01/08/2008 - 0:00
Por James Hansen
Climatologista, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (Nasa).
Dois ou três graus centígrados a mais e a Terra será um planeta comple- Dtamente diverso. O ar se tornará nauseabundo e irrespirável em muitos pontos do globo. Os oceanos estarão poluídos por mercúrio e microscópicos grãos de carvão. Ninguém mais ousará comer peixes.
O panorama que se instala é desolador. A seca e os focos de incêndio se intensificam e se banalizam nas regiões mediterrâneas, no oeste dos Estados Unidos, no Brasil Central, na Austrália e na maior parte da África. Nas regiões tropicais, chuvas torrenciais, outrora sazonais, se multiplicam e o solo não consegue mais absorvêlas. Inundações colossais acontecem com crescente freqüência.
Alimentados pelo calor e pelo aumento da vaporização, furacões, tufões, tornados e tempestades são cada vez mais poderosos. Novos monstros espalham o terror: tempestades de categoria 6 aparecem em toda parte, deixando atrás delas territórios inteiros devastados.
O problema mais grave, no entanto, acontece quando o ponto de ruptura climática é superado no oeste da Antártica. O oceano aquecido funde a espessa banquisa de gelo que serve de defesa e anteparo. Ele entra em contato com a camada de gelo continental. Ela começa a derreter sem que possamos impedir. O nível do mar sobe a cada dia. As primeiras vítimas do processo são as ilhas de baixa altitude, como o arquipélago de Tuvalu. Os países vizinhos se recusam a acolher os refugiados, responsabilizando os Estados Unidos, a Europa ou a China pelo desastre. Logo, milhões de migrantes abandonam Bangladesh para invadir a Índia e o Paquistão.
A renascença econômica da China vai por água abaixo com a inundação das ricas províncias costeiras de Jiangsu, onde hoje brilha a cidade de Xangai, e de Guangdong, onde fica Hong Kong. O caos político, econômico e social se instala na Europa, onde os habitantes das planícies da Bélgica e dos Países Baixos fogem ante a subida das águas. Os Estados Unidos pagam caro por serem o principal emissor de gases de efeito estufa e por terem negado as evidências do aquecimento global. A infra-estrutura da Flórida jaz debaixo d’água. As principais cidades do litoral do Estado são devastadas. Em Washington, pouco antes que a Casa Branca seja submersa, o Capitólio é transferido para a Califórnia. Mas esse Estado também está em crise: nele, a água potável tornou-se rara devido ao desaparecimento das geleiras, os incêndios se multiplicam, as praias são submergidas.
Essas visões de pesadelo podem não se tornar realidade. Qual é a alternativa? Um futuro no qual teremos reduzido drasticamente o consumo, hoje incontrolável, de combustíveis fósseis. O carvão não é mais utilizado, a não ser em usinas totalmente limpas que capturam e seqüestram o dióxido de carbono, o mercúrio e todos os outros produtos contaminadores. O preço crescente das emissões de CO2 estimulou a proliferação de idéias, de inovações, de novas tecnologias e de novos ofícios na área da eficiência energética e das fontes de energias limpas renováveis.
Mas não é certo que esse futuro alternativo ainda seja possível. As pessoas essenciais para implementá-lo são, em sua maioria, capitães da indústria cuja influência sobre o governo americano é enorme. Até agora, a atitude deles – particularmente dos que dirigem companhias ligadas ao petróleo, como a Exxon Mobil – tem sido a simples negação dos fatos. Eles financiam, para tanto, alguns “bufões da corte” que negam a ciência e embaralham a mente do público.
Que podem fazer os cidadãos? Caminhar em lugar de dirigir seus carros, mas isso não vai ajudar muito. Haverá sempre alguém pronto a queimar as reservas de petróleo até a última gota. Como revanche, cada um de nós poderá clamar contra o aquecimento exigindo, por exemplo, uma moratória da implantação de toda nova usina de carvão. Enquanto não chegarmos a implementar usinas limpas, enquanto não formos capazes de capturar e de estocar o CO2, o carvão de origem vegetal permanecerá a fonte da maioria dos problemas climáticos. Mesmo nos países “verdes”, como a Alemanha, os líderes ainda não compreenderam bem o problema.
Não devemos mais permitir que interesses financeiros privados decidam sozinhos a respeito do nosso futuro. Antes de dar seu voto a um político, procure saber qual é a sua verdadeira posição! Não se satisfaça com simples promessas feitas com a maior carade- pau. Pergunte a esse candidato se ele vai realmente impedir a construção de novas usinas de carvão e lutar por uma política favorável às fontes renováveis de energia.
