08/06/2022 - 11:04
Catedrais e capelas desempenharam papéis vitais no desenvolvimento da cultura cristã.
Como estudioso da Bíblia, do judaísmo e do cristianismo, aprendi a importância histórica dessas estruturas e o papel central que elas desempenham na prática da fé de muitos cristãos.
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Arquitetura cristã primitiva
As catedrais e as capelas não são apenas um espaço para o culto, mas também são recipientes para a exibição de iconografia e arte religiosa.
Até o início do século 4 d.C., grande parte da arte cristã primitiva e do espaço para adoração ocorria em catacumbas – locais subterrâneos onde os cristãos enterravam membros de sua comunidade.
Tradicionalmente, pensava-se que os cristãos usavam essas catacumbas devido às perseguições do governo romano. No entanto, tais perseguições eram periódicas e não sustentadas. Outras explicações foram oferecidas sobre o uso regular das catacumbas como resultado.
De qualquer forma, tais túmulos tornaram-se repositórios de expressões artísticas nas primeiras décadas da religião.
Cenas proeminentes incluem representações da Bíblia que destacavam a libertação da morte.
Representações de Jesus de Nazaré aparecem nessas catacumbas, mas muitas vezes pegando emprestada a imagem do deus grego Hermes, que funcionava como uma divindade mensageira, bem como condutora de almas na vida após a morte.
A cruz como um símbolo amplamente exibido da fé cristã se tornaria mais frequente somente depois que o imperador romano Constantino se converteu ao cristianismo no século 4 d.C.
Desenvolvimento de catedrais
Com o apoio imperial, os cristãos começaram a construir seus locais de culto, conhecidos como “churches” (“igrejas”) do grego kuriake, “pertencente ao senhor”, acima do solo.
Tais práticas de construção foram emprestadas de duas áreas principais de precursores: templos antigos e locais de administração romana.
Templos antigos em todas as culturas, incluindo o de Jerusalém, geralmente eram vistos como espaços onde o deus ou a deusa vivia.
Muitos cristãos antigos e modernos acreditam que Jesus está fisicamente presente na comunhão – o ritual que em alguns pensamentos cristãos envolve a transformação real de pão e vinho no corpo e sangue de Jesus.
Como tal, catedrais como a Basílica de San Vitale na Itália, construída no século 6 d.C., contêm mosaicos para retratar Jesus como realmente presente em comunhão. Esses edifícios exploram uma história religiosa amplamente difundida de que a divindade habita o lugar sagrado.
Muitos desses antigos templos pré-cristãos, incluindo o Templo de Jerusalém, eram orientados do leste para o oeste. As catedrais cristãs, em sua maior parte, tanto no mundo antigo quanto no moderno, também usavam esse eixo leste-oeste. Algumas tradições colocavam a comunhão para o leste – chamada de “orientada” – e outras para o oeste – chamada de “ocidentada”.
Notáveis exceções ocorreram, como na Capela Rockefeller da Universidade de Chicago, originariamente uma escola batista, cuja capela é orientada de norte a sul.
A segunda fonte principal para as primeiras igrejas cristãs foram os edifícios administrativos romanos. O próprio nome catedral significa “sede” e na sociedade romana era referido ao local onde os governadores julgariam e supervisionariam seus distritos. Quando o papa fala de sua sede de poder, ele fala “ex cathedra”.
Os templos romanos tinham uma estrutura diferente, mas a basílica romana, com suas ressonâncias de governança e apoio imperial, foi escolhida, juntamente com a orientação leste-oeste dos templos antigos, como o projeto básico para tais catedrais.
Como surgiram as capelas
Em contraste com os projetos muitas vezes grandes e impressionantes das catedrais, as capelas no cristianismo representam uma concepção de adoração religiosa em menor escala.
O termo capela deriva de Martinho de Tours, um bispo da igreja primitiva da França que usava uma capa enquanto passava por um homem pobre. Martinho lembrou-se das palavras de Jesus no Evangelho de Mateus de que ajudar os pobres era, na verdade, ajudar e adorar a Deus. Martinho deu ao pobre seu manto e o indigente se revelou ser o próprio Jesus.
Pensou-se que pedaços desse manto, tendo tocado em Jesus, tinham um significado especial. Como resultado, pequenas estruturas foram construídas para abrigá-los. Essas pequenas estruturas eram conhecidas como capelas, derivadas do latim capella para “pequeno manto”.
Esses espaços de culto não tinham instrumentos musicais para acompanhar o culto. Como resultado, a expressão a capella, que significa “de acordo com a capela” ou “no estilo da capela”, reflete a maneira de culto na pequena igreja.
* Samuel L. Boyd é professor assistente na Universidade do Colorado em Boulder (EUA).
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.