10/07/2025 - 18:23
Com fortuna de US$ 57 bi, eles têm mais que 750 milhões de pessoas juntas. Dado é da ONG Oxfam, que alerta que a desigualdade crescente na África está inviabilizando a democracia.As quatro pessoas mais ricas da África detêm, juntas, 57,4 bilhões de dólares (R$ 318,4 bilhões) e são mais ricas que 750 milhões de africanos, ou metade da população do continente, segundo um relatório divulgado nesta quinta-feira (10/07) pela Oxfam, ONG de combate à pobreza e à desigualdade.
A África, que não tinha bilionários no ano 2000, hoje tem 23 deles. E esse grupo viu sua fortuna crescer 56% nos últimos cinco anos, chegando a 112,6 bilhões de dólares (R$ 624,2 bilhões), aponta a Oxfam.
Os 5% mais ricos do continente detêm quase 4 trilhões de dólares (R$ 22,2 trilhões) em riqueza – quase o dobro do PIB brasileiro em 2024, de 2,18 trilhões de dólares, segundo o Banco Mundial. O valor também é mais do que o dobro da riqueza dos 95% restantes que vivem no continente.
Em janeiro, a Oxfam já havia alertado que a riqueza dos bilionários estava crescendo como nunca em todo o mundo.
“A riqueza da África não está em falta. Está sendo desviada por um sistema falho que permite a uma pequena elite acumular fortunas imensas enquanto nega a centenas de milhões até mesmo os serviços mais básicos. Isso é um fracasso total de políticas públicas – injusto, evitável e totalmente reversível”, afirma o diretor da Oxfam no continente, Fati N’Zi-Hassane.
Pobreza na África cresceu maciçamente desde 1990
O relatório da Oxfam aponta que 23 dos 50 países que encabeçam o ranking mundial da desigualdade estão na África. Mas o quadro é pior em termos populacionais: de cada dez pessoas que vivem em extrema pobreza pelo mundo, sete estão no continente. Em 1990, essa relação era de uma para cada dez. Atualmente, quase 850 milhões passam fome.
A ONG afirma que políticas de governo prejudicam os mais pobres e permitem que os ultrarricos acumulem ainda mais riqueza, aprofundando a desigualdade.
“A maioria dos países africanos não está aproveitando plenamente a tributação progressiva para taxar efetivamente os super-ricos e enfrentar a desigualdade”, consta do relatório.
Segundo a Oxfam, os sistemas tributários na África são quase três vezes menos eficientes em redistribuir a renda do 1% mais rico do que a média global.
Um imposto adicional de 1% sobre a riqueza e de 10% sobre a renda do 1% mais rico da África poderia gerar 66 bilhões de dólares (R$ 365,9 bilhões) por ano – mais do que o suficiente para cobrir os déficits de financiamento de uma educação gratuita e de qualidade e garantir o acesso universal à eletricidade, argumentam os autores do relatório.
A ONG estima ainda que a África deixa de ganhar 88,6 bilhões de dólares (R$ 491,1 bilhões) todos os anos por causa de fluxos financeiros ilícitos.
O relatório frisa que a desigualdade inviabiliza a democracia, impede a redução da pobreza e exacerba a crise climática na África. Também destaca que a captura da política pelos ultrarricos mina políticas governamentais em favor dos mais pobres e compromete a efetividade das instituições públicas.
Na Nigéria, maior democracia do continente, por exemplo, a exigência de valores exorbitantes por parte de partidos políticos acaba desencorajando muitos de concorrer a um cargo eletivo. Por outro lado, a prática de compra de votos é relativamente comum.
Quem são os homens mais ricos da África
Em seu relatório, a Oxfam nomeou o bilionário nigeriano Aliko Dangote como o homem mais rico da África, com uma fortuna estimada em 23,3 bilhões de dólares (R$ 128,9 bilhões). O self-made man fundou a Dangote Cement, maior produtora de cimento do continente. Ele também atua nas áreas de fertilizantes e refinaria, e em 2025 ocupa o 83º lugar na lista da Forbes.
Atrás de Dangote estão os sul-africanos Johann Rupert (14,2 bilhões de dólares) e Nicky Oppenheimer (10,2 bilhões de dólares), seguidos pelo egípcio Nassef Sawiris (9,4 bilhões de dólares).
Rupert comanda a empresa de artigos de luxo Richemont, famosa pelas marcas Cartier e Montblanc. Já Oppenheimer é herdeiro de uma família do ramo de mineração de diamantes. Sawiris, por sua vez, é um investidor e herdeiro da família mais rica do Egito.
ra (AFP, ots)