A fragmentação (como a observada nessa parte do litoral do Djibuti, na África Oriental) e a reunião das grandes massas de terra constituem um fenômeno recorrente na superfície do nosso planeta.
Os CONTINENTES voltarão a se reunir?
im. Isso é inevitável: teremos um gigantesco continente cercado por um oceano mundial. Quando? Em 250 milhões de anos. É o que afirmam trabalhos de geodinâmica baseados no movimento atual dos continentes. Mas trata-se apenas de especulações, impossíveis de ser verificadas. Sabemos hoje que, pelo menos três vezes no passado, os continentes se reuniram e voltaram a se separar. A última vez foi há 300 milhões de anos. O supercontinente que então existia, Pangea, começou a se fragmentar há cerca de 200 milhões de anos. Antes desse episódio, outro continente único – batizado Rodínia – já se partira em pedaços, há cerca de 750 milhões de anos. Foi também formulada a hipótese de que a Terra tenha conhecido dois outros episódios desse tipo: o deslocamento desses supercontinentes dos primeiros tempos teria acontecido há cerca de 1,8 bilhão de anos e há 2,7 bilhões de anos, quando nosso planeta tinha respectivamente 60% e 40% da sua idade atual.
Especialistas em geodinâmica criaram um modelo computadorizado do movimento de cinco continentes de mesmo tamanho, deslocando-se de modo aleatório a uma velocidade de 100 milímetros por ano. (Para comparação, a placa do Pacífico corre a 120 milímetros por ano, e há 45 milhões de anos a Índia deslizava a 150 milímetros por ano.) Pelos cálculos, serão necessários cerca de 450 milhões de anos para que esses continentes convirjam e se reúnam. O motor de todas essas danças telúricas é a atividade interna do nosso globo. O calor – tanto o herdado da sua formação por agregação quanto aquele desprendido pela radiatividade das rochas terrestres – não se dissipa da mesma maneira se os continentes estão reunidos ou dispersos. Assim, um supercontinente forma uma espécie de escudo térmico que impede a dissipação do fluxo de calor terrestre. Esse processo produz necessariamente, ao longo do tempo, a fragmentação do supercontinente em vários pedaços. Acontece então o início de um novo ciclo de Wilson, assim batizado em homenagem a John Tuzo Wilson (1908-1993), geofísico canadense que emitiu a primeira hipótese dessa reunião periódica dos continentes.
Em 2004, a produção mundial derivada da pesca e da aqüicultura chegou a 140 milhões de toneladas, das quais 106 milhões foram utilizados para o consumo humano e a quase totalidade do restante foi transformada em óleos e farinhas. O peixe, dessa forma, assegurou pelo menos 20% da ração diária de proteínas animais para mais de 2,6 bilhões de pessoas.
O futuro dos peixes, no entanto, mostrase muito frágil e incerto. O grande impulso da pesca marítima depois de 1945 chegou ao fim no decorrer dos anos 1980. Hoje, a metade dos recursos pesqueiros ainda é explorada no máximo das suas possibilidades. Uma quarta parte desses recursos já está esgotada. Durante os anos 1990, a aqüicultura (geralmente de água doce ou salobra) emergiu como uma boa alternativa. Mas, organizada longe dos litorais das nações desenvolvidas (trata-se de uma atividade altamente poluidora!), 90% dessa aqüicultura é realizada em países da Ásia e do Pacífico (70% apenas na China).
Se quisermos manter (ou incrementar) a cota de peixe na alimentação humana, será necessário gerar estoques marinhos de modo durável e permitir o desenvolvimento de fazendas de aqüicultura. A pesquisa científica deverá possibilitar a identificação dos critérios de viabilidade dessas atividades nos planos biológico, ecológico e socioeconômico e assegurar, desse modo, não apenas o “futuro do peixe”, mas também o dos pescadores, criadores e consumidores.
A Corrente do GOLFO vai parar?
