Catedrais e capelas desempenharam papéis vitais no desenvolvimento da cultura cristã.

Como estudioso da Bíblia, do judaísmo e do cristianismo, aprendi a importância histórica dessas estruturas e o papel central que elas desempenham na prática da fé de muitos cristãos.

Arquitetura cristã primitiva

As catedrais e as capelas não são apenas um espaço para o culto, mas também são recipientes para a exibição de iconografia e arte religiosa.

Até o início do século 4 d.C., grande parte da arte cristã primitiva e do espaço para adoração ocorria em catacumbas – locais subterrâneos onde os cristãos enterravam membros de sua comunidade.

Tradicionalmente, pensava-se que os cristãos usavam essas catacumbas devido às perseguições do governo romano. No entanto, tais perseguições eram periódicas e não sustentadas. Outras explicações foram oferecidas sobre o uso regular das catacumbas como resultado.

De qualquer forma, tais túmulos tornaram-se repositórios de expressões artísticas nas primeiras décadas da religião.

Ritual fúnebre cristão numa catacumba, em tela de Jules Eugène Lenepveu (1855). O corpo de um mártir está prestes a ser colocado em seu lóculo escavado na parede enquanto a congregação participa do serviço religioso. Crédito: Jules Eugène Lenepveu/Musée d’Orsay, Paris

Cenas proeminentes incluem representações da Bíblia que destacavam a libertação da morte.

Representações de Jesus de Nazaré aparecem nessas catacumbas, mas muitas vezes pegando emprestada a imagem do deus grego Hermes, que funcionava como uma divindade mensageira, bem como condutora de almas na vida após a morte.

A cruz como um símbolo amplamente exibido da fé cristã se tornaria mais frequente somente depois que o imperador romano Constantino se converteu ao cristianismo no século 4 d.C.

Desenvolvimento de catedrais

Com o apoio imperial, os cristãos começaram a construir seus locais de culto, conhecidos como “churches” (“igrejas”) do grego kuriake, “pertencente ao senhor”, acima do solo.

Tais práticas de construção foram emprestadas de duas áreas principais de precursores: templos antigos e locais de administração romana.

Templos antigos em todas as culturas, incluindo o de Jerusalém, geralmente eram vistos como espaços onde o deus ou a deusa vivia.

Muitos cristãos antigos e modernos acreditam que Jesus está fisicamente presente na comunhão – o ritual que em alguns pensamentos cristãos envolve a transformação real de pão e vinho no corpo e sangue de Jesus.

Como tal, catedrais como a Basílica de San Vitale na Itália, construída no século 6 d.C., contêm mosaicos para retratar Jesus como realmente presente em comunhão. Esses edifícios exploram uma história religiosa amplamente difundida de que a divindade habita o lugar sagrado.

Mosaico na Basílica de San Vitale, em Ravena. Crédito: Leon Petrosyan/Wikimedia Commons

Muitos desses antigos templos pré-cristãos, incluindo o Templo de Jerusalém, eram orientados do leste para o oeste. As catedrais cristãs, em sua maior parte, tanto no mundo antigo quanto no moderno, também usavam esse eixo leste-oeste. Algumas tradições colocavam a comunhão para o leste – chamada de “orientada” – e outras para o oeste – chamada de “ocidentada”.

Notáveis ​​exceções ocorreram, como na Capela Rockefeller da Universidade de Chicago, originariamente uma escola batista, cuja capela é orientada de norte a sul.

A segunda fonte principal para as primeiras igrejas cristãs foram os edifícios administrativos romanos. O próprio nome catedral significa “sede” e na sociedade romana era referido ao local onde os governadores julgariam e supervisionariam seus distritos. Quando o papa fala de sua sede de poder, ele fala “ex cathedra”.

Os templos romanos tinham uma estrutura diferente, mas a basílica romana, com suas ressonâncias de governança e apoio imperial, foi escolhida, juntamente com a orientação leste-oeste dos templos antigos, como o projeto básico para tais catedrais.

Capela em Tartu, Estônia. Crédito: Amadvr/Wikimedia Commons

Como surgiram as capelas

Em contraste com os projetos muitas vezes grandes e impressionantes das catedrais, as capelas no cristianismo representam uma concepção de adoração religiosa em menor escala.

O termo capela deriva de Martinho de Tours, um bispo da igreja primitiva da França que usava uma capa enquanto passava por um homem pobre. Martinho lembrou-se das palavras de Jesus no Evangelho de Mateus de que ajudar os pobres era, na verdade, ajudar e adorar a Deus. Martinho deu ao pobre seu manto e o indigente se revelou ser o próprio Jesus.

Pensou-se que pedaços desse manto, tendo tocado em Jesus, tinham um significado especial. Como resultado, pequenas estruturas foram construídas para abrigá-los. Essas pequenas estruturas eram conhecidas como capelas, derivadas do latim capella para “pequeno manto”.

Esses espaços de culto não tinham instrumentos musicais para acompanhar o culto. Como resultado, a expressão a capella, que significa “de acordo com a capela” ou “no estilo da capela”, reflete a maneira de culto na pequena igreja.

* Samuel L. Boyd é professor assistente na Universidade do Colorado em Boulder (EUA).

** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.