Alguém aguenta passar cerca de 20 horas seguidas em um avião? Para a companhia aérea australiana Qantas, a resposta é sim – tanto que iniciará em 2022 ou 2023 uma rota direta Nova York – Sydney, denominada Project Sunrise, informa o canal de notícias econômicas CNBC. Os cerca de 16 mil quilômetros de distância, recorde absoluto para um voo de avião, serão percorridos entre a noite de sexta-feira, quando a aeronave parte de Nova York, e a manhã de domingo, quando ela pousa na principal cidade australiana.

A Qantas vai coletar dados para essa rota antes de operá-la – a primeira vez que faz isso. A empresa está se unindo a pesquisadores acadêmicos e montando um Boeing 787-9 como laboratório. Seis passageiros, alojados na classe executiva, testarão receitas, esquemas de iluminação, temperaturas e exercícios de alongamento especialmente projetados para combater o jet lag.

A rota Nova York – Sydney é o ápice de uma tendência de aumento na duração dos voos, consequência do desempenho melhor das aeronaves. Em 2018, a Singapore Airlines retomou o serviço sem escalas de Nova York (Newark) para Singapura, um voo de 18 horas e meia. A própria Qantas inaugurou em 2018 um voo de mais de 17 horas de Perth, na Austrália Ocidental, para Londres.

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Apenas 50 pessoas, incluindo pilotos e tripulação de cabine, estarão a bordo da nova maratona da Qantas, porque apenas com uma carga útil reduzida a aeronave conseguiria percorrer tantos quilômetros. Também não está garantido que o avião da Boeing fará o trajeto: a companhia aérea está pressionando a empresa americana e a europeia Airbus a produzirem um aparelho a completar a viagem com uma carga total de passageiros.

Entrevistas com passageiros

Internamente, vários cuidados estão sendo tomados. Os pilotos, por exemplo, usarão monitores cerebrais durante todo o voo. Eles também fornecerão amostras de urina antes, durante e após a viagem para medir os níveis de melatonina. Tanto passageiros quanto membros da tripulação terão seus padrões de sono e atenção estudados, a fim de amenizar o impacto do jet lag.

Pesquisadores da Universidade de Sydney entrevistaram cerca de 500 passageiros nas rotas da Qantas com mais de nove horas de duração sobre suas estratégias de sono. Eles descobriram que 54% usavam tampões para os ouvidos ou fones de ouvido com cancelamento de ruído, 38% bebiam álcool (o que, segundo os cientistas, faz o jet lag piorar por causa da desidratação) e 10% tomaram pílulas para dormir.

Embora o voo parta às 21h de Nova York, a Qantas planeja manter os viajantes acordados por mais seis horas, adiando o serviço de refeições. A refeição pré-sono inclui sobremesas calmantes, como uma panacota com noz-moscada, e os viajantes serão incentivados a beber chocolate quente. Já as refeições durante o horário diurno de Sydney serão mais apimentadas e terão sabor mais acentuado.

Sono e alimentação

Os voluntários manterão um diário de duas semanas antes do voo sobre seus padrões de sono e alimentação e fornecerão mais informações durante o estudo. Seus níveis de atenção à medida que passarem pelos fusos horários serão medidos por sua capacidade de tocar uma canção simples e conhecida em um iPad. Sua atenção e seu humor serão monitorados durante o voo.

Outras providências estão relacionadas a ajustes de luzes e temperaturas. Tons de iluminação mais frios e azuis ajudam a ficar atentos. Já para estimular os viajantes a dormir, a cabine será iluminada em tons mais quentes. A Qantas também vai fornecer meditação guiada e exercícios de alongamento, e os passageiros poderão usar áreas específicas da aeronave para ficar em pé, mas nada será obrigatório.

“O protocolo científico é o que eles mais se sentirem confortáveis ​​em fazer”, disse Phil Capps, diretor de experiência do consumidor da Qantas. “Se alguém estiver dormindo profundamente na hora de fazer alongamentos, vamos deixá-lo dormindo.”