Não. Do ponto de vista físico, é um exagero imaginar que o aquecimento climático provocará um colapso da Corrente do Golfo. A circulação dessa corrente é guiada em grande parte pelos ventos alísios e por outros ventos que sopram sobre o oceano Atlântico nas latitudes médias. Não vemos, no entanto, nenhum sinal de que as mudanças climáticas vão sustar o movimento dos ventos. Em resposta, uma redução da circulação profunda dos oceanos pode realmente se produzir, da mesma forma que uma diminuição do transporte do calor e da capacidade de absorver o CO2. Isso, por seu lado, poderia representar um impacto significativo sobre o clima e o nível dos oceanos. Com o aumento das emissões de CO2 (devido à indústria, aos transportes e a outros fatores) e, portanto, do aquecimento global, haverá também um aumento da quantidade de vapor d’água na atmosfera e das chuvas em numerosas regiões, bem como um forte acúmulo dos gelos terrestres. Dessa forma, a quantidade de água doce nos oceanos vai aumentar, fazendo o nível do mar subir. Nas regiões polares, a descida das águas frias para as profundezas oceânicas será dificultada.
Segundo as projeções atuais, as grandes correntes profundas, bem como a circulação oceânica em escala global, poderiam ser retardadas em até 30%, de hoje até o final do século. A história da parada da Corrente do Golfo remonta a modelos precedentes bem mais catastróficos. Hoje em dia, acredita-se que somente o desaparecimento total da banquisa da Groenlândia poderia levar a uma situação tão dramática.
A Terra pode suportar 9 BILHÕES de pessoas?
SIM A pretensa superpopulação e o limite das superfícies cultiváveis – duas acusações habituais desde os tempos de Malthus – não desempenham nenhum papel nesse suposto drama.
No nosso planeta, os homens colhem 10 petacalorias (uma petacaloria ou Pcal = 1015 calorias, ou seja, um milhão de bilhões) de origem vegetal por ano, das quais 7,4 são de cereais. Mas consomem apenas 3 Pcal dessas últimas, ou seja, bem menos da metade. Onde foi parar o resto dos cereais? Cerca de um quarto perde-se durante a estocagem (insetos, podridão, etc.), restando, portanto, apenas 5,5 Pcal disponíveis. As 2,5 Pcal faltantes são fáceis de encontrar:
45% dos cereais produzidos na Terra servem para a engorda de animais domésticos que produzem uma caloria de carne para cada dez calorias de cereais ingeridos. No prato, as 2,5 Pcal de cereais fornecidos a animais representam apenas 0,25 Pcal de bife ou de presunto! Não é preciso, portanto, ir muito longe para encontrar o 0,4 Pcal que poderia assegurar uma refeição decente a todo ser humano. As cifras precedentes mostram que atingiríamos esse objetivo reduzindo entre 20 e 25% as perdas durante a estocagem (esse foi, por sinal, o caminho escolhido pela Índia) ou diminuindo em 20% a parte dos cereais destinada aos animais (por exemplo, reduzindo em 20% o consumo mundial de carne). Mas está acontecendo o contrário, por causa do apetite crescente das classes médias dos grandes países emergentes – o Brasil, a China, a Indonésia e até mesmo a Índia das vacas sagradas. Conclusão: mesmo que a Terra possua 9 bilhões ou apenas 1 bilhão de habitantes, se continuarmos a utilizar 45% dos cereais para alimentar os animais, a fome atingirá a mesma proporção de humanos. E as coisas correm o risco de piorar ainda mais com a moda dos biocombustíveis feitos à base de cereais como a soja e o milho.
Diante desse quadro, o demógrafo pode simplesmente dizer: não culpem a população. Vocês estão errando o alvo!
NÃO Qualquer população, não importa de qual espécie seja, não pode crescer indefinidamente. Essa regra enunciada por Malthus no final do século 18 estipula que a população aumente até a saturação da sua subsistência. A noção recente de cunho ecológico fez perceber que os países desenvolvidos já ultrapassaram o nível de vida que permitiria uma existência em equilíbrio com a natureza. Se o conjunto do planeta consumisse tanto quanto eles, a população mundial não poderia superar 2,5 bilhões! Quando os recursos não-renováveis – petróleo, urânio, carvão, etc. – estiverem esgotados, a população mundial deverá diminuir pela metade ou consumir duas vezes menos…
No meio dos anos 1980, os demógrafos já constatavam que a evolução da população não era mais exponencial. Eles inventaram então a expressão “transição demográfica”, ilustrando a passagem de um regime de forte fecundidade e forte mortalidade para um regime de fraca fecundidade e fraca mortalidade.
