações da Rússia com o Ocidente.
O tratado, chamado oficialmente de Acordo Sobre a Gestão e Disposição de Plutônio (PMDA, na sigla em inglês), havia sido originalmente assinado em 2000. Ratificado em 2011, ele previa que ambos os países se comprometessem a reprocessar suas reservas de plutônio provenientes da Guerra Fria para convertê-las em combustível que pudesse ser utilizado na energia nuclear destinada à produção de eletricidade.
Material suficiente para produzir 17 mil armas nucleares
Pelo tratado, cada parte se comprometia a reciclar 34 toneladas de plutônio – quantidade que eliminaria material necessário para produzir cerca de 17 mil armas nucleares.
No entanto, já em 2016, Putin ordenou por decreto a suspensão da participação da Rússia, em um contexto de degradação das relações com os Estados Unidos durante a presidência de Barack Obama (2009-2017) e a anexação ilegal da península ucraniana da Crimeia pela Rússia. À época, a Rússia exigiu o fim das sanções ocidentais impostas ao país e a redução da presença militar dos EUA em países do leste europeu para se manter no tratado, o que foi recusado pelos americanos.
“Nenhuma dessas condições foi cumprida. Além disso, os EUA tomaram uma série de novas medidas antirrussas, que alteram radicalmente o equilíbrio estratégico que existia no momento da assinatura do acordo e criam ameaças adicionais à estabilidade estratégica”, afirmou o Kremlin, em nota distribuída pela agência Interfax.
A lei assinada nesta segunda-feira por Putin já havia sido aprovada no início deste mês por ambas as câmaras do Parlamento russo, a Duma – a Câmara dos Deputados – e o Senado, e na prática constitui uma “denúncia” formal do pacto.
Controle de armas por um fio
Líderes ocidentais têm acusado Putin de agitar ameaças nucleares para tentar intimidar países ocidentais desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Em 2023, Putin também anunciou a suspensão da participação do país no tratado de desarmamento nuclear New Start (sigla em inglês para Strategic Arms Reductions Treaty), o último grande tratado de controle de armas remanescente firmado pela Rússia e EUA.
O New Start havia sido assinado em 2010, entrando em vigor no ano seguinte. Em 2021, logo após Joe Biden assumir a presidência dos EUA, foi estendido por mais cinco anos.
No tratado, Moscou e Washington se comprometeram a reduzir a 1.550 o número de suas ogivas nucleares; e o dos sistemas de lançamento – como mísseis intercontinentais, mísseis instalados em submarinos e aviões bombardeiros – a 800, no máximo. Para garantir isso, o acordo permitia a cada parte realizar até 20 inspeções por ano no país cossignatário.
No entanto, ao anunciar a suspensão, Putin ressaltou que a Rússia não estava se retirando formalmente do tratado. Em setembro de 2025, ele voltou a mencionar o New Start, previsto para expirar em fevereiro de 2026, levantando a hipótese de que ele possa ser prorrogado por mais um ano, mas pouco se sabe sobre eventuais negociações em andamento.
Em mais uma adição às tensões envolvendo armas nucleares, a Rússia anunciou no domingo que teria realizado com sucesso um teste de seu novo míssil de cruzeiro com propulsão nuclear Burevestnik. Pouco depois, o presidente dos EUA, Donald Trump, descreveu o anúncio de Putin sobre o teste como “inadequado”, em meio às crescentes tensões entre Moscou e Washington.
A Rússia e os Estados Unidos são, de longe, as maiores potências nucleares do mundo. Juntos, os dois países controlam cerca de 8 mil ogivas nucleares, embora muito menos do que o pico de 73 mil ogivas em 1986.
jps/ra (AFP, EFE, DW, ots)
