26/05/2021 - 13:18
Quantos anos duraria no máximo um ser humano? De acordo com pesquisadores internacionais, a idade máxima possível para nossa espécie estaria entre 120 e 150 anos. O artigo que apresenta esses resultados foi publicado na revista Nature Communications.
O envelhecimento está associado ao declínio funcional progressivo e aumento do risco de doenças crônicas. Uma vez que determinar a idade biológica é complexo e não necessariamente se correlaciona com a idade cronológica, os pesquisadores usaram marcadores sanguíneos, metilação do DNA ou outras medidas para desenvolver biomarcadores e preditores de envelhecimento, que também poderiam ser usados clinicamente para determinar a eficácia de intervenções antienvelhecimento.
O novo estudo foi realizado por pesquisadores da Gero PTE (empresa de biotecnologia sediada em Singapura) e do Roswell Park Comprehensive Cancer Center (EUA). Eles usaram dados longitudinais de hemograma humano do National Health and Nutrition Examination Survey (EUA) e do UK Biobank (Reino Unido).
Idade biológica e resiliência
Os autores caracterizaram a dinâmica dos parâmetros fisiológicos em escalas de tempo da vida humana por um conjunto mínimo de dois parâmetros. O primeiro é um valor instantâneo, muitas vezes referido como a idade biológica. Ele é exemplificado no trabalho pelo indicador dinâmico do estado do organismo (Dosi, na abreviatura em inglês). Associado a estresses, estilos de vida e doenças crônicas, o índice pode ser calculado a partir de um exame de sangue padrão.
O outro parâmetro – a resiliência – é novo e reflete as propriedades dinâmicas das flutuações de estado do organismo. Ele informa a rapidez com que o valor do Dosi volta ao normal em resposta ao estresse.
As informações reunidas revelaram que os seres humanos saudáveis mostraram-se muito resistentes. Enquanto isso, a perda de resiliência foi relacionada a doenças crônicas e a riscos elevados de mortalidade por todas as causas.
A taxa de recuperação para o nível de linha de base de equilíbrio após as tensões se deteriorou com a idade. Consequentemente, o tempo necessário para se recuperar foi ficando cada vez mais longo. O tempo de recuperação, de cerca de 2 semanas para adultos saudáveis de 40 anos, estendeu-se para 6 semanas nos casos de pessoas com 80 anos em média na população. A descoberta foi confirmada em dois conjuntos de dados diferentes com base em dois tipos diferentes de medições biológicas – parâmetros de teste de sangue por um lado e níveis de atividade física registrados por dispositivos vestíveis por outro.
Capacidade de se recuperar diminuída
“O cálculo de resiliência com base em fluxos de dados de atividade física foi implementado no aplicativo GeroSense para iPhone e disponibilizado para a comunidade de pesquisa via API baseada na web”, afirmou Timothy Pyrkov, chefe do projeto mHealth na Gero PTE e primeiro autor do estudo.
Se a tendência se mantém em idades posteriores, a extrapolação mostra uma perda completa da resiliência do corpo humano, ou seja, a capacidade de se recuperar, em alguma idade em torno de 120-150 anos. A resiliência reduzida foi observada mesmo em indivíduos que não sofriam de doenças crônicas importantes e levou ao aumento na amplitude das flutuações dos índices fisiológicos. À medida que envelhecemos, cada vez mais tempo é necessário para nos recuperarmos após uma perturbação. Além disso, gastamos em média cada vez menos tempo perto do estado fisiológico ideal.
A perda de resiliência prevista, mesmo nos indivíduos mais saudáveis e com maior envelhecimento bem-sucedido, pode explicar por que não vemos um aumento evidente da expectativa de vida máxima, enquanto a média de vida cresceu continuamente nas últimas décadas. As flutuações divergentes dos índices fisiológicos podem significar que nenhuma intervenção que não afete o declínio da resiliência pode efetivamente aumentar a expectativa de vida máxima e, portanto, pode levar apenas a um aumento incremental da longevidade humana.
Processo complexo
O envelhecimento em humanos é um processo complexo e de várias fases. Seria, portanto, difícil compactar esse processo em um único número, como a idade biológica. O trabalho liderado pela Gero mostra que os estudos longitudinais abrem uma nova janela no processo de envelhecimento e produzem biomarcadores independentes do envelhecimento humano, adequados para aplicações em gerociência e futuros ensaios clínicos de intervenções antienvelhecimento.
“O envelhecimento em humanos exibe características universais comuns a sistemas complexos que operam à beira da desintegração. Este trabalho é uma demonstração de como conceitos emprestados das ciências físicas podem ser usados na biologia para sondar diferentes aspectos da senescência e da fragilidade com o objetivo de produzir fortes intervenções contra o envelhecimento”, disse Peter Fedichev, cofundador e CEO da Gero.