Mas ainda não há certeza de que a mortalidade continue a decrescer. Por três razões. Primeiro, o estado sanitário médio da população mundial não melhora. As causas disso são os novos agentes infecciosos (Aids, vírus Ebola, gripe aviária, etc.), associados a antigas ameaças, como a gripe pandêmica, a malária, a tuberculose, ou outras mais recentes, como o estresse e a poluição. A segunda razão se deve às mudanças climáticas. Certas regiões do planeta se tornarão inabitáveis. Elas terão o mesmo destino do deserto do Saara, que era uma savana verdejante há 15 mil anos e se tornou um deserto. Sem dúvida, a comunidade internacional, como sempre fazendo de conta que as socorre, abandonará à sua triste sorte as legiões de “refugiados climáticos”. Por fim, o papy-boom (a explosão do número de idosos aposentados devido ao aumento da expectativa de vida nas sociedades desenvolvidas) e as conseqüências econômicas da dependência irão pesar muito sobre as gerações futuras. Elas correm o risco de não ver sua expectativa de vida prolongada na medida que prometem os demógrafos.
Jane Goodall
Uma das grandes primatologistas da atualidade, especializada em chimpanzés, diretora do Instituto Jane Goodall
Será o fim dos GRANDES PRIMATAS?
Ainda podemos agir. No começo da década de 1980, percebi a que ponto a destruição do meio natural acarretava o desaparecimento de numerosos animais da África, particularmente os chimpanzés. Abandonei então a floresta e o meu trabalho de pesquisadora para alertar o mundo inteiro. Comecei pela África, onde vi o quanto as dificuldades desse continente estavam inextricavelmente ligadas ao modo de vida de um mundo ocidental absolutamente não sensibilizado para o desenvolvimento sustentável.
Compreendi que de nada serve lutar para salvar uma única espécie, ou a floresta na qual ela vive. Tudo está ligado, e é necessário enfrentar todos esses problemas ao mesmo tempo.
Graças aos chimpanzés, comecei a me dirigir aos mais jovens e pude tocar o coração de milhões de crianças. Isso constitui hoje um programa intitulado Roots and Shoots (Raízes e Brotos), que se inspira no pequeno broto que começa a crescer em direção ao sol e acaba por se tornar uma árvore. Por meio do Instituto Jane Goodall (www.janegoodall.org), pusemos em prática diferentes programas, sobretudo escolares, e segundo as idades dos estudantes, desde o jardim da infância até a universidade. Criamos também grupos em grandes empresas, em campos de refugiados e até em prisões. Cada grupo concebe três projetos diferentes. O primeiro tem por objetivo implementar alguma ação útil na sua própria comunidade. Numa escola, por exemplo, auxiliando aqueles que têm dificuldades para aprender a ler e a escrever; na comunidade, ajudando as pessoas idosas a viver melhor o seu cotidiano e a romper a solidão; numa empresa, estimulando a triagem dos dejetos e uma utilização moderada dos recursos; para em seguida socorrer as vítimas de injustiças ou de catástrofes naturais, em algum lugar do mundo.
O segundo projeto consiste em conduzir uma ação destinada a melhorar a vida dos animais, e não unicamente dos animais de estimação. Enfim, o terceiro projeto se organiza ao redor de iniciativas de proteção ambiental. Alguns me dizem que, quando se vê o horror que nos circunda, percebe-se que a situação não tem esperança. Mas, ao mesmo tempo, vejo que há em toda parte, sempre, pequenos grupos de pessoas apaixonadas que, às vezes correndo risco de vida – e em alguns casos elas efetivamente a perdem -, fazem tudo o que podem para corrigir essa situação, e lutam pela justiça social e pela proteção do meio ambiente.
O campo MAGNÉTICO da Terra vai se inverter?
Embora se saiba que desde cerca de mil anos atrás a intensidade do campo magnético terrestre diminui, a hipótese de uma inversão desse campo está longe de ser estabelecida. As técnicas mais recentes de arqueomagnetismo demonstram que essa intensidade era uma vez e meia maior nos tempos do Império Romano. Sabemos que o campo magnético da Terra, que orienta as bússolas na superfície do planeta, varia ao longo do tempo. Sua direção também muda, o que se traduz por um deslocamento do pólo norte magnético. Sua intensidade também varia; hoje, esse escudo que nos protege das altas radiações provenientes do Sol se enfraquece em toda parte.
Na metade do século 20, descobrimos que o campo magnético da Terra se inverteu várias vezes no passado: durante os últimos 100 milhões de anos, quase 170 variações aconteceram, e a metade delas levou a uma inversão do campo. Ou seja, o pólo norte magnético se encontrou nas proximidades do pólo sul geográfico.
