05/09/2025 - 13:56
Líder russo rechaça possibilidade discutida por países ocidentais de enviar soldados à Ucrânia após eventual acordo de paz, como garantia de segurança a Kiev.O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a rechaçar nesta sexta-feira (05/09) a possível presença de tropas da Otan na Ucrânia, mesmo após um acordo de paz com Kiev.
Em um pronunciamento durante um fórum econômico em Vladivostok, Putin afirmou que um acordo de paz duradouro não demandaria forças estrangeiras no território ucraniano. “Se alguma força armada aparecer lá – especialmente agora, durante os combates – presumiremos que sejam alvos legítimos”, disse, acrescentando que elas seriam destruídas.
A fala de Putin veio após o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmar nesta sexta-feira que milhares de tropas estrangeiras poderiam ser enviadas ao seu país como parte das garantias de segurança a serem estabelecidas no pós-guerra, para proteger o país de eventuais novas investidas russas.
“É importante que estejamos discutindo tudo isso […] certamente serão milhares [de soldados] não apenas alguns”, disse Zelenski após se encontrar como presidente do Conselho Europeu, António Costa, no oeste da Ucrânia.
As duas declarações ressaltaram o abismo entre Kiev e Moscou, à medida que aumenta o pessimismo ocidental sobre as perspectivas de um fim rápido à guerra da Rússia na Ucrânia.
Coalizão de países discute envio de tropas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem expressando cada vez mais frustração com Moscou. Ele chegou a dizer que seu país parece ter “perdido” a Rússia para uma “sombria” China, após o encontro de Putin com o líder chinês Xi Jinping, em Pequim, no início da semana.
Os comentários do líder russo também foram uma reação às declarações feitas no dia anterior pelos países que integram a chamada Coalizão dos Dispostos – uma aliança informal de cerca de 35 países em prol do fim da guerra – nesta quinta-feira em Paris.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que 26 países ocidentais estavam preparados para apoiar de alguma forma uma força de segurança após um acordo de cessar-fogo ou de paz entre a Rússia e a Ucrânia, a fim de proteger Kiev de novas agressões. Isso incluiria uma força internacional em terra, mar e ar.
Posteriormente, Macron afirmou que alguns desses países forneceriam garantias permanecendo fora da Ucrânia, por exemplo, ajudando a treinar e equipar as forças de Kiev.
Rússia exige suas próprias garantias de segurança
A Rússia há muito tempo afirma que um dos motivos de sua guerra de agressão na Ucrânia seria impedir que a Otan aceitasse Kiev como membro da aliança e colocasse suas forças na Ucrânia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse à margem do fórum econômico disse que Moscou reconhece “como uma ameaça a nós mesmos” a presença de forças internacionais “ou quaisquer forças estrangeiras, ou da Otan em solo ucraniano, perto da nossa fronteira.”
Peskov disse que a Otan vê a Rússia como inimiga e que isso estaria explicitamente declarado em seus documentos. “Isso é perigoso para o nosso país”, enfatizou.
As discussões sobre garantias de segurança não podem tratar apenas da Ucrânia, disse o porta-voz, acrescentando que a Rússia também precisa dessas mesmas garantias.
“Não se pode garantir a segurança de um país às custas de destruir a segurança de outro. Isso não nos ajudará a chegar mais perto de uma solução para o conflito na Ucrânia”, disse Peskov.
Ele repetiu o argumento do Kremlin de que a expansão da Otan para o Leste Europeu teria sido uma das causas da guerra, que já dura mais de três anos e meio.
Putin repete convite a Moscou
Em Vladivostok, Putin rejeitou a realização de uma reunião com Zelenski em um país terceiro. “O melhor lugar [para uma reunião] é a capital da Federação Russa, a heroica cidade de Moscou”, disse, repetindo o convite feito durante sua recente visita à China. Ele assegurou que a segurança dos participantes estaria garantida.
Zelenski, porém, rejeitou a proposta. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) afirmou ter frustrado vários planos de assassinato contra Zelenski desde que a Rússia iniciou a guerra em fevereiro de 2022. Segundo fontes ucranianas, haveria sete países dispostos a sediar tal cúpula.
Putin argumentou que as negociações com Zelenski seriam inúteis, alegando que o presidente ucraniano não tem mais autoridade legal para assinar acordos. O mandato de Zelenski expirou oficialmente no ano passado, mas ele continua no poder por meio da Lei Marcial, sob a qual as eleições são suspensas enquanto durar a guerra e o mandato do presidente é automaticamente prorrogado, em conformidade com a Constituição do país.
Putin, por sua vez, permanece no poder desde 2012, fortalecido por mudanças constitucionais que lhe permitiram estender os limites de seu mandato.
rc/bl (Reuters, DPA)