15/06/2025 - 16:14
Os altos níveis de enriquecimento de urânio iraniano revelam caminho para o armamento nuclear. Teerã defende que programa tem fins pacíficos.O conflito em curso entre Israel e Irã teve início na última sexta-feira (13/06) após uma rápida escalada de tensões envolvendo a capacidade nuclear iraniana.
Em uma primeira onda de ataques, o governo israelense mirou instalações de enriquecimento de urânio e argumentou que Teerã estava próxima de desenvolver uma bomba nuclear.
Os ataques aconteceram em meio a negociações entre o país persa e os Estados Unidos para redesenhar um acordo nuclear e impedir o desenvolvimento de armamentos deste tipo.
Embora Teerã insista que seu programa nuclear tem fins civis, organizações como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertam para o avanço acelerado do enriquecimento de urânio em diversos centros nucleares no país.
Alguns destes centros, porém, foram atingidos por mísseis israelenses. O Irã confirmou danos às instalações nucleares de Fordow, ao sul da capital, e de Isfahan.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirma que o programa nuclear iraniano representa uma “ameaça existencial” para Israel.
Quão avançado está o programa nuclear do Irã?
Existem dois tipos de programas nucleares: civil e militar. Os programas civis são voltados exclusivamente para usinas nucleares com o objetivo de gerar eletricidade, enquanto os militares têm como meta a produção de bombas atômicas.
O regime iraniano afirma que seu programa nuclear tem caráter exclusivamente civil. Muitos especialistas e agências de inteligência ocidentais concordam que, atualmente, o Irã não está construindo uma arma nuclear.
No entanto, o avanço nos níveis de enriquecimento de urânio do Irã pode indicar este objetivo e são motivo de preocupação. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em 3 meses, a República Islâmica dobrou seu estoque de urânio enriquecido a 60% de pureza, chegando a 409 quilos produzidos.
Esse nível de enriquecimento está muito acima do necessário para produção de energia civil, e se aproxima do grau militar. Cerca de 42 quilos seriam suficientes para produzir uma bomba nuclear, caso esse urânio fosse enriquecido a 90%.
Europa e Estados Unidos argumentam que não há razões civis para enriquecer urânio a 60%. De fato, países que chegaram a esse patamar se tornaram produtores de bombas.
Vantagem na negociação ou caminho para bomba atômica?
“Como confirmado pela AIEA, o Irã acelerou seu enriquecimento para 60%, além de um aumento nos testes de mísseis”, afirmou Hans Jakob Schindler, especialista em segurança do Counter Extremism Project, à DW.
Para ele, isso pode indicar uma tentativa do país persa de obter vantagem nas negociações com os EUA. “Mas também é possível interpretar que [Teerã] está correndo em direção a uma [bomba] nuclear”, disse.
As negociações entre Irã e EUA estavam previstas para continuar em Omã, mas foram suspensas devido à recente escalada. Antes do início do bombardeio israelense, o Irã anunciou um novo centro de enriquecimento de urânio em retaliação a uma censura proposta pela AIEA contra seu programa nuclear – a primeira sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) em 20 anos.
Atualmente, não há evidências de que o país tenha conseguido enriquecer seu urânio a 90%. No entanto, especialistas alertam que, dada a quantidade de material acumulado e sua capacidade técnica, o país poderia atingir esse patamar relativamente rápido.
Além disso, o país também precisaria desenvolver uma ogiva funcional e um míssil capaz de transportá-la. Israel alega que identificou avanços do regime iraniano para obter um núcleo de urânio metálico e um iniciador para desencadear uma explosão nuclear.
Programa regrediu após ataques?
Em seus ataques, Israel mirou não apenas instalações nucleares, mas também membros da liderança militar iraniana e cientistas envolvidos no programa nuclear.
Imagens de satélite indicam diferentes níveis de destruição em duas instalações-chave de pesquisa e enriquecimento em Natanz e Isfahan. A AIEA confirmou danos em ambas.
A agência atômica do Irã reconheceu que houve danos também ao centro nuclear de Fordow, ao sul da capital. A extensão total da destruição ainda é incerta.
Walter Posch, especialista em Irã do Instituto de Apoio à Paz e Gestão de Conflitos de Viena, disse à DW que o impacto geral foi grave para o Irã.
“Mais importante do que os generais mortos são, certamente, os cientistas nucleares. [Eles] acompanham o programa [nuclear] desde quase o início, possuem todo o conhecimento institucional”, explicou. Segundo a agência de notícias Reuters, ao menos 14 cientistas nucleares iranianos morreram até o momento em ataques de Israel.
“Eles desempenham um papel fundamental. No nível da experiência acadêmica e do conhecimento prático, este é um golpe sério.”
Além das instalações nucleares e das elites militares e científicas, bases de mísseis e refinarias de petróleo também estiveram entre os alvos dos bombardeios.
Por que o Irã tem um programa nuclear?
O programa nuclear iraniano remonta à década de 1950, quando o então governo pró-Ocidente começou a desenvolver um programa civil com a ajuda dos EUA.
Após a Revolução Iraniana de 1979, que trouxe ao poder um governo fundamentalista, cresceram as preocupações internacionais de que Teerã poderia utilizar o programa nuclear para fins militares.
Em 2002, inspetores internacionais descobriram urânio altamente enriquecido na instalação nuclear de Natanz, o que levou à imposição de sanções internacionais.
Em 2015, o Irã firmou um acordo histórico com os EUA e outros países ocidentais, conhecido como Plano Global de Ação Conjunta. O acordo limitava o programa nuclear iraniano e impunha controles rígidos em troca do alívio de sanções.
No entanto, o presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o país do pacto em 2018 durante seu primeiro mandato e impôs novas sanções.
Em resposta, o Irã reduziu gradualmente a implementação do acordo e aumentou seu nível de enriquecimento de urânio, ultrapassando o limite de 3,67% definido pelas potências ocidentais.
Até então, porém, se mantinha parte do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – um acordo amplo referendado por 191 países. O descumprimento iraniano deste tratado levou à censura da AIEA.