Ao examinarmos velhas rochas, podemos reconstituir as inversões desse campo. Com efeito, as partículas imantadas na lava e nos sedimentos maleáveis se orientam na direção do campo magnético ambiente e, ao se resfriarem e endurecerem, “congelam” para sempre essa direção. Pudemos verificar que a passagem de um campo normal para um campo invertido acontece em alguns poucos milhares de anos, um tempo muito curto em relação aos muitos milhares de anos que dura um campo normal ou invertido. Essa inversão é acompanhada, de início, por uma diminuição da intensidade do campo magnético. Depois, rapidamente, a intensidade aumenta ao mesmo tempo que a direção é totalmente alterada. Assim, no decurso dos últimos dez milhões de anos, o campo magnético se deslocou em média quatro a cinco vezes a cada milhão de anos. A última inversão ocorreu há 800 mil anos. Estamos agora num período muito estável. É difícil qualquer previsão a respeito da próxima inversão.
Os SUPERFURACÕES vão se multiplicar?
Os estudos mais recentes provam que as tempestades destruidoras que arrasaram com regularidade algumas regiões tropicais nos últimos anos formaram- se quase sempre quando a temperatura dos oceanos era superior a 26 graus centígrados e a umidade relativa do ar, superior a 70%. Muito bem: que sabemos a respeito do aquecimento dos oceanos e da umidade na atmosfera?
Desde meados do século 20, observa- se um leve aquecimento da atmosfera e dos oceanos, acompanhado da fusão de parte das geleiras. A origem desse aquecimento ainda é incerta, embora tudo leve a crer que ela é antrópica (causada pelo homem). Mas o sistema climático terrestre é muito complexo. Os modelos que tentam simulá-lo devem levar em conta as interações múltiplas entre a radiação solar, a atmosfera, os oceanos, o solo, a vegetação e a poluição, e algumas das suas hipóteses ainda precisam ser verificadas.
Uma demonstração das dificuldades: como constatamos que os oceanos se aquecem, a formação de tempestades deveria se acelerar. Mas, como também a atmosfera se aquece, torna-se muito difícil chegar a uma taxa de umidade igual ou superior a 70%, pois isso exige maiores quantidades de vapor d’água…
Portanto, no final das contas, concluise que a formação de furacões não é favorecida. Esse aspecto nos mostra toda a dificuldade que existe para se estabelecer relações simples entre o oceano, a atmosfera e o surgimento de furacões. Além disso, as condições de temperatura do oceano e a umidade do ar perto da superfície terrestre não constituem os únicos parâmetros que determinam o desencadeamento de uma tempestade tropical: uma baixa temperatura e uma fraca umidade do ar acima de três quilômetros de altitude também constituem fatores importantes. Nas condições descritas pelos modelos mais verossímeis de evolução do clima, nos próximos anos, os furacões não deverão ser forçosamente mais numerosos e mais vigorosos, nem mais violentos do que aqueles observados hoje em dia.
Resta descobrir quantas NOVAS ESPÉCIES?
O número de todas as espécies descritas nos últimos 250 anos, com um sistema verdadeiro de classificação tal como o de Lineu, é de cerca de 1,8 milhão. Desse número, apenas uma pequeníssima fração foi cuidadosamente estudada. Um dos grandes empecilhos ao progresso da pesquisa ambiental é justamente a nossa ignorância em matéria de biodiversidade, particularmente naquilo que diz respeito aos cogumelos, insetos e demais pequenos invertebrados e, acima de tudo, aos microorganismos.
Vivemos sobre um planeta muito mal conhecido. E quando tocamos o tema das mudanças ambientais, aí sim, mergulhamos no nevoeiro mais cerrado.
Os cientistas e o público instruído começam a perceber que seria necessário um esforço intenso no setor da exploração da biodiversidade, em vista de uma melhor utilização e conservação da matéria viva neste planeta. Felizmente, as tecnologias que podem nos ajudar acham-se em pleno desenvolvimento. As bactérias e os outros microorganismos podem, pelo menos, ser rapidamente identificados graças à análise do seu DNA (a análise completa de um genoma pode hoje ser feita em menos de quatro horas). A Enciclopédia da Vida (Encyclopedia of Life, http://www.eol.org/), inaugurada recentemente, permitirá a coleta de todos os dados existentes relativos aos diversos organismos. Ela ainda está no seu começo, mas foi concebida para fornecer informação exaustiva sobre cada espécie conhecida ou recentemente descoberta. Essa informação estará disponível para todos, a qualquer momento e a partir de qualquer lugar do nosso planeta. Acredita-se que essa enciclopédia deverá permitir a aceleração da exploração da biodiversidade terrestre.
A energia ATÔMICA é inevitável?
Diante das conseqüências do aumento da produção de gases do efeito estufa, a energia atômica se apresenta como uma solução, já que ela realmente emite muito menos CO2 do que a combustão de petróleo, gás ou carvão. Mas, quando examinamos a questão bem de perto, percebemos que ela, na verdade, não é um remédio milagroso. Com efeito, devemos pôr tudo na balança quando se trata de comparar as energias. Para começar, a energia atômica pode causar acidentes graves que afetam grandes territórios durante muito tempo. A seguir, a gestão dos resíduos de longa duração ainda não encontrou uma solução satisfatória. Por fim, a proliferação das armas atômicas permanece como um risco maior para a segurança do mundo, e é falso afirmar que podemos dotar um país de centrais civis sem que algum uso militar seja possível. Por outro lado, deve-se lembrar que a tecnologia nuclear produz somente eletricidade, o que representa apenas entre 20% e 25% do consumo final de energia de um país desenvolvido.
A luta contra a emissão de gasesestufa passa antes por uma política de economia e de busca de uma maior eficiência energética. A seguir, será preciso recorrer cada vez mais a formas de energia renovável. Enfim, investir em centrais térmicas de carvão de ciclo combinado, ou seja, que reutilizem o calor emitido para a fabricação da eletricidade e que terão de ser dotadas de sistemas eficazes de despoluição.
Linha do tempo
1948 – Criação da União Internacional para a Conservação da Natureza. – Na França, Auguste Piccard inventa o batiscafo.
1950 – John von Neumann cria o primeiro modelo matemático de meteorologia para computador. – Primeira inseminação artificial de uma vaca.
1956 – Hugo Benioff elabora um plano para a localização de terremotos. – O Mundo do Silêncio, filme de Louis Malle e Jacques- Yves Cousteau, ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
1960 – Lançamento do Tiros 1, satélite meteorológico norte-americano.
1961 – Harry Hess e Robert Dietz lançam a hipótese da expansão dos fundos oceânicos. – Criação do WWF, o Fundo Mundial da Natureza.
1962 – Norman Borlaug obtém variedades de trigo de alto rendimento que possibilitarão a “revolução verde” na Índia.
1967 – Naufrágio do navio Torrey Canyon causa a primeira grande “maré negra” nas costas britânica e francesa.
1968 – O americano Jason Morgan e o francês Xavier Le Pichon lançam a teoria das placas tectônicas.
1970 – Jason Morgan propõe a sua teoria dos “pontos quentes”.
1971 – Fundação da ONG Greenpeace, em Vancouver, Canadá.
1972 – Criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD).
1973 – O etólogo austríaco Konrad Lorenz ganha o prêmio Nobel de fisiologia e de medicina.
1974 – Aceleração do programa nuclear francês em seguida ao primeiro choque do petróleo em 1973.
1975 – No Brasil, lançamento do programa Proálcool, combustível alternativo. – Convenção de Washington sobre o comércio dos animais e das plantas selvagens.
1978 – Grande maré negra no litoral de Finistère (França), devido a vazamento do navio petroleiro Amoco Cadiz.
1979 – Acidente nuclear de Three Mile Island, Estados Unidos.
1980 – Erupção do vulcão do Monte Santa Helena, nos Estados Unidos, com explosão 500 vezes maior do que a bomba atômica de Hiroshima.
1982 – O fenômeno El Niño torna-se manchete dos jornais e revistas.
1984 – Catástrofe química de Bhopal, na Índia, provoca 8 mil mortes em apenas 3 dias.
1985 – Descoberto um enorme buraco na camada de ozônio sobre a Antártica.
1986 – Catástrofe de Chernobyl, na União Soviética.
1989 – O petroleiro Exxon Valdez vaza e provoca uma imensa maré negra no Alasca.
1990 – Conferência Mundial sobre o Clima em Haia, na Holanda. Ela revela o efeito dos gasesestufa.
1991 – Erupção do vulcão Pinatubo, nas Filipinas, a maior do século 20, altera o clima mundial por cerca de dois anos.
1992 – Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro.
1997 – Protocolo de Kyoto sobre a redução de gases de efeito estufa.
1999 – A população da Terra chega aos 6 bilhões de indivíduos.
2002 – 23.750 km2 da Floresta Amazônica desaparecem.
2003 – Verão escaldante na Europa; cerca de 15 mil pessoas morrem na França pelo calor.
2002 – As culturas de plantas transgênicas no mundo chegam a 102 milhões de hectares.